Por Marcos Villas-Bôas
Como visto no último texto, o brilhante
educador, estudioso e pensador Hippolyte Léon Denizard Rivail, que assumiu
pseudônimo de Allan Kardec aos seus 52 anos de idade, se comunicou com
Espíritos por meio de médiuns ao longo de vários anos e, após longas observações
e experimentações, apesar do seu inicial olhar incrédulo, concluiu que o ser
humano não tem apenas um corpo material.
Décadas antes de a Física Quântica provar que
o átomo não é totalmente material, nem uma matéria porosa, mas um misto de
matéria e energia, a Ciência Espírita já o tinha feito, mas por seus próprios
métodos.
Vide, por exemplo, os itens 30 e 33 de O
Livro dos Espíritos, obra publicada em 1857:
“30. A matéria é formada de um só ou de
muitos ementos?
‘De um só elemento primitivo. Os corpos que
considerais simples não são verdadeiros elementos, são transformações da
matéria primitiva’.
33. A mesma matéria elementar é suscetível de
experimentar todas as modificações e de adquirir todas as propriedades?
‘Sim e é isso o que se deve entender, quando
dizemos que tudo está em tudo’”.
Vide também o item 135 de O Livro dos
Espíritos:
“135. Há no homem alguma outra coisa além da
alma e do corpo?
‘Há o laço que liga a alma e o corpo’.
- De que natureza é esse laço?
‘Semimaterial, isto é, de natureza
intermediária entre o Espírito e o corpo. É preciso que seja assim para que os
dois se possam comunicar um com o outro. Por meio desse laço é que o Espírito
atua sobre a matéria e reciprocamente’”.
A Ciência Espírita explica que o corpo
material visível tem, “dentro dele”, um Espírito (ou alma) a ele ligado pelo
que se convencionou denominar de “períspirito”. Em analogia, o períspirito é o
corpo material do Espírito. Quando o indivíduo morre, o corpo material, o
invólucro, perece. Seus restos deterioram. O Espírito e o períspirito, por
outro lado, continuam vivendo, exceto, como veremos, por uma camada do
períspirito que se forma quando ele está ligado ao corpo.
O Espírito é a inteligência, é onde está o
centro de energia, de vontade, de decisão do ser humano. É ele que anima o
cérebro e o usa dentro de suas capacidades. Já foi comprovado em estudos que,
quando o médium está em acoplamento mediúnico com um Espírito mais evoluído, as
ondas produzidas nos instrumentos aumentam de tamanho e ocupam mais partes do
cérebro. Sobre a experiência, vale assistir, por exemplo, ao relato da médica e
médium Mônica de Medeiros no excelente documentário “No meio de nós”,
disponível no Youtube.
Isso mostra que, de fato, como a ciência já
indicava, o cérebro ainda é subutilizado pelos seres humanos em geral que
habitam a Terra neste momento, pois, com a evolução, ele passará a ser mais bem
aproveitado.
Na falta de melhor definição, os seres
espirituais explicam que o Espírito em si (em sentido estrito) é como uma
“chama”, mas o que aparece materialmente é o períspirito, um fluido
semimaterial invisível, até então, à maioria dos seres humanos encarnados, mas
visível aos Espíritos desencarnados e a alguns poucos desses humanos
encarnados.
Segundo a explicação dos Espíritos, tudo é
energia, fluido ou matéria, mas o próprio fluido é uma matéria etérea. Tudo
viria, ainda segundo eles, de um elemento básico chamado de fluido universal, o
éter, cuja existência é amplamente aceita na Física, inclusive por Albert
Einstein.
Se houvesse vazio, o som não se propagaria.
Há muitos séculos, boa parte dos físicos parece concordar que estamos submersos
num éter, num fluido universal. É ele que permite, por exemplo, a transmissão
de pensamentos por meio da telepatia, esta, por sua vez, amplamente comprovada
pela Metapsíquica.
Então, aparentemente, tudo o que existe é
resultado de diferentes graus de vibração desse fluido cósmico ou universal, o
que o torna bastante etéreo (energia), mais ou menos etéreo (fluídico) ou
pouco, quase nada etéreo (matéria).
Fundamental lembrar, em se tratando desse
assunto, dos repetidos ensinamentos dos Espíritos sobre os constantes erros
humanos causados pela linguagem. Classificações como “energia/fluido/matéria” e
“espírito/perispírito/corpo” são utilizadas por amor à redução das coisas em
partes mais facilmente explicáveis, mas, se não tomados os devidos cuidados, o
reducionismo tender a causar inúmeras confusões.
