Perguntaram a Chico Xavier se os Espíritos
consideram os transplantes de órgãos prática contrária às leis naturais.
Chico respondeu: “Não. Eles dizem que assim
como nós aproveitamos uma peça de roupa que não tem utilidade para determinado
amigo, e esse amigo, considerando a nossa penúria material, nos cede essa peça
de roupa, é muito natural, aos nos desvencilharmos do corpo físico, venhamos a
doar os órgãos prestantes a companheiros necessitados deles, que possam
utilizá-los com segurança e proveito”.
Todos podemos doar nossos órgãos ou há casos
em que isso não se recomenda?
É claro que todos podemos.
A extração de um órgão não produz reflexos
traumatizantes no perispírito do doador.
O que lesa o perispírito, que é nosso corpo
espiritual, são as atitudes incorretas perpetradas pelo indivíduo, e não o que
é feito a ele ou ao seu corpo por outras pessoas.
Além disso, o doador desencarnado é, muitas
vezes, beneficiado pelas preces e pelas vibrações de gratidão e carinho por
parte do receptor e de sua família.
A integridade, pois, do perispírito está
intimamente relacionada com a vida que levamos e não com o tipo de morte que
sofremos ou com a destinação de nossos despojos.
Há casos, no entanto, que a doação ou a
extração de órgãos não se recomenda.
No dia 6 de fevereiro de 1996, atendemos um
Espírito em sofrimento, que recebera o coração de um jovem morto num acidente,
o qual, sem haver compreendido que desencarnara, o atormentava no plano
espiritual, reclamando o coração de volta. Curiosamente, o Espírito que
recebera o órgão sabia estar desencarnado e lembrava até haver doado as córneas
a outra pessoa.
Indagaram a Chico Xavier: “Chico, você acha
que o espírita deve doar as suas córneas? Não haveria nesse caso repercussões
para o lado do perispírito, uma vez que elas devem ser retiradas momentos após
a desencarnação do indivíduo?”.
Respondeu o bondoso médium mineiro (“Folha
Espírita”, nov/82, apud “Chico, de Francisco”, pág. 84):
“Sempre que a pessoa cultive desinteresse
absoluto em tudo aquilo que ela cede para alguém, sem perguntar ao beneficiado
o que fez da dádiva recebida, sem desejar qualquer remuneração, nem mesmo
aquela que a pessoa humana habitualmente espera com o nome de compreensão, sem
aguardar gratidão alguma, isto é, se a pessoa chegou a um ponto de evolução em
que a noção de posse não mais a preocupa, esta criatura está em condições de
dar, porque não vai afetar o perispírito em coisa alguma.
No caso contrário, se a pessoa se sente
prejudicada por isso ou por aquilo no curso da vida, ou tenha receio de perder
utilidades que julga pertencer-lhe, esta criatura traz a mente vinculada ao
apego a determinadas vantagens da existência e com certeza, após a morte do
corpo, se inclinará para reclamações descabidas, gerando perturbação em seu próprio
campo íntimo. Se a pessoa tiver qualquer apego à posse, inclusive dos objetos,
das propriedades, dos afetos, ela não deve dar, porque ela se perturbará”.
Anos depois dessa resposta, registrou-se o
caso Wladimir, o jovem suicida que foi aliviado em seus sofrimentos post-mortem
graças às preces decorrentes da doação de córneas por ele feita, mostrando que,
mesmo em mortes traumáticas como essa, a caridade da doação, quando praticada
pelo próprio desencarnante, é largamente compensada pelas leis de Deus.
(O caso Wladimir é narrado no livro “Quem tem
medo da morte?”, de Richard Simonetti.
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