Confundem-no com Kardec, pensam que ambos
tinham a mesma idade, que um foi o professor e o outro o aluno, que viviam na
mesma cidade e que seus contatos eram constantes.
Pensar que fossem a mesma pessoa deve-se aos
nomes. Amélie-Gabrielle Boudet, a doce Gaby, esposa do Professor
Hippolyte-Léon-Denizard Rivail — que assumiu o pseudônimo de Allan Kardec
quando se tornou escritor espírita — chamava Rivail de Léon.
Aluno? Talvez discípulo. Segundo as palavras
do próprio Denis, teria havido colaboração entre dois servos de uma única
causa. Em seguida ele mesmo faz o reparo:
— Que estou dizendo, colaboração? É ainda
melhor. É mais a comunhão de duas almas perseguindo um objetivo comum.
Eram contemporâneos? Não exatamente, pois
Denis nasceu em 1846, em Foug, na região francesa da Lorena, a aproximadamente
400 quilômetros de Lyon, onde, como se sabe, nasceu em 1804, mas não morou
Rivail, que estudou na Suíça e viveu até o fim da vida em Paris.
Denis conheceu o Espiritismo em 1864,
portanto com pouco menos de vinte anos de idade e esteve com Kardec apenas três
vezes: em Tours, em Benneval e em Paris, quando o visitou para ter conversas
doutrinárias.
Em 1867 ocorreu um fato que chamou a atenção
dos biógrafos: Kardec foi convidado a proferir em Tours uma palestra. Esta,
contudo, não pôde ser realizada na sala de conferências alugada, em virtude de
proibição do Segundo Império da França. Acabaram por reunir-se na casa de um
amigo, sob a luz das estrelas. Léon Denis ficou encarregado de avisar os
convidados do novo endereço da reunião. Espremidas no jardim do anfitrião,
aproximadamente trezentas pessoas ficaram em pé, porém felizes, de poder ver e
ouvir Allan Kardec.
No dia seguinte, quando Léon Denis voltou à
mesma casa, presenciou uma cena bucólica, que atestou a coerência entre o que o
codificador escrevia e pregava e a sua prática, sobretudo no âmbito familiar.
Em pé sobre um pequeno banco, Rivail colhia cerejas e as entregava à esposa
Gaby.
E quanto às posições social e financeira de
Rivail e de Denis? Havia alguma semelhança? De forma alguma. Aproximar-se do
Espiritismo, para o consagrado professor de Lyon, foi um péssimo negócio, sob o
aspecto econômico. Se houvesse guardado prudente distância dos fenômenos
espíritas e não se tivesse transformado na personagem de seu pseudônimo, Allan
Kardec poderia ter vivido tranquilamente de seus ganhos como professor,
tradutor e contabilista. Preferiu, entretanto, renunciar àqueles ganhos em prol
de sua contribuição à humanidade como codificador do Espiritismo.
Já para Léon Denis, desde o nascimento sua
vida foi pautada por enormes dificuldades financeiras. Por várias vezes
precisou interromper os estudos, para auxiliar o pai. Ainda jovem, foi obrigado
a assumir a responsabilidade da manutenção da família.
Não obstante, Léon Denis teve importância
fundamental, ao lado de Alexandre e Gabriel Delanne — pai e filho — e de Amélie
Boudet, ao resgatar o verdadeiro conteúdo do Espiritismo, através de palestras,
distribuição gratuita de obras básicas e na manutenção do periódico Le
Spiritisme, após o desencarne de Allan Kardec.
Léon Denis seguiu o caminho aberto por Allan
Kardec e lutou com todas as suas forças para a continuidade da difusão da
Doutrina Espírita, mesmo com as defecções e os problemas causados por alguns
equivocados sucessores do codificador.
A exemplo do mestre lionês, Léon Denis sempre
caminhou firmemente — mesmo com sérios problemas nos olhos, que culminaram com
sua cegueira, ao final da vida —, sem desfalecer nem desanimar. A proteção e a
assistência dos bons espíritos jamais lhe faltaram.
Diante de todas as dificuldades por que
passou, muito semelhantes, em vários aspectos, às asperezas vividas por Allan
Kardec e sua esposa Gaby, rendamos nosso respeito e homenagem a esse verdadeiro
continuador da obra da codificação.
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