Ouvimos por diversas vezes no meio espírita
que quando não sabemos qual atitude tomar, devemos pensar naquilo que Jesus
faria em nosso lugar. Evidentemente, não concordamos com isso porque não temos
a evolução espiritual de Jesus para saber o que Ele faria. Podemos pensar que
suas decisões seriam sempre pautadas no amor, na misericórdia e no perdão,
porém, existem situações em que seria difícil saber com certeza.
E damos um exemplo disso: nos trens
metropolitanos e no metrô em SP é proibida a venda de quaisquer produtos e a
mendicância. Suponhamos que Jesus estivesse num desses meios de transporte e
alguém o abordasse pedindo dinheiro. Ele olharia para a pessoa e, naturalmente,
saberia se a pessoa era de fato um necessitado ou estaria a serviço da mentira
e da falsidade. O que faria Ele? Daria o dinheiro por ver que a pessoa
necessitava de fato ou desceria na primeira estação, denunciaria a pessoa ao
encarregado da estação, por ter desobedecido a lei humana, dando assim a Cesar
o que é de Cesar como Ele mesmo ensinou?
Traduzimos uma história chamada “O Monge e o
Crucifixo” (1) do site italiano católico Aleteia. Vejamos o texto:
Um monge chamado Serafino pediu,
insistentemente, ao Senhor para tomar seu lugar na cruz, porque queria
comparticipar de toda a função do Cristo. Um dia o Crucificado aceitou, mas com
um pacto. O Senhor Jesus disse-lhe: “Que você fique calado!”. Serafino, sendo
um monge, acostumado ao rigor, à observância do silêncio, prometeu
imediatamente. O Cristo então desceu da cruz, que estava na igreja, e em vez
disso, o monge Serafino colocou-se em Seu lugar.
Um homem rico veio rezar e, enquanto orava, a
bolsa de dinheiro caiu. Ele levantou-se para sair e Serafino, que tinha visto,
quis dizer-lhe que a bolsa tinha caído, mas ele comprometeu-se a silenciar e
por isso ficou em silêncio.
Logo após um pobre homem entrou, e começou a
orar, mas seus olhos caíram sobre aquela bolsa de dinheiro; Ele olhou em volta,
não havia ninguém para vê-lo, pegou a bolsa, colocou-a no bolso e fugiu.
Serafino queria dizer-lhe que não deveria levá-la, porque não era dele, mas se
comprometeu a ficar quieto e, portanto, calou-se.
Então veio um jovem que, devotamente,
colocou-se de joelhos ao pé do crucifixo pedindo ajuda e proteção, porque
estava prestes a viajar pelo mar. Naquele momento, o homem rico com guardas
veio dizendo que tinha deixado a bolsa de dinheiro na igreja. A única pessoa
presente era aquele jovem e os guardas o levaram e o prenderam. Nesse ponto,
Serafino não pode mais ficar quieto e gritou: “Ele é inocente”.
Imaginem! O crucifixo falante salvou o jovem
da prisão, porque em virtude daquela voz fizeram melhores investigações e
deixaram o jovem ir e embarcar e prenderam o pobre que pegou o dinheiro e a
bolsa com o dinheiro foi devolvida ao homem rico.
À noite, o Cristo voltou com o rosto triste e
repreendeu severamente Serafino:
– “Não agistes corretamente”.
-“Mas como, Senhor?”.
– “Eu disse para você calar a boca”.
– “Mas eu corrigi os erros, fiz justiça”.
Então disse o Senhor:
– “Não, Serafino, você fez tudo errado; seu
compromisso era ficar em silêncio; você me prometeu. Em vez disso, falando,
você arruinou minha ação. Esse homem rico estava prestes a fazer uma má ação
com aquele dinheiro e eu o fiz perder; aquele pobre homem precisava dele e eu o
tinha feito encontrar; o jovem agora está afundando no mar, e ele me pediu
ajuda: se ele tivesse ido à prisão, pelo menos por um dia, teria perdido seu
navio e não teria morrido.
Você arruinou tudo, você não pode se colocar
no meu lugar, querido Serafino! Mesmo sendo você um monge, e se considere
avançado na vida espiritual, a Minha Providência orienta as coisas melhor do
que você, ainda quando parecem dar errado “.
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Moral da história: muitas vezes queremos
respostas de Deus e nós a temos com o Crucifixo que não nos fala! Ele não fala,
mas sempre opera de acordo com nosso bem. Agradeça-lhe então, porque ele nos
ajuda de qualquer maneira “.
Essa história nos mostra o quanto ainda
estamos longe de compreender os acontecimentos da nossa vida, que muitas vezes
parecem contrários aos nossos interesses. E para aceitá-los a fé é
importantíssima junto ao otimismo e à confiança. E quando demora a resposta
divina, tudo fica mais difícil, porque o imediatismo, nosso velho inimigo, faz-se
presente mais do que nunca. Se a resposta vem revestida da espera, a ansiedade
toma conta e a espera parece interminável.
Aquilo que parece contrário aos nossos
interesses ou algumas vezes parece prejudicial, pode ser o que mais precisamos,
como no caso do jovem da história, que se fosse preso não pegaria o navio que
ia naufragar. A aparente injustiça, na realidade, era o que mais precisava o
jovem para não morrer.
Quando oramos, pedimos aquilo que nos parece
necessário e indispensável, mas somos sempre atendidos? Será que sabemos
realmente o que é melhor para nós? Se soubéssemos, seriamos sempre atendidos. A
Providência enxerga coisas que não enxergamos e nos dá conforme nossas obras.
Tomar o lugar de Jesus na cruz como Serafino
queria, exige muito preparo de nossa parte, porque com pouco esforço já
reclamamos. Ajudar ou calar na hora certa, não ser precipitado são exercícios
ainda pesados para nossa evolução, mas que com dedicação conseguiremos. E nos
asseverou Paulo: “Tudo posso naquele que me fortalece”.
Orleide Felix de Matos
Referências Bibliográficas:
(1) História “O Monge e o Crucifixo” do site
italiano católico Aleteia em
https://it.aleteia.org/2017/02/24/storia-monaco-crocifisso-provvidenza-signore/
Fonte: Agenda Espírita Brasil
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