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Era noite de Réveillon e toda a família havia
se reunido no quintal da casa para ver os fogos de artifício. Entre comes e
muitos bebes alguns já tinham ultrapassado o limite da razão, mostrando-se mais
alegres e tontos em relação a outros.
Naquela época, Pedrinho nem contava oito anos
de vida. De pé, à porta da casa que dava acesso ao quintal, contemplava a
alegria dos tios e primos com medo dos fogos barulhentos que começavam a tomar
o céu. Bem atrás de onde estava, havia um pequeno banheiro e um corredor de
acesso à cozinha, onde sua mãe lavava algumas louças acumuladas do jantar.
Naquele pequeno espaço sentia-se seguro.
O pai de Pedrinho era um dos que tinham bebido
além da conta. Nunca tinha soltado um foguete, mas resolveu insistir com o
cunhado que lhe cedesse um dos fogos que ele estava soltando. Lúcio hesitou,
porém não teve jeito. Trocando as pernas, Reinaldo pegou o rojão, acendeu o
pavio, estendeu a mão para cima e fechou os olhos.
O facho de fogo explodiu, ascendeu um dois
metros e, ao invés de subir, desceu em linha reta em direção à porta da cozinha
onde estava Pedrinho. O menino congelou de pavor vendo uma bola de fogo vindo
direto ao encontro de sua barriga.
Foram segundos de desespero de todos.
Prestes a ocorrer o trágico impacto, Pedrinho
sentiu duas mãos a lhe empurrarem de súbito para o lado. A chama explodiu
dentro do banheiro com tamanha violência que tudo dentro dele foi queimado.
Equilibrando-se do empurrão, o garoto parou em frente à mãe gélido, suando frio
e ofegante.
Ninguém mais quis ver fogos de artifício
naquela noite.
*
* *
Sim, um espírito pode nos empurrar e até
mesmo nos bater. Na Revista Espírita de janeiro de 1860, Kardec publica a
evocação de um espírito na qual lhe é perguntado se é possível que o mesmo
desfira um soco sensível ao encarnado e o mesmo responde de forma afirmativa.
Na Revista Espírita do mês seguinte, descreve-se um ocorrido no qual um
proprietário de uma casa considerada como assombrada à época recebe uma forte
bofetada de uma mão invisível ao adentrar em um dos seus aposentos, mesmo
sozinho no local. Além destes, diversos outros relatos publicados em outras
edições da Revista Espírita descrevem interações físicas sensíveis aos
encarnados causadas por espíritos interessados e capazes de realizá-las (1).
No capítulo “Da teoria das manifestações
físicas”, em O Livro dos Médiuns, Kardec nos esclarece que a interação entre o
espírito e a matéria ocorre por meio de forças fluídicas de natureza
desconhecida ainda por nós. Quando o espírito está encarnado, a sua vontade de
atuar sobre o meio físico é transmitida do espírito ao corpo por meio do
períespirito. Quando desencarnado, a atuação sobre a matéria ocorre por meio da
vontade do espírito que leva a uma interação fluídica com o objeto a ser
manipulado (2).
Destaca-se, contudo, que quaisquer interações
somente acontecem se houver a intenção do espirito e ainda que lhe seja
permitido fazê-lo. Do contrário, tais ações não ocorrem (1-2).
Na história de Pedrinho fica clara a presença
de espíritos protetores atuando em benefício de sua integridade física. Sejam
eles nossos anjos da guarda ou espíritos com os quais nos afinamos pela
sintonia de nossas atitudes, sua ação só ocorre com a permissão da Divina
Providência.
Que busquemos sempre trabalhar no amor e na
caridade para que sejamos dignos de ter à nossa volta espíritos sublimes que
sintonizem com as nossas ações. Nossas próprias emanações mentais e estas
presenças de luz manterão distantes espíritos levianos que desejem nos
impressionar fisicamente de maneira afrontosa.
Márcio Martins da Silva Costa.
Referências:
(1) KARDEC, A. Revista Espírita. Jornal de
Estudos Psicológicos, 1860; e
(2) KARDEC, A. O Livro dos Médiuns. Cap. IV.
81a ed. Brasília (DF): Federação Espírita Brasileira, 2013.
Fonte: Agenda Espírita Brasil
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