(…) No Mundo Espiritual, nosso irmão Lilito
Chaves veio ao nosso encontro e anunciou o que, desde algum tempo, aguardávamos
com expectativa: a desencarnação do médium Francisco Cândido Xavier, o nosso
estimado Chico. O acontecimento nos impunha rápidas mudanças de planos,
improvisamos uma excursão à Crosta para saudar aquele que, após cumprir com
êxito a sua missão, retornava à Pátria de origem.
Assim, sem maiores delongas, Odilon, Paulino
e eu, juntando-nos a uma plêiade de companheiros uberabenses desencarnados,
rumamos para Uberaba no começo da noite daquele domingo, dia 30 de junho. A
caminho, impressionava-nos o número de grupos espirituais, procedentes de
localidades diversas, do Brasil e do Exterior, que se movimentavam com a mesma
finalidade.
Todos estávamos profundamente emocionados e,
mais comovidos ficamos quando, estacionando nas vizinhanças do “Grupo Espírita
da Prece”, onde estava sendo realizado o velório, com o corpo exposto à
visitação pública, observamos uma faixa de luz resplandecente, que, pairando
sobre a humilde casa de trabalho do médium, a ligava às Esferas Superiores, às
quais não tínhamos acesso.
Conversando conosco, Odilon observou:
— Embora, evidentemente, já desligado do
corpo, nosso Chico, em espírito, ainda não se ausentou da atmosfera terrestre;
os Benfeitores Espirituais que, durante 75 anos, com ele serviram à Causa do
Evangelho, estarão, com certeza, à espera de ordens superiores para conduzi-lo
a Região Mais Alta…
De nossa parte, permaneçamos em oração,
buscando reter conosco as lições deste raro momento.
Aproximando-nos quanto possível, notamos a
formação de duas filas imensas, constituídas de irmãos encarnados e
desencarnados, que reverenciavam o companheiro recém-liberto do jugo opressor
da matéria: eram espíritos, no corpo e fora dele, extremamente gratos a tudo
que haviam recebido de suas mãos, a vida inteira dedicadas à Caridade, na mais
fiel vivência do “amai-vos uns aos outros”. Mães e pais que, por ele haviam
sido consolados em suas dores; filhos e filhas que puderam reatar o diálogo com
os genitores saudosos, escrevendo-lhes comoventes páginas do Outro Lado da
Vida; famílias desvalidas com as quais repartira o pão; doentes que confortara
agonizantes em seus leitos; religiosos de todas as crenças que, respeitosos,
lhe agradeciam o esforço sobre-humano em prol da fé na imortalidade da alma…
Não registramos nas imediações, é bom que se
diga, um só espírito que ousasse se aproximar com intenções infelizes. Os
pensamentos de gratidão e as preces que lhe eram endereçadas, formavam um halo
de luz protetor que tudo iluminava num raio de cinco quilômetros; porém essa
luz amarelo-brilhante contrastava com a faixa de luz azulínea que se perdia
entre as estrelas no firmamento.
A cena era grandiosa demais para ser descrita
e desafiaria a inspiração do mais exímio gênio da pintura que tentasse retratá-la.
Uma música suave, cujos acordes eu
desconhecia, ecoava entre nós, sem que pudéssemos identificar de onde provinha,
como se invisível coral de vozes infantis, volitando no espaço, tivesse sido
treinado para aquela hora.
Espíritos mais simples que passavam rente
comentavam:
— “Este é um dos últimos… Não sabemos quando
a Terra será beneficiada novamente por um espírito de tal envergadura”; “Este,
de fato, procurava viver o que pregava” “Quem nos valerá agora?”;
“Durante muitos anos, ele matou a fome da
minha família… Lembro-me de que, certa vez, desesperado, com a ideia de
suicídio na cabeça, eu o procurei e a minha vida mudou”; “Os seus livros me
inspiraram a ser o que fui, livrando-me de uma existência medíocre”; “Quando
minha avó morreu, foi ele quem pagou seu enterro, pois, à época, éramos
totalmente desprovidos de recursos”; “Fundei minha casa espírita sob a
orientação de Chico Xavier, que recebeu para mim uma mensagem de incentivo e de
apoio”; “Comigo, foi diferente: eu estava doente, desenganado pela Medicina,
ele me receitou um remédio de Homeopatia e fiquei bom”…
Os caravaneiros não cessavam de chegar, todos
portando flâmulas e faixas com dizeres luminosos; creio sinceramente que, em
nosso Plano, jamais houve uma recepção semelhante a um espírito que tivesse
deixado o corpo, após finda a sua tarefa no mundo; com exceção do Cristo e de
um ou outro luminar da Espiritualidade, ninguém houvera feito jus ao aparato
espiritual que se organizara em torno do desenlace de Chico Xavier.