É mais importante entender, portanto, a ideia
e a função das coisas, ficando atento para a maleabilidade das palavras, que
geram tantas vezes ambiguidades. O termo “Espírito” pode ser utilizado para
denominar tanto a “chama”, a inteligência, quanto a “soma” dela com o
perispírito. O Espírito que vaga na erraticidade é uma “soma” dos dois. O termo
“matéria” pode ser utilizado para denominar tanto o corpo humano denso quanto o
períspirito, fluido semimaterial e, portanto, um tipo de matéria.
Os problemas linguísticos não param por aí,
pois, além da ambiguidade, há questões de complexidade, ou seja, de coisas que
são duas coisas ao mesmo tempo. A Física Quântica não provou que o átomo se
comporta ora como energia (onda) e ora como matéria (corpúsculo)?
Isso porque ele tem das duas coisas,
revelando em alguns dos testes o efeito produzido pelo que se convencionou denominar
de energia e, em outros, o efeito produzido pelo que se convencionou denominar
de matéria. A depender do grau de vibração, haverá mais comportamento de
energia ou mais comportamento de matéria.
Percebe-se que há graduações do fluido
universal, que se combina de várias formas possíveis, podendo dar um nó na
cabeça daqueles presos a classificações rígidas, reducionistas.
Como essas graduações são realizadas apenas
para efeitos didáticos, acaba que a energia, em regra, é também matéria,
enquanto que a matéria é também energia. Isso tudo, explicado pelos Espíritos e
registrado por Allan Kardec ainda em meados do século XIX, foi comprovado pela
Física Quântica, indicando que, de fato, Kardec recebeu comunicações de
inteligências superiores. Mas, vamos à questão do peso dos Espíritos.
Se a parte mais densa dos Espíritos
(inteligência + perispírito) é o seu períspirito, apenas ele poderia ser pesado
para efeito de comprovar a existência dos Espíritos. Acontece que acabamos de
afirmar ser o perispírito semimaterial e, ainda, os Espíritos explicam que, em
condições normais, ele é imponderável.
Se ele não é ponderável, se nem conseguimos
vê-lo com os olhos e se aqueles que conseguem vê-lo, na verdade, o fazem com um
“terceiro olho”, usando um sexto sentido que vem do próprio Espírito; como
admitir que o períspirito, em seu estado mais normal, tem um peso apreensível
pelos instrumentos humanos existentes?
Se o períspirito é semimaterial, ele tem
alguma massa, alguma densidade e algum peso, mas, por ser uma matéria tão
etérea, que se apresenta mais como energia do que matéria na concepção humana
atual, ele não poderia ser aferido por uma das balanças existentes hoje, por
mais precisa que fosse.
Há, então, duas hipóteses de respostas mais
evidentes para o peso da alma encontrado em experimentos científicos realizados
ao longo do século XX. Seja numa hipótese, seja na outra, a existência dos
Espíritos se comprova de qualquer forma. No entanto, mais do que esses
experimentos materialistas, abre-se parênteses para dizer que não existe nada
mais cabal dos que as provas inteligentes dadas pelos Espíritos em
comunicações, como contar fatos que mais ninguém sabia e assinar cartas com a
exata assinatura da pessoa desencarnada que ele diz ser.
A primeira hipótese à questão posta acima é
que o perispírito, enquanto fluido semimaterial amplamente modificável, quando
está encarnado no corpo sofre, como explicam os Espíritos, modificações que lhe
tornam um pouco mais denso, mais próximo da matéria do corpo humano externo.
Assim, ele passaria a ser ponderável e ter um pequeno peso.
A segunda hipótese seria que, nessas
condições, mesmo enquanto encarnado no corpo, o perispírito não tem peso e as
teorias sobre o peso do Espírito seriam falsas, o que não retiraria, contudo, a
possibilidade de pesá-lo quando, uma vez desencarnado, se densifica em
materializações, o que foi feito, por exemplo, pelo gênio científico William
Crookes, como será ainda demonstrado em textos futuros.
O americano Duncan MacDougall realizou sério
estudo para tentar descobrir o peso da alma e, assim, comprovar a sua
existência. Ele pesou o corpo de diferentes pessoas doentes que iriam
provavelmente morrer e verificou alterações no seu peso logo após a perda dos
sinais vitais, da morte.
As experiências estão registradas no seu
artigo publicado em maio de 1907 no Journal of the American Society for
Psychical Research (Jornal da Sociedade Americana para Pesquisa Psíquica),
intitulado Hypothesis Concerning Soul Substance Together with Experimental
Evidence of the Existence of such Evidence (Hipótese concernente à substância
da alma juntamente com evidência experimental da existência de tal substância),
facilmente encontrado na Internet.
