VISÃO ESPÍRITA DO ABORTO

Por Vera Cristina Marques de Oliveira Millano

A Doutrina Espírita traz a todos que com ela se encontram, orientações, consolo e esperança. É revelação fundamental para que possamos nos livrar da culpa e do remorso, sentimentos que nos aprisionam e inclusive nos abrem as portas para delicados processos obsessivos. Sabemos que Deus sempre nos estará oferecendo oportunidades de reabilitação para nossas faltas. Ante a queda moral pela prática do aborto não se busca condenar aqueles que o praticaram. O que se pretende é evitar, a partir de agora, a execução de um grave engano, de sérias consequências individuais, como para a sociedade, como também evitarmos a sua legalização. Mesmo porque a tarefa desta doutrina é recuperar a pureza, a grandeza e as verdades trazidas pelo maior Espírito que este planeta conheceu que é JESUS. E foi justamente Ele, que, diante da mulher adúltera argumentou:

"Atire a primeira pedra aquele que nunca pecou!" E em seguida disse: "Ninguém te condenou. Eu também não te condeno; vá e não tornes a pecar!", deixando claro que todos terão oportunidade de recomeçar, reparar e reaprender, pois se pudéssemos lembrar de todo nosso passado, nesta e em outras reencarnações, ficaríamos assombrados diante de muitas de nossas atitudes de outrora. A Terra é, pois, um grande hospital onde o engano e a fragilidade são doenças de todos. Mas Deus sempre aguarda os filhos pródigos em sua Casa. E a prova do perdão e da misericórdia de Deus é que Ele permite retornarmos ao plano físico da vida, recomeçar as lições não assimiladas, não aprendidas e com a benção do esquecimento do passado, termos sempre a oportunidade de tentar novamente, recomeçar e desenvolver a prática grandiosa de nos amarmos uns aos outros.

A Bibliografia Espírita é rica em informações que nos ajudam a entender a importância da vida e a valorizar a reencarnação desde o início do seu processo. Recebemos estas informações através das obras da Codificação Espírita, reveladas pelos Espíritos Superiores e organizada por Allan Kardec; através da mediunidade Apostólica de Francisco Cândido Xavier (pelos Espíritos Emmanuel e André Luiz) e do médium Divaldo Pereira Franco (pelo Espírito de Joana de Angelis). A Doutrina Espírita é ciência, filosofia e religião e sua postura diante dos problemas não é pautada em crenças, credos, mas nas revelações transmitidas pelos Espíritos Superiores, confirmadas cientificamente. Milhares de irmãos nossos, que estão no Plano Espiritual já se manifestaram através de diversos médiuns, em diferentes partes do globo Terrestre, comprovando a imortalidade da alma.

Em "O Livro dos Espíritos", encontramos as perguntas 357 à 360, feitas por Allan Kardec aos Espíritos da Equipe Verdade.

Diante destas orientações tão claras a respeito do assunto em questão, vale a pena relembrarmos algumas orientações doutrinárias que nos auxiliarão a entender esta posição firme da equipe do Espírito Verdade em defesa da vida fetal.

A Doutrina dos Espíritos defende o DIREITO DE VIVER, pois VALORIZA A VIDA. Somos Espíritos imortais, criados por Deus simples e ignorantes. A VIDA DO CORPO É TEMPORÁRIA. O ESPÍRITO É IMORTAL. É através da várias encarnações que, no contato com a matéria e através do convívio social, vamos desenvolvendo e educando as faculdades doadas pelo Criador, trabalhando as virtudes, corrigindo nossos defeitos e angariando conhecimentos intelectuais, para que possamos assim desenvolver as duas asas do crescimento e da evolução que são: a ASA DA SABEDORIA e a ASA DA MORAL.

Para evoluir precisamos REENCARNAR.

Na Espiritualidade, no período que antecede a cada reencarnação, assumimos luminosos compromissos, como nos explica o Benfeitor Emmanuel na magistral obra "VIDA E SEXO", capítulo 17.

