Mediunidade nas crianças


Por Nirley de Oliveira Lima

A mediunidade é uma faculdade inerente ao Espírito e pode manifestar-se em diversos graus de intensidade. Allan Kardec esclarece-nos, em O Livro dos Médiuns, no item 159, que somos todos mais ou menos médiuns. É uma aptidão natural que permite a comunicação com os Espíritos encarnados e desencarnados, através de formas diferenciadas, de acordo com as características orgânicas e espirituais do médium.

O médium é o intermediário entre as dimensões materiais e as espirituais, e são inúmeras as formas nas quais a mensagem do Espírito comunicante é transmiti da às criaturas.

Quando o médium apresenta os primeiros indícios? Quando se iniciam as primeiras manifestações? E como podem ser observadas nas crianças?

Allan Kardec esclarece-nos em O Livro dos Médiuns, no item 221 (subitens 6 a 8), que a mediunidade como faculdade natural e espontânea, pode manifestar-se em qualquer fase do desenvolvimento orgânico, podendo eclodir na fase infantil.

As crianças, cujos corpos geralmente abrigam Espíritos milenares, apresentam uma fragilidade orgânica natural, face ao tempo necessário para que se adaptem à nova existência, o que ocorre até os sete anos, aproximadamente, segundo esclarece o Espírito Emmanuel, na obra O Consolador, na questão 109. É nesta fase que os pais ou responsáveis devem proteger, educar e orientar estas criaturinhas que Deus confiou a eles, com muito amor, para propiciar-lhes o progresso espiritual. Nota-se ainda que, na infância, o Espírito é mais receptivo aos conselhos dos pais. O desabrochar da mediunidade, nesta fase, pode ocorrer de forma natural e espontânea.

Os sinais que evidenciam a provável existência da mediunidade na criança podem ser o amiguinho invisível, a presença de pessoas que ninguém percebe, bem como o diálogo com familiares desencarnados. E como proceder?

Há casos interessantes, que descrevemos a seguir, que podem esclarecer alguns procedimentos necessários.

 

Elizabeth d'Espérance, escritora, nascida em Londres, Inglaterra, em 1849, relata em sua obra No País das Sombras, que desde pequena costumava ter visões de Espíritos que circulavam pelos cómodos no casarão onde residia, e como não conseguisse tocá-las, ela as chamava de "sombras". O pai de Elizabeth, capitão de navio, viajava constante mente e a mãe, doente, permanecia dias seguidos acamada. As criadas davam-lhe pouca atenção. Assim a pequena Elizabeth crescia praticamente só, exceto pelos Espíritos que ela enxergava e mencionava para algumas pessoas. A mãe, preocupada com a saúde da filha em razão deste comportamento, chamou um médico. Após ouvir a menina contar-lhe que entre as sombras havia uma preferida que ela chamava de "velha senhora vestida de preto, um cavalheiro com chapéu de plumas, damas trajadas com vestidos de seda e outras, o médico diagnosticou-a como louca. E o resultado foi que a menina passou a ter medo das visões, pois para ela, significava que permanecia doente.

Posteriormente, na adolescência, julgando ser tudo obra do demônio, entregou-se fervorosamente as orações e à leitura da Bíblia. O pai, preocupado com a filha, resolveu levá-la a uma viagem ao Mediterrâneo, deixando-a muito alegre e feliz. Porém, certo dia, no tombadilho do navio, quando estava acompanhada, teve a visão de uma outra embarcação prestes a se chocar com eles e começou a gritar. O acompanhante afirmou nada ver, assim como outras pessoas presentes. Foi na fase adulta, esclarecida por pessoas conhecedoras dos fenômenos que ocorriam com ela, que passou a colaborar, através da mediunidade, para o advento do Espiritismo.

Outro caso interessante, relatado por Allan Kardec, na Revista Espírita de outubro de 1865, no artigo "Variedades - Vossos filhos e filha profetizarão”, é o de Alexandre Delanne e seu filho Gabriel Delanne, então com oito anos.

Era comum, nesta época, utilizarem, em determinadas reuniões, o fenômeno das mesas girantes como um divertimento, ao contrário das reuniões presididas por Alexandre Delanne, que, embasadas nos princípios doutrinários do Espiritismo, primavam pela seriedade e muita ordem. Certa feita, Gabriel Delanne brincava com amiguinhos, quando uma senhora inicia uma conversa com ele perguntando, inicialmente, o que fazia seu pai. A resposta da criança foi imediata: meu pai é espirita. Ele costumava assistir as reuniões do pai com interesse e atitudes sérias. A referida senhora, porém, o questiona, afirmando que desconhecia esta profissão, mas o pequeno esclarece que não era uma profissão porque o pai não era pago para isto, e que a única finalidade era fazer o bem. Ele pergunta a senhora se ela nunca ouvira falar das mesas girantes. Ela responde que gostaria que o pai dele ali estivesse para realizar este fenómeno. Gabriel simplesmente afirma que pode fazer a mesa girar da mesma forma que seu pai. E assim procede, após uma invocação compenetrada. A senhora, então, faz perguntas à mesa a respeito de seu pai desencarnado e recebe respostas verdadeiras, emocionando-se profundamente. Foi a manifestação da mediunidade na sua infância.

