Por Equipe O Semeador
O renomado escritor brasileiro José Renato
Monteiro Lobato (ou José Bento, nome que adotou posteriormente), nasceu em
Taubaté (SP), em 1882, e desencarnou na cidade de São Paulo, em 1948. Criador
dos ilustres personagens infantis Narizinho, Pedrinho, Emília, Visconde de
Sabugosa, Cuca, entre tantos outros, também foi importante editor, contista,
ensaísta e tradutor.
Promotor de justiça, fazendeiro (depois de
ter herdado a Fazenda Buquira de seu avó, o Visconde de Tremembé) e empresário,
além de investir na exploração de petróleo, atuou com versatilidade em muitas
áreas. Contudo, era distante de qualquer sentimento religioso, até vivenciar o
desencarne de dois filhos: Guilherme, em 1939, aos 28 anos, e Edgard em 1941,
aos 32 anos de idade.
Edgard Cavalheiro, autor da obra Monteiro Lobato:
Vida e Obra (de 1955), considerado o principal biógrafo do escritor, assina o
artigo de O Semeador de junho de 1956, que transcrevemos a seguir, onde conta
como o idealizador de O Sítio do Pica-Pau Amarelo chegou ao Espiritismo.
Monteiro Lobato foi levado a interessar-se
pelos fenômenos espíritas como quase toda gente: por motivos sentimentais. A morte
do segundo filho abalarão profundamente. No meio da aflição que o dominava,
termina por aceitar os convites que os amigos lhe fizeram para assistir algumas
sessões. Vai e se interessa a fundo pelos fenômenos que lhe é dado observar. E
como é, por natureza, proselitista, ei-lo em breve em tentativas de arrastar e
convencer os amigos das coisas sobrenaturais que ocorrem nas reuniões que
frequenta. Por sua iniciativa Amadeu Amaral Júnior traduz o livro de Karl du
Prel - O Outro Lado da Vida. E ele próprio põe em português Raymond e Rumo ás Estrelas.
Suas conversas, nesse tempo, por mais voltas
que desse, calam frequentemente na morte, ou em coisas do além. Mas não é o
aspecto puramente religioso do Espiritismo que o interessa. O que Monteiro
Lobato procura é assenhorear-se do lado científico do problema. Ao frequentar
as primeiras sessões não era totalmente ignorante de tais experiências, pois
suas leituras já o tinham levado a meditar, em tempos idos, sobre o assunto.
Conhecia desde 1909 as experiências de William Crookes, que concluíra pela existência
duma força mal conhecida que atua de várias formas, e a que ele, por
comodidade, ou por falta de outro nome, intitulara de "força
psíquica". Sabia também que outro físico inglês, Oliver Lodge, escrevera
excelentes páginas sobre o fenômeno, que estudara com o mesmo rigor com que
tratara fatos físicos. Já nessa época Monteiro Lobato julgava que a palavra
"sobrenatural", empregada com relação a esses fenômenos, lhe parecia
imprópria, inadequada. "O fato", escreve então, "de não sabermos
uma coisa não a exclui da natureza ou não a põe sobre a natureza. É apenas um
aspecto da natureza que não conhecemos. Um sexto sentido parece que vem vindo
(...) e virá um sétimo, um oitavo etc. Evolução. E cada novo sentido
descortinará um outro mundo. O médium, que é senão uma criatura em que o sexto
sentido está se denunciando? Um dia todos nós teremos esse sexto sentido e
adeus sobrenatural! Um dia os compêndios de Física trarão o capítulo novo da
Metapsíquica, como os compêndios de hoje trazem o capitulo novo da
termodinâmica."
Essas considerações, expendidas em carta a Godofredo
Rangel, no ano de 1909, são logo seguidas de outras, em que aconselha ao amigo
a "encostar" o Espiritismo: "metido com médiuns e com sessões,
acabarás mediúnico, astral, sideral e imprestabilizado para a Literatura
(...)".
E por longos anos Monteiro Lobato não torna a
pensar no assunto (...)
E somente (...) meio desarvorado com a morte
de um ente tão querido como o seu filho Edgard, que passa a interessar-se pelo
assunto, frequenta sessões, conversa com médiuns, lê e traduz obras
especializadas, enfim, integra-se de corpo e alma nos problemas ainda algo
complexos da fenomenologia espírita (...). Vai todas as semanas ás sessões,
aproxima-se de intelectuais que sabe ligados ao Centro. Proporcionam-lhe
inúmeras oportunidades para observar de perto as mais estranhas ocorrências.
"Embora", acentua Wandyck Freitas, "colocado numa pequena área
do imenso campo de pesquisas que o Espiritismo lhe oferecia, Lobato não
desdenhou do que lhe foi dado ver.
Não só não desdenhou adiantou-se muito nesse
caminho. As pessoas que o conheceram de perto sabem que, homem irreverente, com
muito de Gavroche e saci-pererê, jamais brincou com o assunto, em momento algum
desviou-se para a ironia no que dizia respeito aos fenômenos por ele
presenciados (...) Andou, por uns tempos, muito satisfeito com as próprias
experiências, porque os Espíritos que se haviam manifestado para ele deviam ser
todos ateus, ou "céticos da melhor marca". Não se lamentavam nem lhe
faziam sermões motivo pelo qual "os aturara tanto tempo.
O consolo que extrai das experiências ajuda-o
a suportar as amarguras deste mundo. Convence-se de que os filhos não morreram.
Foram transferidos, agrada-lhe, particularmente, que o Edgard revelado esteja
bem consoante com o Edgard terreno (...).
Ao cabo de alguns meses de experiências, suas
conclusões podem ser assim resumidas: o Espirito condiciona e molda o corpo
(...) Pela evolução chegaremos a tirar do Espiritismo o caráter misterioso de
que anda envolto. A evolução que nos deu o tato, o olfato, o paladar, o ouvido
e os olhos, nos dará, futuramente, a mediunidade, o sexto sentido. Dessa
certeza, ou meia certeza, Monteiro Lobato não se afastará (...) está convencido
de que a Grande Felicidade é essa de convencermo-nos de que (...) não
adoecemos, nem envelhecemos, nem morremos (..)
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