Por Paulo Batistuta Novaes
Todo
evento humano deve ser estudado à luz do Espiritismo. Conforme o regulamento da
primeira instituição espírita: A Sociedade Parisiense de Estudos Espíritas tem
por objetivo o estudo de todos os fenômenos relativos às manifestações
espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas, históricas e
psicológicas.” Sendo resultado de um sistemático processo de observação,
análise e checagem de informações baseadas na codificação Kardequiana, o
Espiritismo desdobra-se em outros estudos que ampliam cumulativamente seu corpo
doutrinário, conferindo-lhe caráter progressivo. Nesse sentido, o exercício da
mediunidade na gravidez ainda não recebeu a devida atenção.
Considerando-se
especificamente a mediunidade, trata-se de uma faculdade inerente ao Espírito
que coloca seres humanos encarnados em contato direto com o mundo espiritual,
permitindo devassar uma outra dimensão da matéria além daquela percebida pelos
cinco sentidos. Toda pessoa pode perceber e receber influências do mundo
espiritual, porém os médiuns (pessoas possuidoras de disposição orgânica
especial) possuem o poder mediúnico ou medianímico em grau suficiente para dar
lugar a fenômenos evidentes”. O professor de fisiologia e prêmio Nobel de
Medicina (1913), Charles Richet, a considera como um sexto sentido do ser
humano. Como ensina Allan Kardec, ela se manifesta nas crianças e nos velhos,
em homens e mulheres, quaisquer que sejam o temperamento, o estado de saúde, o
grau de desenvolvimento intelectual e moral”. Para Efigênio Vitor, mediunidade
é atributo peculiar ao psiquismo de todas as criaturas.”
Todos
os livros sagrados mencionaram um dom especial necessário para acessar deuses,
anjos e demônios. Destaca-se na Bíblia um texto de Paulo de Tarso, descrevendo
detalhadamente os dons” (1 Coríntios 12 e 14). No dizer de Emmanuel, O
Evangelho é um livro de mediunidade por excelência. Da luz da manjedoura às
visões do Apocalipse, todo o Novo Testamento é um livro de mediunidade,
emoldurando a grandeza do Cristo.”
Dentre
inúmeros autores que se lançaram a esses estudos, Allan Kardec produziu o mais
completo tratado sobre mediunidade: O livro dos médiuns (1861). Ele assegura:
Os médiuns são os intérpretes dos
Espíritos; suprem, nestes últimos, a falta de órgãos materiais pelos quais
transmitam suas instruções. Daí vem o serem dotados de faculdades para esse
efeito. Nos tempos atuais, de renovação social, cabe-lhes uma missão
especialíssima; são árvores destinadas a fornecer alimento espiritual a seus
irmãos; multiplicam-se em número, para que abunde o alimento; há-os por toda a
parte, em todos os países, em todas as classes da sociedade, entre os ricos e
os pobres, entre os grandes e os pequenos, a fim de que em nenhum ponto faltem
e a fim de ficar demonstrado aos homens que todos são chamados.” (Allan Kardec.
O Evangelho segundo o Espiritismo.)
Por
outro lado, Kardec nada publicou especificamente sobre a mediunidade na
gravidez. Mas, ao que parece, a organização fisiológica e psicológica feminina
é mais propensa à mediunidade. Para Léon Denis isto ocorre e se deve a
qualidades como sensibilidade, piedade, caridade e doçura: A grande sensibilidade da mulher a
constitui médium por excelência, capaz de exprimir, de traduzir os pensamentos,
as emoções, os sofrimentos das almas, os altos ensinos dos Espíritos celestes.
Na aplicação de suas faculdades, encontra profundas alegrias e uma fonte viva
de consolações.”
Emmanuel
também ressalta que a mediunidade requer sensibilidade, motivo pelo qual as
mulheres sobressaem nesse campo. Já o Espírito Manoel Philomeno de Miranda
reproduz a fala de Gracindo, dirigente espiritual de uma veneranda instituição
espírita que a muitos acolhe e socorre através dos serviços da mediunidade. Ele
descreve sobre a missão da médium missionária Malvina
Disciplinada
pelos mentores espirituais, foram-lhe traçados os roteiros que deveria
percorrer para serem bem executados os programas superiores. Ela própria elegeu
a forma feminina, por considerar a mediunidade uma delicada expressão de maternidade
temporária e rápida, quando ocorrem os fenômenos de incorporação ou de
psicografia, acolhendo os desconhecidos com ternura e mantendo uma alta
sensibilidade em razão dos hormônios que tipificam a organização somática da
mulher.”
Assim
como Kardec, Emmanuel e André Luiz também nada escreveram objetivamente sobre o
exercício da mediunidade durante a gravidez. Mas, nesse sentido, o Espírito
Camilo ensina:
(...)
nos casos em que a gravidez se apresente sem problemas, nada há que o impeça
[da prática mediúnica]. Se a pessoa é merecedora de toda boa assistência, por
parte do Criador, no seu viver diário e comum, que tipo, então, de assistência
não terá na sua fase de gestação, em se tratando de mulher? Tanto o trabalho da
passividade mediúnica, quanto as demais atividades da reunião serão muito bem
desenvolvidas pela gestante, até o período em que demonstre cansaço, pelo tempo
que passará sentada quando o bom senso mostrar que se lhe está tornando
sacrificial a atividade, em razão de precisar levantar-se, mover- se,
deitar-se. Aí, então, poderá ser dispensada da lida, uma vez que a gravidez é
fenômeno perfeitamente natural previsto pela Divindade, que investe em cada
encarnação as mais pujantes bênçãos.”
Lançando
luzes sobre este tema, Divaldo Franco respondeu às questões: Até quando uma
mulher em gestação pode permanecer atuando em reuniões mediúnicas? É prejudicial
ao feto o labor psicofoónico exercido pela mãe?” Resposta: Os processos da
reencarnação, assim como os da psicofonia são muito distintos. O primeiro
permite ao Espírito vincular-se profundamente ao corpo em formação, nutrindose,
de algum modo, das energias maternais, que contribuem eficazmente para a
organização celular do futuro ser. O segundo ocorre através da imantação,
perispírito a perispírito, entre o desencarnado e o médium, sem que isso afete
o processo reencarnatório em andamento. Não obstante, quando se tratar de uma
gravidez com problemas, é justo que se interrompam quaisquer atividades que
lhe agravem o desenvolvimento. No transcurso de gestações normais, o
inconveniente será sempre de natureza fisiológica, a partir do sétimo mês, mais
ou menos, quando a postura se torna desagradável e a exigência de um largo
período para a mulher permanecer sentada pode tornar-se cansativo. Os
Benfeitores espirituais, com os quais mantenho contato, informam que os médiuns
em gestação podem exercer a faculdade normalmente, sem qualquer dano para a
gravidez, evitando, porém, quanto possível, as comunicações violentas, que a
mediunidade disciplinada pela Doutrina Espírita sempre sabe conduzir com
equilíbrio.” A reflexão sobre este tema é justa, cabendo ainda a experimentação
empírica, pois trata de importantes eventos da vida das mulheres, a gravidez e
a mediunidade, e como estes lhes impactam de forma objetiva: podem ou não
prosseguir na prática mediúnica, quando se descobrirem grávidas?
0 Comentários