A médium Yvonne do Amaral Pereira nascida no Rio de Janeiro, em 1900, registra em sua obra Recordações da Mediunidade, casos mediúnicos ocorridos muito cedo em sua vida. Ela conta que aos quatro anos, via Espíritos e conversava com eles como se estivessem encarnados. Um deles tinha um aspecto triste e costumava ficar sentado numa cadeira da sala, enquanto ela brincava de boneca. Os fenômenos mediúnicos se intensificaram na adolescência. Lembrava-se de vidas passadas, descrevendo cenas das quais era participante. Reviveu situações de muito sofrimento, através do desdobramento, como, por exemplo, o própria suicídio, recordações que a auxiliaram no cumprimento abnegado das tarefas mediúnicas, assumidas na dimensão espiritual, antes da reencarnação.

A precocidade mediúnica surgiu também na vida de Francisco Cândido Xavier aos quatro anos quando, segundo ele, conversava com a mãe desencarnada, Maria João de Deus, Médium, filantropo e um dos maiores expoentes do Espiritismo no Brasil e no mundo, tinha apenas cinco anos quando sua mãe desencarnou, Chico é entregue aos cuidados de sua madrinha, com quem conviveu durante alguns anos e que muito o maltratou. Só encontrava paz nos diálogos com o Espírito de sua mãe, que o aconselhava a ser disciplinado e obediente. Aos dezessete anos passou a escrever poesias, cuja autoria atribula aos Espíritos. Psicografou, na fase adulta, mais de quatrocentas e cinquenta obras de vários autores desencarnados. Entre eles, os dos Espíritos Emmanuel e André Luiz. Foi o médium reconhecido como o maior psicógrafo de todos os tempos.

Divaldo Pereira Franco, notável médium e orador espirita, de renome internacional, relata os contatos iniciais com os Espíritos ainda na fase infantil. Aos quatro anos, vê uma mulher que aparece na sala para falar com a sua mãe, senhora Ana. Porém, chamada, ela nada vê. Divaldo tinha visões e conversava com os Espíritos que ele afirma serem seus companheiros de brincadeiras. Divaldo também teve presenças espirituais complicadas e nestes momentos, orava e pedia proteção a Deus. Diplomou-se no magistério, com muita dificuldade, como professor de português. Amparado por familiares que conheciam o Espiritismo, foi encaminhado a Doutrina, após um processo obsessivo que paralisou as suas pernas. E um dos maiores médiuns da atualidade.

Analisando esses exemplos, observa-se a importância de os pais buscarem esclarecimentos sobre comportamentos diferenciados na infância e adolescência.

Recorrer a profissionais da saúde é importante e necessário. Educar os filhos com o alicerce religioso é fundamental.

Atualmente há vários casos de crianças portadoras da mediunidade que precisam de um direcionamento específico, compreendendo o que a Doutrina Espirita ensina.

Relata Allan Kardec, em O Livro dos Médiuns, no item 222, a importância do ensino moral do Espiritismo, sem qualquer incentivo ao desenvolvimento mediúnico que deverá eclodir no tempo certo. Pode ocorrer que estes fenômenos desapareçam na fase adulta.

O Espiritismo mostra que o intercâmbio mediúnico, sem orientação apropriada e desprovido da moral necessária, pode apresentar processos obsessivos. Suely Caldas Schubert relata em sua obra Obsessão em Crianças, aspectos destes processos. Portanto, o amparo espiritual da criança, do jovem e da família na Casa Espirita, através da evangelização, é imprescindível.

A Área da Infância, Juventude e Mocidade da FEESP oferece cuidados especiais e evangelização a inúmeros jovens e crianças, atualmente no módulo on-line e presencial, conforme esclarece a sua atual Diretora, Wilma Yamaguti Tanigawa.

Ensina-nos Jesus: "Deixai vir a mim as crianças, para que possamos nos conduzir e, principalmente, para que abracemos e orientemos nossos pequeninos.

Jesus é o Mestre que legou seu Evangelho para nos orientar nessa caminhada.

Nirley de Oliveira Lima

Educadora, expositora da FEESP e integrante da Equipe Semeador

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