Portanto, aquele Espírito que o casal comprometeu- se a receber espera ansioso pela nova vida. Uma gestação inclui uma preparação criteriosamente programada. Não sabemos quem é este Espírito que chega de repente em nossas vidas: um grande afeto, alguém que nos foi muito caro, ou um desafeto com quem desejamos ardorosamente nos reabilitarmos. Assumimos compromissos perante nós, Deus e o Espírito que chega. Quando rejeitado, despertado outro lado, sentindo-se traído pelos pais. Temos nestas situações Espíritos aptos e prontos a perdoara irresponsabilidade da mulher ou do casal, mas poderá ocorrer, também, de entregar-se à revolta e ao desespero, pois esta oportunidade foi negada pelo egoísmo dos pais. Poderá tornar-se um grande inimigo, quando perdeu a oportunidade de tornar-se um amigo amoroso, se não sofresse o crime do aborto. Daí surgem inúmeros processos obsessivos com consequências bastante perturbadoras.

Estatísticas comprovam que, infelizmente, a prática de abortamento vem crescendo em nosso país. Nossos jovens estão com uma visão muito materialista da vida, e isto está provocando uma deterioração dos valores humanos. Vale tudo para ser feliz! Mas onde está estatal felicidade, que a cada dia parece tão distante? Não está fora de nós. Está dentro de nós, no encontro com nossos reais compromissos e conquistas que viemos buscar nesta nossa experiência no plano físico.

Conversar e instruir nossos jovens, com diálogo franco e aberto, onde vale a pena esclarecer que: "SE O AMOR É LIVRE, NÃO PODE SER AMOR, PORQUE O AMOR É COM RESPONSABILIDADE". (Francisco Cândido Xavier). O melhor caminho é o uso da sexualidade com a consciência dessa responsabilidade. E é exatamente a atitude responsável dos jovens enamorados que mostrará aos Espíritos a eles ligados que haverá uma oportunidade para a reencarnação mais à frente, em condições muito mais propícias ao bom êxito do projeto que os traz de volta à vida carnal.

A Dra. Priscilla Coleman, professora de Desenvolvimento Humano e Estudos Familiares da "Bowling Green State University", realizou uma pesquisa com 1.000 mulheres para descobrir as diferenças entre as adolescentes que tinham dado à luze as que tinham praticado o aborto diante de uma gravidez inesperada. Ela constatou que as adolescentes que procederam ao aborto manifestaram cinco vezes mais necessidade de ajuda psicológica do que as que tiveram seus filhos. A pesquisadora afirma que "ser mãe na adolescência é inevitavelmente uma experiência que implica dificuldades, mas a ocorrência de problemas psicológicos com a prática do aborto é muito maior do que com a condução da gravidez".

Levar à frente, sozinha, uma gravidez inesperada é realmente um ato de superioridade, que evidencia as verdadeiras heroínas em espírito, por resistirem com coragem às influencias sombrias para a prática do aborto impiedoso. Apesar de a situação ser delicada e envolver dificuldades imensas, tanto a mãe, como o filho são Espíritos que caminham para a evolução e que responderão por seus atos. Na consciência desta mãe apresenta-se a ideia iluminada de que é preferível sofrer as incompreensões e o abandono dos familiares e do parceiro sexual a praticar o aborto.

 

Muitas vezes os pais alegam não se encontrarem preparados para exercer a paternidade e a ocorrência da gravidez provoca rejeição, insegurança, impulso de fuga do Compromisso de assumir um filho, demonstrando ignorância da importância de uma reencarnação para o espírito imortal e dos compromissos indispensáveis que precisamos assumir e realizar com empenho e dedicação. Deixando-se levar pelo egoísmo, estreitam a visão em seus desafios do momento, suas dificuldades, carreira profissional, crises conjugais, preservação da própria liberdade, desemprego e alegam que interromper uma gravidez constitui uma saída menos dolorosa do que assumir um filho que lhe traria dificuldades. Os casais preocupam- se com problemas importantes, mas secundários, deixando sempre para mais tarde a chegada do filho. É uma medida lógica quando usada por meios legais dentro de uma programação honesta. Mas, quando, apesar desses cuidados, a concepção se realiza, julgando que o problema surgiu em hora errada, recorrem ao aborto que não é justo e nem caridoso. Para justificar-se muitas vezes apoiam-se na opinião de juristas e grupos equivocados ou de políticos irresponsáveis, desejosos de ampliar popularidade, que ainda desconhecem as Leis Divinas que regem nossa vida. A vida e as necessidades do Espírito imortal não é um assunto teosófico, religioso, mas sim a realidade transcendental que envolve a todos nós.