Com dificuldade, logrando adentrar o recinto
do “Grupo Espírita da Prece”, reparamos que uma comissão de nobres espíritos,
dispostos em semicírculo, todos trajando vestes luminescentes, permanecia,
quanto nós mesmos, em expectativa. Odilon sussurrou-me ao ouvido:
— Inácio, estas são as entidades que
trabalharam com ele na chamada “Coleção de André Luiz”; são os Mentores das
obras que o nosso André reportou para o mundo, no desdobramento do Pentateuco
Kardequiano:
Clarêncio, Aniceto, Calderaro, Áulus e tantos
outros…
— E aqueles que estão imediatamente atrás? —
indaguei.
— São alguns representantes da família do
médium e amigos fiéis de longa data.
— E onde estão Emmanuel, nosso Dr. Bezerra de
Menezes e Eurípedes Barsanulfo? Porventura, ainda não chegaram?…
— Devem estar — respondeu — cuidando da
organização…
Ao lado do seu corpo inerte, nosso Chico,
segundo a visão que tive, me parecia uma criança ressonando, tranquila, no colo
de um anjo transfigurado em mulher, fazendo-me recordar, de imediato, a imagem
de “Pietà”, a famosa escultura de Michelangelo.
— Quem é ela? — perguntei.
— Trata-se de D. Cidália, a sua segunda mãe…
— E D. Maria João de Deus?…
— Ao que estou informado — esclareceu Odilon
—, encontra-se reencarnada no seio da própria família.
— E seu pai, o Sr. João Cândido?
— Está em processo de reencarnação, seguindo
os passos da primeira esposa.
Adiantando-se, nosso Lilito indagou:
— Odilon, na sua opinião, por que o Chico
está parecendo uma criança?
— Ele necessita se refazer, pois o seu
desgaste, como não ignoramos, foi muito grande, mormente nos
últimos anos da vida física; nosso Chico
carece de se desligar completamente. ..
— Perderá, no entanto, a consciência de si?
— É evidente que não. O seu verdadeiro
despertar acontecerá gradativamente, à medida que se recupere da luta sem
tréguas que travou… Aliás, a Espiritualidade Superior, nos últimos três anos,
vinha trabalhando para que a sua transição ocorresse sem traumas, tanto para a
imensa família espírita, que o venera, quanto para ele próprio.
Inúmeras caravanas e representações
continuavam chegando, formando extensas filas, que se postavam paralelas às
filas organizadas pelos nossos irmãos encarnados, a comparecerem ao velório
para render a Chico Xavier merecidas homenagens.
Dezenas e dezenas de jovens formavam grupos
especiais que vinham recebê-lo no limiar da Nova Vida, gratos por ter sido ele
o seu instrumento de consolo aos familiares na Terra, quando se viram
compelidos à desencarnação…
A tarefa de Chico Xavier — explicou Odilon,
emocionado — não tem fronteiras; raras vezes, a Espiritualidade conseguiu
tamanho êxito no campo do intercâmbio mediúnico… No entanto a força que o
sustentava nas dificuldades vinha de Cima, pois, caso contrário, teria
sucumbido às pressões daqueles que, encarnados e desencarnados, se opõem ao
Evangelho. Chico, por assim dizer, ocultou-se espiritualmente em um corpo
franzino e deu início ao seu trabalho, sem que praticamente ninguém lhe desse
crédito; quando as trevas o perceberam, já havia atravessado a faixa dos vinte
de idade e em franco labor, tendo pronto o “Parnaso de Além-Túmulo”, a obra
inicial de sua profícua e excelente atividade psicográfica…
Estávamos todos profundamente emocionados. A
multidão, dos Dois Lados da Vida, não parava de crescer e, assim como no Plano
Físico os policiais cuidavam da organização, na Dimensão Espiritual em que nos
situávamos, Entidades diversas haviam sido encarregadas de disciplinar a
intensa movimentação, sem que nenhum de nós se sentisse encorajado a reclamar
qualquer privilégio com o propósito de uma maior aproximação. Quase todos nos
conservávamos em atitude de profundo silêncio e de reverência.
