Por que pessoas nascem deficientes? Onde está
a justiça de Deus quando isso ocorre? Tem como explicar?
Antes de conhecer o Espiritismo eu não
compreendia por que Deus mandaria para a Terra pessoas com deficiências, fossem
elas graves ou mais brandas; físicas ou até as que causavam incapacidade
intelectual ou mental. Tudo para mim era um mistério. E quando eu perguntava
para alguém com mais experiência religiosa, explicavam somente que isso fazia
parte dos “insondáveis desígnios de Deus”!
Dessa forma, era difícil pra mim, ainda
pequeno, entender que justiça divina era aquela, que mandava uma alma sem pecados
para a Terra, para sofrer tanto e passar por inúmeros constrangimentos. As
barreiras da minha antiga religião católica não me permitiam ir além.
O além me chamava desde cedo e, graças a
Deus, conheci o Espiritismo, que me ensina até hoje que os únicos desígnios
insondáveis são aqueles que o próprio Criador ainda não pôde nos dar a glória
de saber, pois ainda não temos capacidade moral e intelectual para compreender.
Mas muitos mistérios da minha mente questionadora já haviam sido revelados
desde os tempos de Kardec. Agora eu tinha que degustar esse conhecimento que me
esperava.
Dentre esses mistérios, aprender sobre a
visão espírita da deficiência foi libertador! Foi nesse embalo que aprendi
sobre mais duas coisas muito fortes dentro do entendimento espírita: a Justiça
Divina (a partir da Lei de Causa e Efeito), e a dinâmica da reencarnação; que
se complementam.
Reencarnação
e Lei de Causa e Efeito
Para compreendermos a deficiência na visão
Espírita, precisamos considerar que um corpo cheio de limitações, sejam físicas
ou mentais possui uma história pregressa. Um Espírito que haja vivido várias
experiências e por seu livre-arbítrio fez mau uso de seus atributos, seja mau
uso da sua inteligência, de certa regalia que possa ter tido enquanto encarnado
em outras vidas.
Essa é a Lei de Causa e Efeito. Pode ser
explicada bem superficialmente assim: “Quando fizermos uma má escolha,
deveremos pagar os custos dela em outra oportunidade”. Como vai se dar esse
pagamento? Só a misericórdia divina sabe e, tendo resolvido isso, será
preparada uma nova encarnação com provas e, principalmente, expiações à altura.
É comum fazermos um pensamento linear
referente à Causa e Efeito e as expiações da reencarnação posterior.
Frequentemente ouvimos dizer pelos simpatizantes espíritas: “Se uma pessoa se
suicida com um tiro na cabeça ou se abusou da sua inteligência, nascerá em outra
vida com deficiência mental“; “Se uma pessoa se suicida pulando de grande
altura, poderá nascer novamente com alguma deficiência física”.
O raciocínio acima tem uma certa lógica e
pode concretizar-se na realidade. Mas é importante deixar claro que é
interessante tratar tal modelo como uma regra! Existem muitas implicações no
que tange o planejamento reencarnatório e como o espírito que cometeu tal falta
poderá saldar sua dívida.
Dessa forma, o novo corpo físico se
comportará como uma “prisão”, que tende a fazer o Espírito dar valor à dádiva
da vida, mediante seu novo aprendizado.
A
história de Adolfo
No livro Deficiente Mental Por Que Fui Um, da
autora Vera Lúcia Marinzeck; encontramos diversas histórias magníficas onde os
Espíritos contam como foram as experiências no corpo com deficiência mental.
Citaremos uma dessas histórias, mas apenas certos trechos que consideramos
marcantes. Agora, fica fácil de entender por que pessoas nascem com
deficiência, segundo o espiritismo.
Entre elas tem a história de Adolfo, que nos
narra o seguinte:
“Arrastava-me pelo chão, às vezes
sentia arder as palmas das mãos, pernas, mas não ligava, pois só assim ia aonde
queria. E queria pouco, andar pela sala, tentar mexer no rádio. Gostava de
músicas. (…) Gostava de observar mamãe, era tão bonita, meiga e boa. Ela
movia as pernas com facilidade, andava, eu queria tanto fazer igual! Até
tentava, caía e chorava, às vezes porque doía algo ou então por não conseguir
imitá-la. Não pensava muito. Era estranho, as ideias vinham rápidas, e como
vinham, iam. Se sentia fome, fazia sinal com a mão, sabia onde estavam os
alimentos. Logo me traziam.
Logo que desencarnei essas lembranças
me deixavam triste. Hoje, anos depois, entendendo o porquê de tudo, vejo, narro
como se fosse um filme não apenas visto mas sentido. Sou grato ao Pai Maior
pela oportunidade do recomeço, da reencarnação (…).
(…) meu pai e eu estivemos juntos em
outras encarnações. Mamãe não, nos conhecemos nesta, esse espírito bondoso me
acolheu com amor e dedicação.
Se em raros momentos sentia-me
diferente, foi porque meu espírito sabia que estava preso num corpo deficiente,
com o cérebro danificado por uma causa física. Lógico, o cérebro físico adoece.
E por quê? Certamente tem as causas e as explicações por meio do espírito que
habita nele. Porque é difícil nós, na roda dos renascimentos, sermos totalmente
isentos de erros.
