Jorge
Hessen
Há poucos meses, em São Paulo, um jovem de 19
anos foi morto por sua própria mãe, possivelmente, por força de um ritual de
“magia negra”. Quando foi presa, estava em crise psicótica (loucura? ou
“possessão”?); falava sobre demônios e assuntos satânicos, e seis policiais
foram necessários para dominar aquela senhora que pertencia a comunidades
religiosas não convencionais da internet que adotam o sacrifício humano.
Conforme investigação policial, ela teria dito que o filho tinha que ser morto
por um “bem maior” (…!?…) O fato nos conduziu ao capítulo 9 versículo 16 do
livro Atos dos Apóstolos, onde lemos o seguinte “e o homem que estava possesso
do espírito mau pulou sobre eles com tanta violência, que tiveram de fugir
daquela casa, sem roupas e cobertos de ferimentos.” [1]
Nawaz Leghari, de 40 anos, um paquistanês
adepto do ritual de “magia negra”, estrangulou seus cinco filhos por entender
que o sacrifício conferiria a ele “poderes mágicos”. Leghari matou desse modo
suas duas filhas e três filhos, com idades variando entre 3 e 13 anos, na
madrugada de 9 de janeiro de 2015, na localidade de Saeed Jan, norte de
Karachi. O assassino estudava magia negra e resolveu fazer o sacrifício para
aumentar seus “poderes”. Leghari realizou uma “odisseia espiritual” de 40 dias
chamada “Chilla”, prescrita por um líder religioso local, com quem estudava
alquimia. O paquistanês tentou inicialmente envenenar sua família durante o
jantar, mas sua mulher o impediu após uma violenta discussão. A esposa e o
filho mais velho decidiram passar a noite na casa de parentes, deixando os
outros filhos com o pai, que os estrangulou um a um. [2]
Historicamente, quando o homem era ainda
fisicamente parecido com os primatas, suas manifestações de religiosidade eram
as mais bizarras, até que, transcorridos os anos, no mistério dos séculos,
surgem os primeiros organizadores do pensamento religioso que, de acordo com a
mentalidade geral, não conseguiram escapar das concepções de ferocidade, que
caracterizavam aqueles seres egressos do egoísmo animalesco da irracionalidade.
O homem foi levado a crer que os sacrifícios humanos poderiam agradar a Deus,
primeiramente por não compreenderem Deus como sendo a fonte da bondade. Os
povos primitivos e politeístas adoravam os deuses através de oferendas, cultos,
rituais que geralmente comportavam sacrifícios de animais ou de seres humanos.
Como nos esclarece a questão 669, de O Livro
dos Espíritos, “Nos povos primitivos, a matéria sobrepuja o espírito; eles se
entregam aos instintos do animal selvagem. Por isso é que, em geral, são
cruéis; é que neles o senso moral ainda não se acha desenvolvido. Em segundo
lugar, é natural que os homens primitivos acreditassem ter uma criatura animada
muito mais valor, aos olhos de Deus, do que um corpo material. Foi isso que os
levou a imolarem, primeiramente animais e, mais tarde, homens”.[3] De
conformidade com a falsa crença que possuíam, pensavam que o valor do
sacrifício era proporcional à importância da vítima.
O espírita convicto não acredita no poder
irrestrito das forças dos espíritos maus nos pactos de “magia negra” com os
mesmos. Há, no entanto, encarnados perversos, no limite da loucura, que
simpatizam com os espíritos inferiores (violentíssimos) e solicitam que eles
pratiquem o mal, ficando então obrigados a servi-los, porque estes também
precisam da “recompensa” pelo empenho no mal. Nisso, apenas, é que consiste o
tal pacto. Em O Livro dos Espíritos, os Benfeitores elucidam: “por exemplo –
queres atormentar o teu vizinho e não sabes como fazê-lo; chamas então os
Espíritos inferiores que, como tu, só querem o mal; e para te ajudar querem
também que os sirva com seus maus desígnios. Mas disso não se segue que o teu
vizinho não possa se livrar deles, por uma conjuração contrária ou pela sua
própria vontade”.[4]
Nos sinistros casos analisados acima, podemos
inferir sobre um processo de subjugação profunda, lembrando, porém, que a
“possessão” é sempre temporária e intermitente, porque um desencarnado não pode
tomar, definitivamente, o lugar de um encarnado. A rigor, o tema “magia negra”
ainda não foi estudado de forma abundante pelos pesquisadores espíritas. Há
pessoas que não acreditam na possibilidade da existência dos conjuros
(“trabalhos feitos”), como é às vezes conhecida a “magia negra”. No entanto, um
estudo cuidadoso do tema em O Livro dos Espíritos, e na Revista Espírita,
comprova que essas manobras mediúnicas, com a finalidade de prejudicar o
próximo, são perfeitamente possíveis. Como citamos acima, na questão 549,
Kardec inquire: – Há alguma coisa de verdadeiro nos pactos com os maus
Espíritos? Na resposta, os Benfeitores demonstram de maneira categórica que é
possível uma criatura evocar maus Espíritos para ajudá-la a causar mal a outra
pessoa. A resposta esclarece ainda que esse ato pode ser realizado por uma
sequência de procedimentos conhecidos como conjuração (conluio com as trevas).
Nas práticas de “magia negra” os apetrechos
materiais e os rituais são utilizados para fortalecer a má intenção nos maus
propósitos projetados naqueles contra os quais se deseja prejudicar. A
interferência espiritual é de Espíritos inferiores, que se identificam com
seres encarnados, também de qualidades morais inferiores, desejosos por
afligir, enfermar ou até matar o próximo, ou ainda, ver realizados os
interesses de ordem material. Se as criaturas visadas estiverem sintonizadas em
faixas de equivalência vibratória, não tenhamos dúvidas de que serão atingidas
por elas.
O Espiritismo analisa a gênese do fenômeno da
“possessão” como uma faculdade mediúnica desgovernada, e trata esse tipo de
manifestação através do diálogo com o Espírito subjugador, buscando compreender
suas razões para esclarecê-lo e libertá-lo da sua própria ignorância e confusão
mental. É bem verdade que os bons Espíritos nos resguardam destes malefícios,
mas não esqueçamos que urge termos mérito para tal assistência.
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