E o Carnaval chegou com todos os seus ruídos
e paixões primárias, anunciando alegria e felicidade, essa felicidade ilusória
da embriaguez dos sentidos.
Ante a miséria que alarga a sua capacidade de
destruir as massas ao lado da violência voluptuosa e destruidora, recordamo-nos
do período imperial de Roma, que abria o circo para a generosidade do tirano
que governava anestesiando os desditosos com o célebre “panis et circensis”.
A situação atual é pior do que aquela, porque
se oferece apenas o circo de grandes proporções, nem sempre gratuita, mas
vendidas as suas concessões.
Embriagadas, as multidões assumem o
descontrole dos sentidos e atiram-se na ufania dos poucos dias de loucura e
prazer, para depois retornar à normalidade impossível de ser mantida. E o
carnaval, de certo aspecto, continua dominando aqueles que preferem a ilusão
que se desvanece rapidamente à realidade do enfrentamento para a conquista dos
valores que realmente proporcionam felicidade.
Algumas cidades do nosso país, considerando
os desafios e sofrimentos que sobre elas se abatem, estão transformando as
despesas carnavalescas do agrado quase geral, por se tratar de fuga para lugar
nenhum, em pagamento aos funcionários que padecem atraso dos salários, aos
hospitais onde os pacientes morrem nos corredores ou nas portas de entrada, às
escolas em abandono, ante o reproche e desagrado de muitos foliões que preferem
o padecimento dos filhos e deles mesmos a pobre educação proporcionada pelo
poder público.
Afinal, nada temos contra o Carnaval, essa
catarse periódica quase com finalidade terapêutica. Mas, a libertinagem em que
foi transformado, de alegrias e festas em bacanais sexuais do mais nível
servil, a larga e quase oficial ingestão e uso de drogas aditivas, ao contágio
de enfermidades perversas e de novos tormentos emocionais, defluentes dos
falsos amores dos dias fugazes nas vigorosas garras dos dias de trabalho e
enfrentamento existencial.
O ser humano deve descobrir a finalidade da
sua existência, encontrar um significado psicológico, raciocinar a respeito da
brevidade em que ela se desenvolve, trabalhando-se para superar os sofrimentos
e as inevitáveis contrariedades de cada dia. Cabe-lhe mergulhar na rapidez com
que passa o prazer e eleger aqueles que produzem plenitude e têm duração real.
O discernimento deve ser desenvolvido para
não se enganar com os denominados quinze minutos de holofotes a que a maioria
humana aspira, perdendo-se logo depois nas frustrações dos sonhos- pesadelos.
O Espírito humano está destinado a fatalidade
do Bem, a conquista da harmonia, da beleza, da saúde e da fraternidade no seu
sentido pleno.
Artigo publicado no jornal A Tarde, coluna
Opinião, em 08-02-2018.
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