Os grupos de espíritos que haviam, ao longo
de seus 75 anos de labor, trabalhado com o médium, com exceção, evidentemente,
daqueles que já haviam reencarnado, se faziam representar pelos seus maiores
expoentes no campo da Poesia e da Literatura.
Próximas a Cidália, em cujos braços Chico
Xavier descansava, à espera de que o cortejo fúnebre
partisse conduzindo os seus restos mortais,
notei a presença de algumas entidades femininas que eu não soube identificar.
— Quem são? — perguntei a Odilon, que era um
dos poucos dentre nós com plena liberdade de movimentar-se.
— Aquelas quatro primeiras, são as nossas
irmãs Meimei, Maria Dolores, Scheilla e Auta de Souza; as demais são corações
maternos agradecidos que, em uma ou outra oportunidade, se expressaram pela
mediunidade psicográfica do nosso Chico.
— Quem estará na coordenação do evento? —
insisti, ansioso por maiores esclarecimentos.
— O Dr. Bezerra de Menezes e Emmanuel,
assessorados diretamente por José Xavier — respondeu.
— José Xavier?…
— Sim, o irmão do médium, que está conduzindo
um grupo de espíritos amigos de Pedro Leopoldo e região; quando Chico se
transferiu para a cidade de Uberaba, em 1959, os seus vínculos afetivos com a
sua terra natal não se desfizeram; os espíritas que constituíram o Centro
Espírita “Luiz Gonzaga” sempre se sentiram membros de uma única família.
— E aquele casal mais próximo que, de quando
a quando, dialoga com Cidália?
— José Hermínio e D. Carmem Perácio; foram
eles que iniciaram Chico Xavier no conhecimento da Doutrina Espírita,
doando-lhe exemplares de “O Livro dos Espíritos” e de “O Evangelho Segundo o
Espiritismo”…
Pude perceber, com clareza, que os filamentos
perispirituais que uniam o espírito recém-desencarnado ao corpo enrijecido, se
enfraqueciam gradualmente; sem dúvida, o médium, assim que se lhe cerraram os
olhos físicos, desprendeu-se da forma material, no entanto, devido à
necessidade de permanecer durante 48 horas exposto à visitação pública,
conforme era seu desejo, exigia que o corpo, de certa forma, continuasse a
receber suplementos de princípio vital, evitando-se os constrangimentos da
cadaverização. Embora aconchegado aos braços daquela que havia sido na Terra a
sua segunda mãe e grande benfeitora, o espírito Chico guardava relativa
consciência de tudo…
As expectativas de quase todos, porém, se
concentravam sobre aquela faixa de luz azulínea, a qual, à medida que se
abeirava a hora do sepultamento, se intensificava; tínhamos a impressão de que
aquele caminho iluminado era a passagem para uma Dimensão Desconhecida, para a
qual, com certeza, Chico Xavier haveria de ser conduzido.
Dentro de poucos instantes, o silêncio se fez
naturalmente maior e um venerável senhor, ladeado por Irmão José e Herculano
Pires, este um dos vultos mais importantes da Doutrina nos últimos tempos,
assomou discreta tribuna e começou a falar.
— Quem é? Perguntei, à meia-voz…
— Léon Denis — respondeu-me Odilon com um
sussurro.
— “Meus irmãos — disse o inesquecível
discípulo de Allan Kardec — eis que aqui nos encontramos reunidos, para receber
de volta ao nosso convívio, aquele que, uma vez mais, cumpriu exemplarmente a
missão que lhe foi confiada pelo Senhor de nossas vidas. Elevemos ao Infinito
os nossos pensamentos de gratidão e de reconhecimento, porquanto sabemos das
dificuldades que o espírito que moureja na carne enfrenta para desbravar
caminhos à Verdade; o nosso amigo e mestre que, após longa e desgastante
peleja, agora retorna à Pátria Espiritual, se constituiu num verdadeiro
exemplo, não somente para os nossos irmãos encarnados, mas igualmente para os
que necessitamos renascer no orbe e, por vezes, nos sentimos desencorajados…
(…) Um ciclo se encerra, mas outro deve começar (…)”
Passados alguns instantes da alocução
proferida por Léon Denis, perfumada aragem começou a soprar, balsamizando o
ambiente. De onde será que provinha aquele suave perfume que, aos poucos, se
intensificava, impregnando-nos o corpo espiritual? Tínhamos a impressão de que,
caindo de Esferas Resplandecentes, aquele orvalho celeste, constituído de
diminutos flocos luminosos, antecedia o momento em que o espírito Chico Xavier
seria conduzido à ignota região da Vida Sem Fim.