MacDougall utilizou uma maca especial,
preparada para servir como balança, de modo que ele poderia ficar aferindo o
peso do indivíduo ao longo do tempo. Ele explica que verificou a média de perda
de peso dos doentes decorrente da umidade respiratória e do suor, então essa
não seria a razão da queda de peso na morte. Ele procurou também afastar a
hipótese do ar nos pulmões, subindo na balança de precisão, enchendo e
esvaziando os pulmões, o que não produzia alteração significativa no peso.
O primeiro paciente, que foi pesado ao longo
de 3 horas e 40 minutos enquanto estava vivo, após a sua morte teve uma perda
quase instantânea de 3/4 de uma onça (28,3495 gramas), o que significa
aproximadamente 21 gramas. Daí surgiu a ideia de que a alma pesa 21 gramas e, inclusive,
um famoso filme de Hollywood com esse título, dirigido pelo mexicano vencedor
duas vezes (2015 e 2016) do Oscar de melhor diretor, Alejandro González
Iñárritu.
Os demais pacientes tiveram perdas de peso em
medidas distintas, mas relativamente próximas. Quando havia qualquer fator que
pudesse interferir no resultado, MacDougall descartava o experimento.
No caso do segundo paciente, quando ele parou
de respirar houve uma perda quase instantânea de metade de uma onça, ou seja,
aproximadamente 14 gramas. Ele e seu colega gastaram alguns minutos examinando
o paciente para confirmar a morte. Quando auscultado o coração, estava parado.
Com nova pesagem, o resultado foi a perda de 1 onça e meia, mais 15 grãos
(grains), o que totalizaria aproximadamente 42 gramas.
Partindo do pressuposto de que, após a morte,
a alma se desprende, isso poderia indicar que o desenlace não é instantâneo,
algo que os Espíritos afirmam claramente. Vale a pena assistir ao vídeo sobre
“A Morte de Dimas” no Youtube, no qual há uma representação da explicação do
Espírito André Luiz sobre como acontece o desencarne na morte.
MacDougall explica o experimento em outros
pacientes e, naqueles aproveitados, os resultados foram semelhantes. Quando o
artigo foi publicado, causou grande alvoroço nos Estados Unidos, tendo sido,
inclusive, objeto de notícia do New York Times. Como era de se esperar, muitos
apresentaram hipóteses para a perda de peso de modo a afastar a teoria de que a
alma existiria e de que teria peso.
As obras espíritas psicografadas, ou seja,
escritas mecanicamente por médiuns com a condução de suas mãos pelos Espíritos,
que determinam o seu conteúdo, explicam existir uma substância entre o corpo
material e o perispírito, chamada de duplo etéreo ou duplo etérico, expressão
que já existia há muito tempo em filosofias espiritualistas orientais.
Conforme a obra nos Domínios da Mediunidade,
do Espírito André Luiz, psicografada por Chico Xavier, na página 91:
“A princípio, seu perispírito ou ‘corpo
astral’ estava revestido com os eflúvios vitais que asseguram o equilíbrio
entre a alma e o corpo de carne, conhecidos aqueles, em seu conjunto, como
sendo o ‘duplo etérico’, formado por emanações neuropsíquicas que pertencem ao
campo fisiológico e que, por isso mesmo, não conseguem maior afastamento da
organização terrestre, destinando-se à desintegração, tanto ocorre ao
instrumento carnal, por ocasião da morte renovadora”.
Essa substância é uma extensão do
perispírito, que, como se sabe, é um fluido bastante maleável. É uma substância
fluídica, que vem também do fluido universal, e que dá vitalidade ao corpo. É o
chamado “princípio vital”.
Quando encarnado no corpo grosseiro, por
questões fisiológicas, o perispírito se densifica na última camada, nas suas
“pontas”, criando um corpo que é mais denso em relação a ele mesmo, porém ainda
sutil em relação ao corpo físico denso. Esse corpo, que circunda todo o
perispírito permite a filtragem do que passa de um corpo (material, o
invólucro) para o outro corpo (espiritual ou perispírito), dentro do qual está
o Espírito em sentido estrito.
Quando do desencarne de um ser humano, o
duplo etérico, que é denso e relacionado com a fisiologia humana, vai sendo
desintegrado, semelhantemente ao que acontece com o corpo.
MacDougall admitiu que, apesar de importantes
e inovadores, seus experimentos não chegavam a produzir, por si só, provas
científicas e careciam de estudos posteriores. Para se falar em prova da
existência da alma por meio de experimentos desse tipo, seria interessante que
os estudiosos conseguissem identificar o duplo etérico como uma parte do
períspirito e, então, a sua desintegração após a morte. Pelo passo dos avanços
tecnológicos e pelo que os próprios Espíritos dizem, isso acontecerá em não
mais do que 20 ou 30 anos.
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