Começamos essa reflexão lembrando que o
espiritismo veio para conscientizar das verdades do mundo sem os dogmas que
constituímos durante o passar de muitos séculos, levantando a bandeira do livre
arbítrio e nos orientando à nossa responsabilidade sobre nossas próprias
escolhas. O espiritismo não propaga nenhuma proibição, em nenhum aspecto, não
nos limita e sim nos liberta para a consciência científica, filosófica e
espiritual do nosso orbe, bem como do nosso universo. Justamente por isso,
podemos tirar das obras básicas de Allan Kardec, o conhecimento necessário para
ter um embasamento sobre esse tema.
Fato é, que ainda no plano espiritual, nós
programamos nossas provas reencarnatórias, assim como nosso períspirito que,
muitas vezes, alguma imperfeição ou desagrado físico, é fruto de uma escolha
para nosso progresso, seja por expiação, seja por precaução para não nos perder
no que, por muitas encarnações, podemos não ter perdido, a vaidade.
Não é possível exemplificar todos os casos
pelos quais nascemos com determinado corpo físico pois isso envolve além dos
traços genéticos pertencentes a grupos de regiões diferentes de todo o planeta,
vivencias particulares de cada espírito, levando-nos a escolhas por essas
determinadas experiências. Mas no mundo atual, com padrões de belezas
pré-definidos por uma sociedade carente de Deus e cheia de materialismo,
tomemos como exemplo uma cirurgia estética como prótese de silicone.
Precisamos inicialmente compreender que o
nosso corpo é um empréstimo divino para auxiliar nosso progresso moral e
intelectual nessa encarnação. Assim como quando tomamos algo emprestado de
outrem e necessitamos do devido cuidado, temos que nos conscientizar da
importância do cuidado com nossa saúde e nosso corpo, para que ele suporte o
plano reencarnatório que programamos ainda no plano espiritual.
Não estamos aqui para definir o que é certo
ou errado, criar dogmas comportamentais, nem nada que remeta a esse ponto. A
questão que queremos expor é a que nos lembra a passagem de 1 Coríntios 6:12
"Tudo me é lícito, mas nem tudo me convém” (1). Temos nosso livre arbítrio
e a liberdade de ser, pensar e agir da forma que melhor entendermos como ideal,
mas nem tudo que o mundo nos oferece é verdadeiramente necessário para se
viver.
Em uma sociedade capitalista, que vive pelo
ter, os parâmetros idealizados são meramente ilusórios e transitórios.
Fomentamos em nós mesmos ideais que não passam de superficialidade, buscando se
encaixar no que nos vendem como a imagem perfeita, seja materialmente, na busca
de um status melhor, seja fisicamente na busca de um corpo perfeito.
Partindo desse ponto, podemos exemplificar
através da menção da questão 258 do Livros dos Espíritos o questionamento que
Kardec faz para a espiritualidade sobre a consciência que possuímos do que
vamos passar aqui na Terra antes de reencarnarmos: Quando na erraticidade,
antes de começar nova existência corporal, tem o Espírito consciência e previsão
do que lhe sucederá no curso da vida terrena? “Ele próprio escolhe o gênero de
provas por que há de passar e nisso consiste o seu livre-arbítrio. ”
Sendo assim, se planejamos nossas provas e
nosso períspirito através da necessidade de nossas expiações terrenas, querer
alterar o que já programamos, seria ilógico do ponto de vida racional, pois
enquanto encarnados temos nossa consciência limitada pelo véu do esquecimento
de vidas passadas, alterar a programação que fizemos quando em consciência de
tudo que já se passou em nossas outras encarnações é estar postergando ainda
mais nosso progresso.
Porém, generalizar é algo que abre
precedentes para injustiças, tendo em vista que para conseguir prosseguir a
diante com nossas provas terrenas necessitamos estar bem conosco, tornando
então, lícito o ato de querer melhorar a aparência para se sentir melhor
consigo mesmo, além do fato de muitas intervenções cirúrgicas serem necessárias
para o reparo de alguma falha congênita ou de alguma circunstância. Talvez o
que devemos ter em mente, é a visão de um espírito eterno, o quanto isso vai
influenciar na sua evolução moral e intelectual? Esse é o crivo que devemos
levar não só nesse aspecto, mas em muitos outros temas de nossa vida, que, se
pararmos para analisar que aqui fica tudo o que constituímos de material, nos
fazem ver um outro sentido do mundo.
Somos irmãos de um mesmo pai, e enquanto
voltamos nossos esforços de nos modificar para nós mesmos, estamos tapando os
olhos para o mundo. Se o procedimento estético tornará a pessoa melhor
interiormente e essa modificação interior for usada em prol de algo justo, com
boas intenções, faz da cirurgia plástica algo de útil. Enquanto se o oposto, se
os procedimentos forem feitos por mera estética visando somente a vaidade, cabe
a cada um julgar a real necessidade de tal decisão.
Lembremos que somos eternos espíritos em
construção e nosso corpo é a casa que o Pai nos emprestou para trilhar a nossa
jornada, a nossa consciência é que irá cobrar todas as escolhas que fizemos
durante esse percurso, deixando aqui todas as conquistas materiais e sendo
reféns de tudo o que plantamos de bem em nosso caminho.
Cuide do seu espírito com a mesma intensidade
que você cuida do seu físico.
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Referências:
1 - A BÍBLIA (1 Coríntios 6:12)
2 - KARDEC, ALLAN - O Livro dos Espíritos,
Questão 258 - Disponível em:
http://www.olivrodosespiritoscomentado.com/fev6q258.html
Acesso: 26/05/2019
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