Quando o fenômeno a que tento me referir se
fez mais evidente, algumas explosões começaram a ocorrer na extensa faixa de
luz azulínea que, agora, ia mudando de tonalidade, como se um arco-íris se
estivesse materializando diante dos nossos olhos.
Gradativamente, cinco entidades foram se
fazendo visíveis para nós, tangibilizando-se no pequeno espaço que me parecia
reproduzir produzir a abençoada estrebaria em Belém…
Os cinco espíritos, que não posso lhes dizer
que tenham assumido forma propriamente humana, foram sendo identificados por
nós: eram Bezerra de Menezes, Emmanuel, Eurípedes Barsanulfo, Veneranda e
Celina, a excelsa mensageira de Maria de Nazaré.
Diante da estupenda visão, todos sentimos
ímpetos de nos ajoelharmos; muitos, efetivamente, se ajoelharam, com os olhos
banhados de lágrimas.
Bezerra de Menezes, Emmanuel e Eurípedes
Barsanulfo estavam, por assim dizer, mais humanizados, no entanto Veneranda e,
especialmente, Celina, nos pareciam dois anjos alados, falenas divinas que se
tivessem metamorfoseado apenas para que pudéssemos vê-las… Eu tinha a impressão
de estar participando de um sonho que transcendesse a mais fértil imaginação.
Adiantando-se aos demais companheiros,
Veneranda, que o tempo todo pairava no ar, começou a orar com sentimento que a
palavra não consegue traduzir:
— “Senhor da Vida — exorou,
sensibilizando-nos profundamente — aqui estamos para receber, de volta ao nosso
convívio, um dos Vossos servidores mais fiéis que, após quase um século de
lutas acerbas pela causa do Vosso Evangelho na Terra, regressa ao Grande Lar,
com a consciência do dever cumprido.
Que as Vossas bênçãos envolvam o espírito
naturalmente exaurido, restituindo-lhe as energias que se consumiram de todo
por amor do Vosso Nome entre os homens, nossos irmãos! Que do seu
extraordinário esforço não se perca, Mestre, uma única gota de suor, das que se
misturaram às lágrimas anônimas vertidas por ele no testemunho da Fé.
Que o trabalho de sua profícua existência no
corpo físico continue a ser prodigiosa sementeira para as gerações do porvir,
apontando o Caminho para quantos anseiam por seguir os Vossos passos…
Senhor, os que tão-somente agora, depois de
séculos e século de sombras, nos convencemos da Vossa magnanimidade, vos
agradecemos por não terdes consentido que o nosso irmão sucumbisse diante das
provas e, em nada, se afastasse da trajetória que lhe traçaste no mundo —
sabemos que, nos momentos mais difíceis, sem que nós mesmos pudéssemos
perceber, a Vossa mão o sustentava para que não tombasse sob o peso da cruz que
lhe pusestes aos ombros… Nós vos louvamos por terdes realizado nele a obra
consagrada do Vosso amor, que, um dia, redimirá a Humanidade inteira. E que,
agora, ainda unidos ao espírito companheiro que soube transformar-se em exemplo
de renúncia e de sacrifício, de desprendimento e de abnegação, possamos dar
sequência à tarefa que iniciastes há dois mil anos, da edificação do Reino de
Deus sobre a face da Terra!…
Que a claridade sublime das Altas Esferas não
nos faça ignorar os vales de sombras dos quais procedemos e nos quais
acendestes, para sempre, a Vossa Luz… Que não nos seja lícito o descanso,
enquanto o orbe planetário, onde tantas vezes expiamos as nossas faltas, se
transfigure em estrela de real grandeza, a fulgir na glória dos mundos redimidos.
Abençoai, Senhor, os nossos propósitos que
são os Vossos e que, hoje e sempre, possamos exaltar-Vos o Nome através de
nossas vidas!…”
Terminando de orar, Veneranda e Celina se
aproximaram de Cidália, que continuava a aconchegar em seu materno coração o espírito
que foi nosso Chico, o qual, de quando a quando, estampava cândido sorriso,
como se fosse uma criança participando de um sonho bom do qual jamais ousasse
acordar.
O silêncio reinante era de tal ordem, que,
aos nossos ouvidos, a voz inarticulada da Natureza nos parecia uma sinfonia; de
minha parte, confesso-lhes que eu nunca tinha ouvido a música dos astros e nem
podia imaginar que o próprio silêncio tivesse voz.
A faixa de luz azulínea que se transformara
num arco-íris ainda se mostrava mais viva, e todos permanecíamos na expectativa
do que não sabíamos pudesse acontecer.
