Por
Marcos Villas Bôas
As leis herméticas, descobertas há 5.000 anos, vêm sendo mais bem compreendidas com os avanços científicos e são uma chave para decodificar o todo.
Por volta de 2.600 a.C, indivíduos muito
sábios, provavelmente sacerdotes egípcios, ficaram conhecidos como Hermes
Trimegisto.
Ao contrário do que se pensa, o descobridor
das leis herméticas não foi uma única pessoa, mas um grupo que deixou dezenas
de livros sobre teologia, filosofia, medicina e outros temas.
“Trimegisto” significa “o três vezes grande”,
o que propõe a conclusão de que o grupo era composto por três grandes sábios. É
quase consenso que um deles era Ihmotep, sumo sacerdote do templo de Rá e vizir
do faraó Djoser.
As leis herméticas, ou princípios da
filosofia hermética, são estudadas pelas mais diversas civilizações desde
então, sendo a base, inclusive, da maçonaria, dos rosacruzes, dos alquimistas e
de outros grupos de estudos esotéricos, ocultistas e espiritualistas. Os
filósofos gregos, como Platão, também foram claramente influenciados pelas leis
herméticas.
O grande público, alheio a esses
conhecimentos, o trata como místico e de interesse de alguns “lunáticos”, mas
será que, se não houvesse vestígios históricos comprovando fatos, a constatação
de personalidades importantes em torno deles e se os próprios conhecimentos não
fossem de grande utilidade para a vida, haveria tantos sábios interessados
neles ao longo de tanto tempo?
O fato é que o conhecimento das leis
herméticas, redigidas quase 5.000 anos atrás, continua atual e fazendo cada vez
mais sentido à medida em que os humanos avançam. Neste texto inicial,
trataremos da primeira lei ou princípio hermético: mentalismo, que diz o
seguinte: “O todo é mente; o universo é mental.”
Diz-se hoje que o cosmo não é um único
universo, mas multiversos. A ciência parece estar longe de decodificar uma
porção de coisas. Muitas das teorias hoje aceitas na cosmologia datam de 10, 20
ou 50 anos, ou seja, muito do que era tido por verdade ao longo de milênios
caiu ou avançou e muito do que é tido por verdade hoje deve cair ou avançar nas
próximas décadas.
Como este todo infinitamente complexo seria
criado do nada, sem que alguma inteligência estivesse por trás disso? Como
engenhosíssimos sistemas seriam criados todos interligados, seja no espaço,
seja no corpo humano, sem que algum tipo de consciência, de inteligência,
desenhasse tudo isso?
As filosofias esotéricas, ocultistas e
espiritualistas mais avançadas não trabalham com a ideia muito presente nos
últimos milênios de um Deus religioso, antropomórfico, do tipo de um homem
velho e barbudo que precisa ser adorado e que pune. O criador, o grande
arquiteto universal, ou qualquer outro nome que se dê, é compreendido como uma
consciência onipotente, onisciente e onipresente.
Esse todo funciona de modo imensamente
interconectado, surgindo daí diversas teorias, como a de Gaia. Qual seria a
explicação para fatos em um lado do planeta gerarem efeitos do outro lado?
Parece lógico que existe uma “máquina mental”, “engrenagens”, fazendo tudo
funcionar.
As teorias do Big-Bang e da evolução, hoje
comumente aceitas em termos científicos para efeitos de criação do cosmo e dos
seres vivos, não explicam bem como uma explosão poderia gerar esse todo
imensamente complexo e interconectado. O que existia antes da explosão? O que a
desencadeou? Como surgiu o primeiro ser vivo? Todos evoluíram a partir dele? Há
ainda inúmeras lacunas na ciência e muitas peças deverão ser substituídas ou
desenvolvidas.
A existência de uma consciência suprema já
havia sido percebida por Hermes Trimegisto. Tudo é mente. Para não confundirmos
“mente” e “consciência”, diferenciação já realizada em outros textos deste
blog, definiremos aqui “mente” como o ego, a personalidade, e consciência como
a essência inteligente, como o que está por trás da criação e do direcionamento
das coisas.
O que a lei hermética chamava de mente,
portanto, denomina-se aqui de consciência. Aquele que se chama de Deus, além de
ser uma consciência suprema que tudo rege, também criou seres conscientes,
partes dele, que são cocriadores. Toda consciência e, portanto, todo ser humano
é um cocriador do todo.
A Física Quântica já comprovou e registrou na
teoria onda-corpúsculo que todo átomo é composto de matéria e energia. Assim,
os próprios seres vivos são matéria e energia. Enquanto energia, é bem possível
que estejamos todos ligados por ondas, por vibração. Isso ajudaria a explicar a
telepatia e vários outros fenômenos. Aquilo que as consciências emitem
vibratoriamente molda, portanto, o mundo delas.
