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Quando um líder espiritual transcende os
dogmas específicos de sua religião, para trabalhar por princípios universais,
que estão presentes em todas as formas de espiritualidade ou filosofias
progressistas e humanistas – esse líder se torna admirado por todos e todas que
se sentem confortados e estimulados por verem alguém que se importa com o que
realmente importa.
Assim foi por exemplo o santo mais popular
dentro e fora da Igreja Católica, Francisco de Assis. Assim foi Gandhi, assim
foi Martin Luther King. Não por acaso, o Papa que está agora na chefia da Igreja
Católica Apostólica Romana adotou o nome de Francisco. Não por acaso, esse
santo é o protetor dos animais, um precursor de ideias ecológicas, porque era
capaz de sentir compaixão e conexão com todas as formas de vida. Falava com os
pássaros e amansava os lobos.
Na mesma trilha de Francisco de Assis, que na
vigência das Cruzadas, teve um gesto de diálogo com o sultão muçulmano
Melek-al-Kamel,esse Francisco do século XXI se abre ao diálogo com outras
tradições espirituais e abre a Igreja para os povos nativos da Amazônia,
ouvindo-os e finalmente reconhecendo a dívida secular de colonização e opressão
europeia, de que a Igreja infelizmente fez parte, salvo exceções. Lembro aqui
da primeira pessoa que denunciou as matanças e a devastação das Américas pelos
colonizadores: o frade dominicano Bartolomé de Las Casas.
Na história das religiões – e isso é muito
claro na história da Igreja Católica – sempre temos aqueles que se aproveitam
da estrutura hierárquica, do poder sobre as consciências, para oprimir, explorar,
dominar e colonizar as consciências. E sempre há aqueles outros que vivem de
fato os princípios superiores que a sua tradição preconiza: o serviço à
comunidade, a fraternidade, a compaixão, o esforço pela paz e pelo respeito à
dignidade humana. Entre esses últimos, estão os missionários, os santos, os
iluminados, como nessa semana relembramos Irmã Dulce, que acaba de ser
canonizada por esse mesmo Papa, como a marcar o quanto a entrega aos que
precisam e a preocupação com o social devem fazer parte imprescindível de uma
vida que se pauta no cristianismo.
O Papa Francisco, desde que subiu ao
Vaticano, como líder da Igreja, tem se destacado por seu humanismo, sua
mentalidade aberta, seu engajamento por um mundo melhor, criticando sem
reservas o capitalismo impiedoso com o ser humano e predatório da natureza. Tem
por isso sofrido perseguições internas e externas, principalmente com o
instrumento de ataque mais comum em nossa sociedade virtual: as fakenews.
Na abertura do Sínodo da Amazônia, vimos o
Papa fazer uma bela homilia, mas seu rosto está cansado.
Trata-se de um Sínodo histórico, pois além de
procurar integrar a voz indígena, pode (tomara que se consiga) empoderar
mulheres para assumirem o papel sacerdotal.
Embora eu faça parte de uma filosofia (a
espírita) em que não consideramos a necessidade e a pertinência de sacerdócio,
essa devolução histórica da Igreja às mulheres seria algo justo, devido e para
ser celebrado.
Trata-se também de um Sínodo histórico, por
trabalhar num patamar de ideias que Leonardo Boff, por exemplo, vem
desenvolvendo e que o próprio Papa Francisco desdobrou: a ecoteologia. Uma
teologia que reconhece a presença de Deus na natureza e se preocupa com o
cuidar da nossa casa terrena – uma urgência urgentíssima.
Acima de tudo, o que me encanta em Francisco
e lhe confere a autenticidade de um líder que vive o que prega e não está
fazendo apenas marqueting populista: seu despojamento verdadeiramente
franciscano. Anda no meio do povo, desce do trono de Pedro, pega fila para o
café, vive com simplicidade. Os Papas, durante muitos séculos, foram adorados
de joelhos, cobertos de ouro e púrpura – e essa foi uma das críticas de Lutero,
que quebrou a hegemonia da Igreja Católica, pretendendo refundar o cristianismo
de forma mais fiel à proposta de Jesus. Passados 500 anos – vejam só como o
mundo dá voltas – temos um presidente (sic) do Brasil ajoelhado diante de um
bispo evangélico (pressupostamente dentro da remota herança de Lutero) e temos
um Papa católico que não permite que ninguém se humilhe diante dele.
CONHEÇA A NOVA MANIA DA GALERA DO PEDAL!
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