— Não; o corpo,
freqüentemente, sofre mais durante a vida que no momento da morte; neste, a
alma nada sente. Os sofrimentos que às vezes se provam no momento da morte são
um prazer para o Espírito, que vê chegar o fim do seu exílio.
Comentário de
Kardec: Na morte natural, que se verifica pelo esgotamento da vitalidade
orgânica em conseqüência de idade, o homem deixa a vida sem perceber: é uma
lâmpada que se apaga por falta de energia.
Como se opera a
separação da alma e do corpo?
— Os liames que a
retinham, sendo rompidos, ela se desprende.
a) A separação se
verifica instantaneamente, numa transição brusca?
Há uma linha
divisória bem marcada entre a vida e a morte?
— Não; a alma se
desprende gradualmente e não escapa como um pássaro cativo subitamente
libertado. Os dois estados se tocam e se confundem, de maneira que o Espírito
se desprende pouco apouco dos seus liames; estes se soltam e não se rompem.
Comentário de
Kardec: Durante a vida, o Espírito está ligado ao corpo pelo seu envoltório
material ou perispírito; a morte é apenas a destruição do corpo, e não desse
envoltório que se separa do corpo, quando cessa a vida orgânica. A observação
prova que no instante da morte o desprendimento do Espírito não se completa
subitamente- ele se opera gradualmente, com lentidão variável, segundo os
indivíduos. Para uns é bastante rápido, e pode dizer-se que o momento da morte
é também o da libertação que se verifica logo após. Noutros, porém, sobretudo
naqueles cuja vida foi toda material e sensual, o desprendimento é muito mais
demorado e dura, às vezes alguns dias semanas e até mesmo meses, o que implica
a existência no corpo de nenhuma vitalidade, nem a possibilidade de retorno á
vida. mas a simples persistência de uma afinidade entre o corpo e o Espírito,
afinidade que está sempre na razão da preponderância que, durante a vida, o
Espírito deu à matéria. É lógico admitir que quanto mais o Espírito estiver
identificado com a matéria, mais sofrerá para separar-se dela. Por outro lado.
a atividade intelectual e moral, a elevação dos pensamentos operam um começo de
desprendimento, mesmo durante a vida corpórea e quando a morte chega, é quase
instantânea. Este é o resultado dos estudos efetuados sobre os indivíduos
observados no momento da morte. Essas observações provam ainda que a afinidade
que persiste, em alguns indivíduos, entre a alma e o corpo é às vezes, muito
penosa, porque o Espírito pode experimentar o horror da decomposição. Este caso
é excepcional e peculiar a certos gêneros de morte, verificando-se em alguns
suicídios.
A separação
definitiva entre a alma e o corpo pode verificar-se antes da cessação completa
da vida orgânica?
— Na agonia, às
vezes, a alma já deixou o corpo, que nada mais tem do que a vida orgânica. O
homem não tem mais consciência de si mesmo, e, não obstante, ainda lhe resta um
sopro de vida. O corpo é uma máquina que o coração põe em movimento. Ele se
mantém enquanto o coração lhe fizer circular o sangue pelas veias e para isso
não necessita da alma.
No momento da
morte, a alma tem, às vezes, uma aspiração ou êxtase, que lhe faz entrever o
mundo para o qual regressa?
— A alma sente,
muitas vezes, que se quebram os liames que a prendem ao corpo, e então emprega
todos os seus esforços para os romper de uma vez. Já parcialmente separada da
matéria, vê o futuro desenrolar-se ante ela e goza por antecipação do estado de
Espírito.
O exemplo da larva,
que primeiro se arrasta pela terra, depois se fecha na crisálida, numa morte
aparente, para renascer numa existência brilhante, pode dar-nos uma idéia da
vida terrena, seguida do túmulo e por fim de uma nova existência?
— Uma pálida idéia.
A imagem é boa, mas é necessário não torná-la ao pé da letra, como sempre
afazeis.
Que sensação
experimenta a alma, no momento em que se reconhece no mundo dos Espíritos?
— Depende. Se
fizeste o mal com o desejo desfazê-lo, estarás, no primeiro momento,
envergonhado de o haver feito. Para ajusto, é muito diferente: ele se sente
aliviado de um grande peso porque não receia nenhum olhar perquiridor.
O Espírito encontra
imediatamente aqueles que conheceu na Terra e que morreram antes dele?
— Sim, segundo a
afeição que tenham mantido reciprocamente. Quase sempre eles o vêm receber na
sua volta ao mundo dos Espíritos e o ajudam a se libertar das faixas da
matéria. Vê também a muitos que havia perdido de vista durante a passagem pela
Terra; vê os que estão na erraticidade, bem como os que se encontram
encarnados, que vai visitar.
Na morte violenta
ou acidental, quando os órgãos ainda não se debilitaram pela idade ou pelas
doenças, a separação da alma e a cessação da vida se verificam simultaneamente?
— Geralmente é
assim; mas, em todos os casos, o instante que os separa é muito curto.
Após a decapitação,
por exemplo, o homem conserva por alguns instantes a consciência de si mesmo?
— Freqüentemente
ele a conserva por alguns minutos, até que a vida orgânica se extinga de uma
vez. Mas muitas vezes a preocupação da morte lhe faz perder a consciência antes
do instante do suplício.
Comentário de
Kardec: Não se trata, aqui, senão da consciência que o supliciado pode ter de
si mesmo como homem, por meio do corpo, e não como Espírito. Se não perdeu essa
consciência antes do suplicio, ele pode conservá-la por alguns instantes, mas
de duração muito curta, e a perde necessariamente com a vida orgânica do
cérebro. Isso não quer dizer que o períspirito esteja inteiramente desligado do
corpo, mas pelo contrário, pois, em todos os casos de morte violenta, quando
esta não resulta da extinção gradual das forças vitais, os liames que unem o
corpo ao períspirito são mais tenazes, e o desprendimento completo é mais
lento.
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