Não existe desencarnação igual, nada
no plano espiritual é regra geral. Mesmo desencarnado sentia-me deficiente,
porque meu corpo perispiritual estava doente antes de reencarnar.
Na minha penúltima encarnação nasci no
seio de uma família de posses e de muito orgulho. Cresci achando que era um ser
superior em raça e inteligência. Quis estudar, gostava de aprender e cursei as
melhores escolas de meu país. Tornei-me médico ainda jovem. (…) era rico,
bonito e casei com uma jovem do meu meio social.
Meu pai conseguiu por um tempo impedir
que eu fosse para a frente dos campos de batalhas. Mas a pátria
necessitava de mim e parti. Minha esposa, ambiciosa, aconselhou-me a aproveitar
a situação para me sobressair como médico. Ela sempre me motivou só para a
ambição, para que ficássemos cada vez mais ricos.
Não só tínhamos que cuidar dos nossos
compatriotas como dos inimigos, que pareciam estar levando a melhor. Então nós
três resolvemos eliminar os feridos inimigos e de modo cruel. Fizemos muitas
maldades, poderia narrá-las, mas para quê? Acho mórbido e creio que o leitor
entenderá que muito fiz para ter tido grande remorso.
Desencarnamos nós três e muitos outros
num ataque de surpresa. (…) desencarnados que eu julgava serem os inimigos
nos odiavam tanto quanto nós a eles, inverteram os papéis, passei a ser
paciente deles. Vingaram-se. Revoltei-me. Não quis o auxílio oferecido.
Sofri por anos, ora no Umbral, ora ali onde fiz as minhas maldades.
Um dia meus pais, que há tempo estavam
desencarnados, vieram atrás de mim. Abraçaram-me comovidos.
Levaram-me para um socorro, recusei
tremendamente a melhora, o remorso destrutivo lesou meu perispírito como também
a perseguição que tive dos que não me perdoaram. Os orientadores que cuidavam
de mim disseram aos meus pais que eu melhoraria muito na matéria, num outro
corpo, com a bênção do esquecimento. Mas minha lesão me acompanharia, seria um
deficiente mental.”
Allan
Kardec conversa com o Espírito de um jovem deficiente mental
]É incorreto pensar que a vida do deficiente
mental não tem utilidade. Erradíssimo! Tem utilidade, sim, para o próprio e
para a família que o recebe. Sendo seu corpo uma prisão, no sono, enquanto seu
espírito se desprende, pode aproveitar de mais faculdades. O corpo físico pode
comportar-se como deficiente, mas o Espírito não tem nada de deficiente!
Na Revista Espírita de 1860, Allan Kardec
pergunta para o Espírito de São Luís se poderia, naquela sessão espírita,
evocar o Espírito de um jovem deficiente mental. Eis que São Luis responde:
─ Podeis evocá-lo como se fosse um
morto.
O jovem é Charles de Saint-G…, de treze anos,
vivo, e cujas faculdades intelectuais são de uma tal nulidade que nem conhece
os pais e apenas pode alimentar-se. Há nele uma parada completa do
desenvolvimento em todo o sistema orgânico. Pensou-se que poderia ser assunto
interessante de estudo psicológico.
O grupo mediúnico fez a evocação do
jovem Charles e começa a interação:
─ Sou um pobre Espírito ligado à
terra, como uma ave por um pé.
Em vosso estado atual, como Espírito, tendes
consciência de vossa nulidade neste mundo?
─ Certamente. Sinto bem o meu
cativeiro.
Quando vosso corpo dorme e vosso Espírito se
desprende, tendes as ideias tão lúcidas quanto se estivésseis em estado normal?
─ Quando meu corpo infeliz repousa,
estou um pouco mais livre para me elevar ao Céu, a que aspiro.
Como Espírito experimentais um sentimento
penoso do estado corporal?
─ Sim, pois é uma punição.
Lembrai-vos da vossa existência na
terior?
─ Oh, sim! Ela é a causa de meu exílio
atual.
Qual foi essa existência?
─ Um jovem libertino ao tempo de
Henrique III.
Dissestes que vossa condição atual é uma
punição. Então não a escolhestes?
─ Não.
Como pode vossa existência atual servir ao
vosso progresso, no estado de nulidade em que estais?
─ Ela não me é nula perante Deus, que
a impôs.
Prevedes a duração da existência atual?
─ Não: mais alguns anos e voltarei à
minha pátria.
Desde a existência precedente até a
encarnação atual, que fizestes como Espírito?
─ Porque eu era um Espírito leviano,
Deus me aprisionou.
No estado de vigília tendes consciência do
que se passa em vosso redor, a despeito da imperfeição dos órgãos?
─ Vejo, entendo, mas meu corpo não
compreende nem vê.
Podemos fazer-vos algo de útil?
─ Nada.
Por último, Kardec pergunta a São Luís: As
preces por um Espírito reencarnado podem ter a mesma eficácia que por um
errante?
─ As preces são sempre boas e
agradáveis a Deus. Na posição deste pobre Espírito, elas não lhe podem servir;
servirão mais tarde, pois Deus as deixa de reserva.
Fontes:
- ;
- Revista Espírita de 1860 (Allan Kardec);
- Deficiente Mental Por Que Fui Um (Vera Lúcia Marinzeck).
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