O vocábulo Teotropismo é um
neologismo1 formado com uma palavra grega Theos (Deus)
e tropismo (derivada do termo grego tropo, que pode ser entendido
como movimento). Assim, o termo significa o movimento do Espírito em direção ao
Criador.
Nas plantas, os tropismos são movimentos que
direcionam o crescimento em função de estímulos externos. Classificam-se em
positivos (quando crescem em direção a tais estímulos) e negativos (quando
crescem em direção contrária ao estímulo).
Na fisiologia vegetal são estudados vários
tipos de tropismos, mas, por uma questão de limitação deste artigo, serão
abordados ligeiramente apenas o fototropismo, o geotropismo e
o tigmotropismo. No primeiro, fototropismo, tem-se o
crescimento em direção à luz quando é positivo, em geral os caules; quando
cresce em sentido contrário à luz, o que costuma ocorrer com as raízes, é
negativo.
No segundo, geotropismo, a força
da gravidade da Terra é que domina o movimento, que é positivo quando o
crescimento acontece em direção à gravidade, o que geralmente ocorre com as
raízes, e negativo quando o crescimento é em direção oposta à força da
gravidade, o que se vê, de maneira geral com os caules.
O terceiro, tigmotropismo, caracteriza-se
como crescimento do vegetal em volta de um objeto sólido com o qual entra em
contato.
A razão do artigo sobre Deus e o tropismo,
mais especificamente o positivo, veio de uma bela frase do Espírito Joanna de
Ângelis, no livro Nascente de Bênçãos: Com alegria, o Espírito cresce
na direção de Deus, enriquecendo-se de paz2.
Criados simples e ignorantes, nenhum Espírito
foge indefinidamente do desiderato de perfeição porque esse roteiro foi traçado
pelo próprio Criador, e isso foi lembrado por Jesus em várias passagens do
Evangelho.
Em O Livro dos Espíritos, sob o
tema Escala Espírita3, há importantes explicações sobre
a classificação dos Espíritos (dos imperfeitos aos puros), que não é absoluta,
conforme pondera Kardec na questão 100:
A classificação dos Espíritos se
baseia no grau de adiantamento deles, nas qualidades que já adquiriram e nas
imperfeições de que ainda terão de despojar-se. Esta classificação, aliás, nada
tem de absoluta. Apenas no seu conjunto cada categoria apresenta caráter
definido. De um grau a outro a transição é insensível e, nos limites extremos,
os matizes se apagam, como nos reinos da natureza, como nas cores do arco-íris,
ou, também, como nos diferentes períodos da vida do homem. Podem, pois,
formar-se maior ou menor número de classes, conforme o ponto de vista donde se
considere a questão.
Reafirma-se, pois, que todos caminham para
Deus e o que varia é a velocidade que cada um imprime na estrada evolutiva, com
o veículo do livre-arbítrio relativo. Conforme pondera José Herculano Pires4:
[…] Deus está no homem não apenas como
ideia, mas como a própria essência da criatura. Foi o que sentiu o apóstolo
Paulo quando disse que em Deus vivemos e nele nos movemos. Deus é assim a
essência da existência humana. Por isso, Deus não é o Existente Absoluto apenas
por existir além das nossas dimensões, mas porque determina o homem como
existente e participa da existência humana. O conceito existencial de Deus é o
único adequado a esta fase tormentosa da evolução humana, quando todos os mitos
do passado se despedaçam aos nossos pés para que a Verdade possa escapar do
invólucro dos símbolos e iluminar o mundo novo que está nascendo.
Joanna afirma que com alegria o
homem cresce na direção de Deus. Mas mesmo nas dores de expiações e nas
dificuldades das provas, o movimento também é em direção a Deus porque os
sofrimentos (que Joanna chama de mecanismos de reeducação) das expiações visam
a reeducar o Espírito e os obstáculos a serem transpostos nas provas são
desafios evolutivos para afastar a acomodação.
Assim, mesmo quando o homem fere a Lei de
Justiça, Amor e Caridade e atrasa os passos na direção de Deus, os mecanismos
de reeducação o recolocam no roteiro. E assim é porque, como poetou Castro
Alves na primeira estrofe do poema Marchemos5:
Da
luz do Criador nascemos,
Múltiplas vidas tivemos
Para à mesma luz volver.
Referências:
1- No caso,
emprego de uma nova palavra derivada de outras já existentes. Também se pode
falar em neologismo quando se atribui novo sentido a palavras já existentes na
língua.
2- FRANCO, Divaldo
Pereira. Nascente de bênçãos. Pelo Espírito Joanna de Ângelis. Salvador: LEAL,
2001. cap.16
3- KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Rio de
Janeiro: FEB, 1987. pt. 2, cap. I, q. 100 a 113.
4- PIRES, José
Herculano. Concepção existencial de Deus. São Paulo: Paideia, 2022, cap. Deus
no homem
5- XAVIER,
Francisco Cândido. Parnaso de Além-túmulo. Por Espíritos diversos. Rio de
Janeiro: FEB, 1983. Castro Alves – Marchemos!
(*) Telma Mª S. Machado
Diretora de Comunicação e Delegada da ABRAME
(SE); Graduada em Ciências Biológicas e em Direito; Pós-Graduada em Direito
Processual Público; Juíza Federal da Seção Judiciária de Sergipe; Mestre em
Filosofia e Escritora
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