Direcionando os sentidos, quis ver, naquela
hora, como os preparativos para o féretro estavam desenvolvendo-se no Plano
Físico e, justamente, quando começou a ser entoada a canção “Nossa Senhora” e
os nossos irmãos começaram a movimentar-se, dando início ao cortejo, uma Luz
indescritível, descendo por aquele leque iluminado que ligava a Terra ao
Infinito — a faixa de luz que ali se instalara logo após ter sido armado o
velório no “Grupo Espírita da Prece” —, uma Luz que, para mim, era muito
superior à luz do próprio Sol e que me acionava a memória para a lembrança da
visão que Paulo teve do Cristo, às portas de Damasco, repetiu com indefinível
ternura:
— “Vinde a mim, todos os que andais em
sofrimento e vos achais carregados, e eu vos aliviarei. Tomai sobre vós o meu
jugo, e aprendei de mim, que sou manso e humilde de coração, e achareis
descanso para as vossas almas. Porque o meu jugo é suave e o meu fardo é leve”.
Aquela Extraordinária Visão, que sequer
povoava os meus sonhos mais remotos de espírito devedor, estendeu dois braços
humanos reluzentes e, quando notei que o Chico em espírito se transferia dos
braços de Cidália para aqueles Braços que o atraíam, digo-lhes que, desde
quando fui beneficiado com o laurel da razão, não tenho recordação de jamais ter
chorado tanto…
Aquela Luz, que se humanizava parcialmente
para que pudéssemos vê-la, estreitou Chico Xavier ao peito e depositou-lhe um
ósculo santo na fronte e, em seguida, partiu, levando-o consigo, despedindo-se
com inesquecível sorriso dos que continuavam presos ao abismo, sentenciados
pelo tribunal da consciência culpada.
Foi Odilon que, depois de muito tempo,
conseguiu falar, comentando conosco:
— Eu sempre que lia as páginas do Velho
Testamento, ficava intrigado e colocava em questão a narrativa de que o profeta
Elias fora conduzido ao céu por “um carro de fogo”… Agora sei que não se
tratava de força de expressão ou algo semelhante. (…)
Um grande vazio se fez após e,
gradativamente, a faixa de luz foi se recolhendo de baixo para cima, à medida em
que o cortejo celestial se retirava.
A praça em que nos havíamos reunido já se
encontrava praticamente vazia; diversos grupos, procedentes de várias regiões
da Espiritualidade, haviam partido e, agora, os curiosos e desocupados de
além-túmulo se aproximavam, como que para vasculhar os espólios do concorrido
velório…
Contrastando com a luz do corpo espiritual de
eminentes entidades, esses outros nossos irmãos se mostravam opacos em seu novo
veículo de expressão, dando-me a impressão de que, embora desencarnados, ainda
não tinham logrado completa emancipação; muitos caminhavam sem qualquer
desenvoltura, qual se fossem doentes com dificuldade para mudar o passo…
Identificando- nos na condição de adeptos do
Espiritismo e amigos de Chico Xavier, começamos a ser abordados por aquelas
entidades infelizes que, aos meus olhos, se assemelhavam a sobreviventes onde
houvesse sido travada intensa batalha. A grande maioria exibia as vestes em
farrapos e, além da obscuridade espiritual à qual já me referi, deixavam exalar
de si quase insuportável odor…
— Por favor, auxiliem-nos! — disse-nos um
deles, adiantando-se aos demais — Estamos convencidos de que, realmente, o mal
não compensa… O que vimos acontecer hoje, aqui…
Olhando-me, significativamente, Odilon
comentou:
— Quantas bênçãos a vida e a suposta morte de
um verdadeiro homem de bem pode espalhar! Quantos não estarão sendo motivados à
renovação íntima, ante o episódio da desencarnação do nosso Chico!…
Ele que, no corpo, descerrou caminhos para
tanta gente, ao deixar a vestimenta física, prossegue orientando com os seus
exemplos os que se desnortearam além da morte. Faz-me recordar o que disse
Jesus, no capítulo 12, versículo 24, das anotações de João: “Se o grão de
trigo, caindo na terra, não morrer, fica ele só; mas, se morrer, produz muito
fruto”…
(Esta descrição foi realizada pelo Espírito
Inácio Ferreira, e está presente no livro “Na Próxima Dimensão”, psicografado
pelo médium Carlos Alberto Baccelli.)
Autor: Carlos A. Baccelli
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