Sílvia Lisboa
Ainda não existem hipóteses científicas que
sustentem a concepção de algum tipo de alma que sobreviva à morte
Chico Xavier doou todos os direitos autorais
dos mais de 400 livros que escreveu em vida. O gesto não era apenas
generosidade do médium. Ele dizia que não havia escrito nenhum livro. “Eles
escreveram”, repetia.
De acordo com a ciência, Chico não poderia
falar com os mortos, claro. Tudo teria sido produzido pelo seu próprio cérebro.
Se ele ouvia vozes, eram vozes produzidas por sua mente.
Afinal, a ciência mostra que a consciência (a
mente, ou a alma) é fabricada pelo cérebro e está confinada nele. Ou seja,
quando o corpo morre, a consciência desaparece.
Não existem hipóteses científicas que
sustentem a concepção de algum tipo de alma que sobreviva à morte.
Mas, diante do acúmulo de casos como o de
Chico Xavier, que não foi explicado pelas leis da natureza ou considerado
categoricamente como fraude, um grupo de cientistas decidiu questionar a
ciência – e não os médiuns.
A conclusão dos pesquisadores está no livro
Irreducible Mind (“Mente Irredutível”, sem tradução para o português).
A obra parte da lógica de que fenômenos como
a mediunidade, a telepatia e experiências de quase-morte são indícios de que o
modelo teórico vigente nos meios científicos é incompleto.
Os autores defendem uma mudança na forma de
encarar casos como o de Chico: tirá-los do campo do folclore e da superstição e
analisá-los. Hoje, são ignorados.
Para o grupo coordenado pelo psiquiatra da
Universidade da Virgínia (EUA) Edward Kelly, a ciência vem ignorando um
princípio científico básico, o da “falseabilidade”, defendido pelo filósofo
Karl Popper.
Popper dizia que era muito fácil – e perigoso
– ficar catando evidências favoráveis para defender uma tese. Difícil era encontrar
o argumento que a desmontaria de vez.
Para Popper, todo cientista sério deveria
estar sempre procurando um furo na sua tese – e não o contrário.
Kelly e seus colegas defendem que a
mediunidade pode ser um desses furos – e pode desvendar o mistério da
consciência, que instiga filósofos e cientistas há mais de 2 mil anos.
Eles acreditam que parte do problema está em
considerar mente e cérebro uma coisa só. Em Irreducible, os pesquisadores
propõem que o cérebro seja encarado como um aparelho de TV.
A consciência seriam seus programas. Um
defeito na TV pode alterar a qualidade da imagem, mas não necessariamente o
conteúdo dos programas – eles não existem apenas dentro daquele aparelho.
Ou seja, sem a TV, não podemos enxergar nosso
seriado favorito, mas ele existe mesmo assim. Só não pode ser assistido.
Funcionaria de um jeito parecido com a
consciência: dependemos do cérebro para percebê-la, mas ela não está, segundo a
proposta, confiada dentro do aparelho (o cérebro).
E isso garantiria sua sobrevida além do
corpo, abrindo a possibilidade de explicar a ideia de que a consciência segue
vagando por aí após a morte e pode se comunicar com as outras consciências,
vivas ou não.
Kelly e os colegas não sabem dizer se estão
certos nem têm provas irrefutáveis a favor dessa concepção. Eles oferecem a
hipótese apenas para sensibilizar seus colegas da psicologia e da neurociência.
Querem que os cientistas tradicionais
questionem suas convicções e prestem mais atenção em fenômenos hoje ignorados,
como a mediunidade.
Os argumentos a favor dessas teorias ganham
força com alguns estudos, como uma pesquisa publicada há dois anos na
prestigiada revista científica Plos One.
Em parceria com a Universidade Federal de
Juiz de Fora e com a Universidade da Pensilvânia, o psicólogo e neurocientista
Julio Peres, da USP, viajou aos Estados Unidos com dez médiuns brasileiros.
Os voluntários eram destros e tinham entre 15
e 47 anos de experiência mediúnica – cada um com, em média, 18 psicografias por
mês. Nenhum deles tinha transtorno mental diagnosticado.
No Centro de Radiologia e Medicina Nuclear da
Universidade da Pensilvânia, na Filadélfia, os voluntários receberam uma
substância radioativa para captar a atividade cerebral por meio de um exame de
imagem chamado spect.
Peres e Andrew Newberg, o cientista americano
conhecido por estudar o cérebro de freiras rezando e monges em meditação,
avaliaram as diferenças nas imagens do cérebro dos voluntários em dois
momentos: durante a psicografia e fora do estado de transe, escrevendo um texto
comum, de autoria “própria”.
Os resultados mostraram uma diferença
significativa. Em transe, enquanto supostamente escreviam guiados pela voz ou
pela mão dos espíritos, os médiuns apresentaram níveis mais baixos de atividade
no lobo frontal, que está associado à razão, à linguagem e ao planejamento.
“Esse resultado possivelmente reflete a
ausência de consciência na psicografia”, explica Peres. Enquanto escreviam
normalmente, essas regiões cerebrais, que costumam estar alertas durante uma
tarefa intelectual, como a escrita, voltavam ao normal.
Os cientistas resolveram, então, comparar o
conteúdo dos dois textos. Se era verdade que o cérebro estava com a capacidade
de raciocínio limitada durante a psicografia, os pesquisadores levantaram a
hipótese de que os textos produzidos em transe refletissem isso e fossem mais
pobres.
Para a surpresa geral, ocorreu justamente o
contrário. O conteúdo das psicografias era mais complexo e elaborado do que os
textos feitos em estado pleno de consciência.
Entre os médiuns mais experientes, essa variação era ainda mais
perceptível.
“Os médiuns referem que ‘a autoria dos textos
psicografados foi dos espíritos comunicantes e não pode ser atribuída a seus
próprios cérebros’. Essa é, sim, uma hipótese plausível entre as várias possibilidades
de compreendermos esses primeiros achados”, diz Peres.
Opiniões à parte, o estudo tem pelo menos uma
conclusão clara: mesmo que tudo seja obra da mente dos médiuns, como diz a
ciência, boa parte deles não tem consciência disso.
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