Alguns grupos alegam ser direito da mulher realizar ou não o aborto, argumentando ser o filho propriedade da mãe e como ele não tem identidade própria e a mãe tem, ela possui o direito de decidir se ele vai viver ou morrer. Este argumento é utilizado inclusive como estimulo para a legalização do aborto nas leis humanas. Realmente não somente a mulher nesta situação tem o direito de escolher ser mãe ou não. Todos nós somos livres para realizar nossas escolhas nos diversos caminhos da vida. Mas é necessário que a mulher tome esta decisão antes da concepção, utilizando-se dos recursos anticonceptivos da ciência médica. Mas quando o outro ser passa a existir, o direito à vida, se sobrepõe ao direito de escolha da mulher, como explica o Manifesto Espírita do Movimento Espírita Brasileiro publicado em dezembro de 1998 na revista “Reformador”: “O corpo em questão não é mais o da mulher, visto que ela abriga durante a gravidez um outro corpo, que não é de forma alguma uma extensão do seu. O seu direito à escolha precede o ato da concepção e se subordina ao direito absoluto à vida. O Espiritismo, admitindo a presença de um Espírito reencarnante no nascituro, considera que a mulher não tem o direito de lhe negar o direito à vida”. Com esse ato a mulher estará, além de negar ao próximo uma oportunidade que lhe foi concedida, decidindo sobre o destino de uma vida que, embora gerada em seu ventre, NÃO LHE PERTENCE.

A Legislação Brasileira admite o aborto em caso da mulher ter sido vítima de estupro. Importante lembrarmos que no caso da gravidez como resultado de um ato violento, a expulsão do feto não irá apagar, na mãe, as marcas da violência. Além disto, não foi a criança que cometeu o crime de estupro. Ela também é vítima neste processo, e reencarnará através de uma relação violenta. No caso de estupro, melhor seria a mulher levar à frente a gravidez, e caso não se sinta com condições psicológicas de criar a criança que a entregue para adoção. “O direito à vida está, naturalmente, acima do ilusório conforto psicológico da mulher” (Idem do Manifesto Espírita).

 

Mesmo quando os pais são portadores do vírus HIV, a ciência médica já dispõe de recursos para preservar o bebê. A gestante soropositiva, desde a concepção até o nascimento de seu bebê, e mesmo no pós-parto, deve adotar uma série de cuidados para evitar a transmissão do vírus para seu filho, pois há o risco da chamada transmissão vertical. Durante a gestação, a mulher grávida soropositiva tem a oportunidade de receber medicamentos que ajudam na redução da possibilidade de infecção de seu filho pelo HIV. A gestante deve, também, estar ciente da possibilidade da realização de cesárea eletiva (realizada antes do início do trabalho de parto), como modo de evitar a transmissão do HIV para seu filho. Após o parto, a mãe deve se abster de amamentar seu filho com leite materno, utilizando-se de leite do tipo “fórmula infantil”.

Em 12 de abril de 2012 o Supremo Tribunal Federal decidiu que a mulher tem direito a escolher interromper gestação de feto anencéfalo. É o chamado aborto eugênico ou piedoso. As alegações dos senhores juízes revelam não terem nenhuma visão da nossa realidade espiritual. É necessário sabermos que somos regidos por leis Divinas, perfeitas e imutáveis. E que desconhecemos as necessidades individuais de cada um de nós. Muitas vezes precisamos reencarnar e viver, mesmo que seja por um minuto! Precisamos respeitar todos os desígnios de Deus, como vimos acima na pergunta 360 de “O Livro dos Espíritos” onde os Espíritos alertam que “em tudo isto vede a vontade de Deus e a sua obra, e não trateis levianamente as coisas que deveis respeitar. Por que não respeitar as obras da Criação, que às vezes são incompletas pela vontade do Criador? Isso pertence aos seus desígnios, que ninguém é chamado a julgar”. Muitas vezes aquele espírito precisa somente sentir a manifestação de amor e carinho dos pais, sentir-se amado, para que possa iniciar a reconstrução da sua própria história.

