Maristela, uma senhora ainda jovem, mãe
de dois filhos pequenos, separada do marido, há algum tempo vem lutando
bravamente contra um câncer na região abdominal, com terríveis sofrimentos.
Várias cirurgias, longas sessões de quimioterapia, frequentes internações hospitalares
e dores constantes.
Quando estava bem de saúde, trabalhava
numa loja de confecções e dali obtinha rendimento para o sustento da sua
família, mas agora, doente, viu seus recursos financeiros diminuírem enquanto
suas despesas aumentam frequentemente, motivo que tem levado os amigos e
familiares a socorrê-la, inclusive um grupo de irmãos de uma instituição
espírita, sempre presente na vida dela.
Numa noite, na sessão mediúnica dessa
instituição espírita, em que são socorridos os Espíritos que ainda necessitam
de esclarecimentos e amparo, apresentou-se um Espírito bastante revoltado e
demonstrando fortes desejos de vingança. Fora ele acolhido com muito carinho,
mas suas primeiras palavras foram de revolta e indignação, enquanto o irmão
dialogador tentava acalmá-lo, inicialmente sem muito sucesso, pois ele
retrucava:
– Você não está vendo, sou uma negrinha,
sim, uma negrinha da senzala, sem valor nenhum. Olha o meu estado, pareço mais
um farrapo humano, se é que sou um ser humano, pois os negros não são
considerados gente.
O Espírito era, então, consolado pelo
irmão dialogador, falando que somos todos filhos de Deus, que ela era, sim, uma
filha do Pai Celestial e que a maldade existente na Terra era fruto exclusivo
dos homens. Ela continuava:
– Eu era escrava na casa grande e servia
a sinhá e ao sinhô, mas você sabe né, tinha que servi o Sinhô em todos os seus
desejos e eu “emprenhei”. Quando a sinhá soube se cobriu de ódio. Um dia me
chamou para perto do fogão e, num gesto tresloucado, apanhou o ferro de marcar
o gado, vermelho em brasa e socou na minha barriga. Não consigo dizer ao senhor
a dor terrível que senti, com a queimadura profunda. Depois pediu para o
capataz da fazenda me jogar da senzala, onde eu gritava de dores e aos poucos
fui apodrecendo. Quando já estava quase sem vida, a sinhá determinou que eu
fosse jogada próximo a uma mata onde, ainda com alguma lucidez, sentia as
bicadas dos urubus que comiam o meu corpo. Agora eu encontrei a sinhá, ela
ainda continua uma mulher bonita, sempre achei ela muito bonita, depois de
longos anos de procura, e vou fazer com ela o que ela me fez. Mas o que me
deixa indignada é que ninguém me socorreu quando eu estava apodrecendo, mas
agora vocês estão sempre a ajudando. Ela também está apodrecendo, e vou piorar
a situação dela, para que sinta tudo o que senti.
Nosso irmão dialogador, aos poucos, com
bastante carinho e sensibilidade, foi acalmando aquele Espírito, que há mais de
um século ainda estava preso àquele passado de dor e abandono, informando a ele
que, pela lei de causa e efeito, ninguém precisa exercer qualquer vingança,
pois cada criatura sempre responde pelos atos que pratica.
Aquele Espírito, muito debilitado e
cansado de intensos e longos sofrimentos, fora acolhido fraternalmente pelos
benfeitores espirituais que prestavam serviços naquela instituição espírita,
sendo conduzido para o tratamento adequado que seu quadro exigia.
A sinhá de ontem resgata hoje, por meio
do câncer, os erros cometidos, tendo, obviamente, a oportunidade de reparar os
males praticados, sentindo no próprio corpo a dor que causou no corpo alheio,
conhecendo a lei de ação e reação e aprendendo que a vida nos devolve sempre
aquilo que a ela ofertamos. No entanto, não está desamparada, pois a
solidariedade de muitos tenta diminuir suas agruras.
Em realidade, Deus não castiga ninguém. Cada
um de nós colhe agora a produção que vem da semente que plantamos outrora. E se
a produção não está sendo boa é porque a semeadura também não foi, então, na
atualidade, escolhamos melhores as sementes, para que no futuro nossas
colheitas sejam promissoras.
Fonte: Folha Espírita
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