Mediunidade nos animais

Por Cristiane Fortunato

Allan Kardec, através das revelações dos Espíritos da Equipe do Espírito da Verdade, na Codificação, especificamente em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXII, itens 234 a 236, trata a respeito da questão da mediunidade nos animais.

O Codificador aborda tal assunto devido aos inúmeros questionamentos existentes à época, ano de 1861, e, principalmente, por causa dos indícios de inteligência de algumas aves, que pareciam adivinhar o pensamento, servindo aparentemente como médiuns. Por óbvio, diante do aguçado espírito de investigação científica, com base na fé raciocinada, Kardec buscou certificar-se do que acontecia.

Então a desafiadora pergunta: Afinal, os animais podem ser médiuns?

Primeiramente, quem é médium?

É o Espírito Erasto, no item 236, do capítulo XXII, Segunda parte, de O Livro dos Médiuns, que responde:

"É o ser, indivíduo que serve de intermediário aos Espíritos para que estes possam comunicar-se facilmente com os homens, Espíritos encarnados". E prossegue ainda Erasto: "Por conseguinte, sem médium não há comunicações tangíveis, mentais, escritas, físicas, de qualquer espécie que seja."

Portanto, pode-se dizer que a mediunidade é inerente ao ser humano, ou seja, uma disposição orgânica, natural, que estabelece a relação entre almas (Espíritos encarnados) e Espíritos. A mediunidade é também uma ferramenta evolutiva.

Para esclarecer ainda mais o assunto, é preciso afirmar-se que a questão da mediunidade é basicamente um processo de comunicação e os Espíritos comunicam-se com os encarnados diretamente, ou com outros Espíritos, unicamente pela irradiação dos pensamentos. Isso fica claro conforme dito pelo Espírito Erasto no item 225, do capítulo XXI, Segunda parte, de O Livro dos Médiuns.

Ademais, há, sobretudo, uma questão perispiritual a ser tratada também quando se fala em mediunidade, porque a base dos fenômenos mediúnicos está no perispírito. Ora, o perispírito do ser humano encarnado é de natureza semelhante à dos desencarnados, fazendo com que exista uma afinidade especial entre eles; por ser retirado do mesmo meio, possui natureza fluídica idêntica. Ambos têm a capacidade de assimilação que permite aos Espíritos entrarem em "pronta e fácil relação", com a capacidade e a força de expansão perispiritual do médium, facilitando desse modo as comunicações espirituais.

Assim, apesar dos animais, principalmente os domésticos, demonstrarem atos inteligentes, não é possível que sejam médiuns, pois não possuem a sensibilidade aprimorada, o psiquismo requintado e sutil como o pensamento contínuo, a vontade dirigida a atos superiores, a mente racional, o juízo crítico, que avalia a si mesmo, além da questão perispiritual acima mencionada.

Tal conclusão torna-se mais evidente quando os Espíritos aduzem que: "Sabeis que tiramos do cérebro do médium os elementos necessários para dar ao nosso pensamento a forma sensível e apreensível para vós. É com o auxílio dos seus próprios materiais que o médium traduz o nosso pensamento em linguagem vulgar. Pois bem: que elementos encontraríamos no cérebro de um animal? Haveria ali palavras, letras, alguns sinais semelhantes aos que encontramos no homem, mesmo o mais ignorante?" (O Livro dos Médiuns, item 236).

Há ainda outra questão a ser tratada: se não seria possível aos Espíritos "mediunizar os animais, assim como agem em relação às cadeiras, mesas e outros objetos, que produzem fenômenos espíritas de efeitos físicos. Os Espíritos respondem em O Livro dos Médiuns, no capítulo XXII (Segunda parte), que, para tais fenômenos é preciso um médium de efeitos físicos, na qual haja fusão fluídica, e mais uma vez, a capacidade de expansão e penetrabilidade do perispírito, o que é inerente apenas ao ser humano, e não aos animais.

Fica claro desse modo, que os Espíritos apenas conseguem se utilizar de intermediários que sejam semelhantes, e esses semelhantes só podem ser humanos, pela impossibilidade física e espiritual dos animais, os quais não podem produzir fenómenos mediúnicos de efeitos inteligentes ou físicos, como nos afirmam os Espíritos, no item 236 de O Livro dos Médiuns.

E o que os animais têm então, vez que até mesmo Allan Kardec observou pássaros que pareciam ler pensamentos?

Os animais, que são considerados os irmãos menores mais próximos dos seres humanos, possuem percepções psíquicas, ou seja, percepções extrassensoriais. E é através dessas percepções que alguns, dentre eles, cães, gatos, cavalos e outros, principalmente os domésticos, percebem, algumas vezes, a presença de Espíritos, assustando-se e produzindo sons característicos das espécies.

E quanto às aves observadas por Kardec, conforme relatos contidos na Revista Espírita de agosto e setembro de 1861, esclarecem os Espíritos que existiam treinadores de pássaros, que os ensinavam a tirar de um maço as cartas desejadas, após um longo treino para tanto, ou seja, não havia mediunidade e tampouco pássaros-médiuns naqueles casos.

Aliás, a mediunidade é, segundo J. Herculano Pires na obra Mediunidade: "a mais refinada conquista da evolução, que marca o homem com endereço do plano angélico. A mediunidade é a síntese por excelência que consubstancia todo o processo evolutivo da Natureza". Possível, pois, apenas aos humanos.

Entretanto, tudo evolui na Natureza e o princípio inteligente que hoje habita num animal, um dia ao atingir a idade da razão, se tornará Espírito, encarnando assim num corpo humano, dotado então da possibilidade de comunicação entre os dois mundos, o espiritual e o material, se tornando assim, possivelmente, médium com disposição orgânica específica.

Desse modo, pode-se afirmar que "a alma dorme na pedra, sonha no vegetal, agita-se no animal e acorda no homem", como ensina Léon Denis, na obra O Problema do Ser, do Destino e da Dor. Deve-se assim, amar e respeitar os animais, na certeza de que não há descontinuidade na evolução espiritual, e do átomo ao arcanjo tudo se encadeia no Universo, como afirmam os Espíritos a Kardec na resposta à questão 540 de O Livro dos Espíritos.

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