Portanto, somente podemos entender e aceitar o aborto terapêutico quando a vida materna estiver ameaçada, pois é preferível preservar a vida que já existe do que aquela que está em formação. Diante de todas estas colocações e consequências do aborto, torna-se urgente divulgar a transcendência da vida e o planejamento familiar é fundamental. Sem dúvida ele está ligado ao livre-arbítrio dos casais, onde cada casal precisa saber o que faz, com responsabilidade, de modo que a família se forme para cooperar na realização do bem de todos e devido a todos.

O método preventivo será sempre a melhor solução para a realização de um planejamento familiar. Os anticoncepcionais são extremamente úteis como elementos de socorro às necessidades do casal que, querem a união, mas não estão em condições de realizarem o ideal da paternidade. Nesse caso a anticoncepção viria em seu auxílio. Desde que a Ciência proporcionou à mulher e ao homem recursos impeditivos à procriação quando esta não é desejada, é ético e profundamente moral, utilizarmo-nos desses mecanismos. Melhor utilizar-se do anticonceptivo do que abortar.

Por outro lado, o aborto espontâneo, aquele que surge independente da vontade dos pais, gera um trauma muito grande. Muitas vezes o Espírito que se vai reencarnar elege o programa ao qual se submeterá durante a reencarnação. Mas chega determinado momento em que o Espírito sente-se impossibilitado de exercitar as tarefas para as quais se programou, arrepende-se e desiste da reencarnação, produzindo um aborto espontâneo. Em outros casos, segundo “O Livro dos Espíritos” pergunta 199: “A curta duração da vida da criança pode representar, para o Espírito que a animava, o complemento de existência precedentemente interrompida antes do momento em que deverá terminar, e sua morte, também não raro, constitui provação ou expiação para os pais.” Nos casos do aborto espontâneo sempre será terapêutico o recurso da prece, do Evangelho no Lar para que tenham paciência, possam superar o período de dor e possam perseverar na busca da paternidade e da maternidade.

Devemos preservar e respeitar a vida, como e onde ela se manifeste. Não somos autores da vida, não cabe a nenhum indivíduo interrompê-la. Ela é a maior dádiva que a mente humana pode contemplar. E o nosso maior inimigo é o desconhecimento. Qualquer tentativa de tornar legal o ato imoral de matar, esse ato permanecerá como uma agressão às Leis Divinas. É de suma importância buscar conhecer a nós mesmos, encontrarmo-nos com nossa realidade espiritual, com nossa essência, sabermos onde realmente começa a vida, a importância de viver, de fazer o bem.

Educar nossos jovens para que utilizem a energia sexual com dignidade e respeito. Homens e mulheres responderão por suas escolhas, pois o homem é também responsável pelas escolhas do casal. Muitas vezes o parceiro masculino condiciona o prosseguimento do relacionamento se ela abortar. Somente algumas heroínas preferem ter o filho a ter um companheiro dessa natureza. É preciso que sejamos realmente pais e mães de verdade. Não é necessário sermos pais ou mães biológicos, não por imposição, mas no sentido verdadeiro e profundo destas palavras, onde o sentimento que predomina é a dignificação e a elevação moral dos Espíritos. Jesus foi o mensageiro Divino que veio nos ensinar a valorizar a vida, entender a dor e confiar em Deus em todas as situações, assumindo enfim a postura de Seus filhos, com a gloriosa missão de alcançar a plenitude e sermos instrumentos do amor em suas infinitas manifestações por toda a Criação

Fonte: O Semeador Nº 904



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