Pensamento é vibração e esta é onda
energética, mas também é matéria, pois, como prescereve a lei hermética da
polaridade, tudo advém dos mesmos elementos, constituindo-se mais como matéria
ou mais como energia apenas pelos diferentes graus e manifestando-se mais como
um ou outro a depender do observador. Então, os próprios pensamentos têm forma
de matéria/energia.
Isso nada tem a ver com religião. As
tradições religiosas, quase sempre interessadas em dominar o conhecimento, em
se tornar a “verdadeira doutrina”, foram responsáveis muitas vezes por afastar
a humanidade dos conhecimentos esotérico, ocultista e espiritualista. Também
não se pode ser ingênuo a ponto de afirmar que esses conhecimentos não sejam
repletos de exageros e equívocos, pois a tentativa e erro faz parte do processo
de evolução do conhecimento.
É preciso ter muito cuidado para não
confundir os novos conhecimentos que quebram paradigmas sedimentados, com
crenças religiosas pautadas apenas em dogmas e achismos. Por outro lado, as
religiões têm serventia para muitos que se afinizam com elas. Como tudo é
vibração e afinidade, cada um vai se agregando onde se encontra, tornando-se um
participante de determinado grupo.
Todos nós somos observadores e/ou
participantes nos mais diversos acontecimentos, enuncia a Física Quântica e
outras disciplinas. Tudo o que é observado é alterado, haja vista que aquilo
entendido por cada um já é resultado das suas próprias percepções e depende da
posição de observação em que se encontra, que não é necessariamente física,
podendo mudar conforme os referenciais que cada um carrega, os quais serão
determinantes para o tipo de observação realizada.
Com essa definição de observador, ele já é em
si um participante no sentido de que interfere naquela realidade. A
diferenciação de observador x participante fica resumida à ideia de que
participante é quem perpetra o fato, praticando um comportamento mais
evidente.
A construção da realidade pelo observador
está no plano da própria consciência, do subjetivismo de cada ser, assim como
na emissão de “formas-pensamento” e, com elas, de vibrações. Nota-se aqui a
participação tanto da consciência quanto da mente. Nesse ponto surgem as
inúmeras ilusões do ego, que decorrem do modo como cada ser apreende o mundo a
sua volta.
Quanto mais individualista, desconectada da
consciência suprema, é a apreensão de realidade, mais ilusória ela será, pois,
se há uma inteligência regendo tudo, é preciso se conectar a ela para construir
ideias que façam sentido. Por tudo ser subjetivo e cocriado, dentre outras
razões que abordaremos nos textos a respeito das demais leis, não existe
verdade.
Como cocriamos a realidade, somos
observadores que partem de referenciais e como não existem verdades, além de
outras razões, apesar de respeitar muito as religiões e os religiosos, e de
trabalhar em conjunto com eles, este autor prefere não adotar uma religião,
pois elas, de um modo geral, pressupõem conhecer as verdades do mundo ou serem
as grandes consoladoras prometidas, quase sempre em detrimento das demais, e
terminam se tornando círculos fechados de conhecimento, com referenciais
limitados.
Toda escola, doutrina ou corrente que não
seja extremamente aberta, profunda conhecedora das demais e que não esteja em
constante inter-relação com o todo já é uma limitação em si ao pleno progresso
humano. Deste modo, para não se atravancar, quem opta por ser religioso poderia
ser, ao menos, transreligioso: adepto de uma religião com a qual se identifica,
mas em constante relação de aprendizado com todas as demais. A evolução humana
levará tudo a ser "trans": transdisciplinar, transcultural etc.
Se toda a construção da realidade depende da
posição do observador, da perspectiva, do seu referencial, parece inegável que,
quanto mais referenciais, mais ampla será a realidade criada. Tendo havido
inúmeros mestres na humanidade, por que seguir ou estudar apenas um? Por que
escolher apenas Buda e não estudar Jesus, e vice-versa? Por que estudar apenas
Allan Kardec e deixar de lado Helena Blavatsky, Jiddu Krishnamurti, Osho ou
mesmo Rubens Saraceni (médium que escreveu diversas obras da Umbanda Sagrada)?
Como dizia Osho, o Deus religioso,
antropomórfico, criado por homens para controlar outros, precisa morrer para
dar lugar a um Deus científico-filosófico, que passe pelos crivos do sentir, da
intuição e da razão.
Nesse caso, o Espiritismo, que não foi
codificado como religião tradicional por Kardec, mas assim ficou distorcido por
parte do movimento espírita, tem uma definição de Deus muito próxima daquela de
filosofias orientais, da Teosofia e dos que unem esses conhecimentos com a
Física Quântica e outros temas tidos pelos céticos como mais sérios.
Essas ideias ficarão mais claras à medida em
que avancemos sobre as demais leis herméticas. Para o bom observador que queira
compreender a realidade com uma consciência aberta e se tornar mais uno com a
consciência suprema, vale a pena se debruçar sobre todo o conhecimento razoável
que existe desde Hermes Trimegisto até hoje. Há muito mais entre o céu e a
terra que as nossas vãs filosofia, ciência e teologia possam imaginar.
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