Por Catherine Mackie e Simone Stewart - Da
BBC News
A BBC News entrevistou enfermeiras
especializadas em cuidados paliativos e de pacientes com câncer do hospital da
Universidade Royal Stoke, no Reino Unido, para saber o que ocupa a mente de
pessoas em estado terminal e quais são seus desejos derradeiros.
"Alguns pedem seu drink favorito",
diz a enfermeira Dani Jervis.
"Às vezes, elas só querem uma xícara de
chá", afirma Carina Lowe, que trabalha no mesmo hospital.
Outra enfermeira se recorda de uma paciente
idosa que estava internada em uma ala de cirurgia bastante movimentada.
"O marido dela também ficou doente, e
eles só queriam que suas camas ficassem juntas", diz Angela Beeson.
"Deitados um ao lado do outro, de mãos
dadas, vi eles cantando juntos. Os dois morreram naquela ala, com dez dias de
diferença um do outro."
Sem
medo
Naturalmente, é esperado que o período logo
antes da própria morte, quando uma pessoa está ciente de que não lhe resta
muito tempo, seja de muita tristeza na maioria das vezes.
No entanto, esse estágio final não é
inteiramente marcado por sentimentos ruins, conta a enfermeira Louise Massey.
"Ver a alegria no rosto de uma pessoa
quando ela está morrendo e seu cachorro vem visitar é algo que não tem
preço", diz ela.
Esse tipo de situação não é incomum, como se
recorda a enfermeira Nicki Morgan: "Já tivemos uma vez um border collie e
um pastor alemão deitados na cama com um senhor, esse era seu desejo
final".
A enfermeira Massey leva na memória o caso de
um paciente que, há muitos anos, estava morrendo e apenas parcialmente
consciente.
"Ele disse que estava feliz de morrer,
porque havia tido um vislumbre do céu, que era um lugar maravilhoso e que não
tinha mais medo de partir."
Premonições
Uma das enfermeiras ouvidas pela BBC conta
que, com frequência, ocorrem coincidências que alguns interpretam como
premonições.
"Pessoas já disseram: 'Completo 80 anos
em algumas semanas. Vou ter minha festa de aniversário e depois eu vou partir'.
E, estranhamente, vimos isso acontecer", recorda-se Morgan.
Mas e quanto a arrependimentos? Há muitos? Ou
os pacientes deixam isso para trás?
"Lembro de uma pessoa me dizendo que a
vida é muito curta e que devemos fazer o que nos deixa felizes", afirma
Jervis.
A enfermeira Morgan diz que é muito comum as
pessoas nesta situação pensarem em suas aposentadorias.
"Com frequência, as pessoas trabalharam
muito, determinaram uma data para se aposentar e pensam que ficaram doentes
justo neste momento e não tiveram tempo suficiente para aproveitar e fazer as
coisas que gostam"
Lowe se lembra de sobre um episódio que
ocorreu há pouco tempo com ela: "Uma coisa que foi dita para mim bem
recentemente é que o processo de morrer não é como na TV ou no cinema".
'Boa
morte'
Por sua vez, Jervis diz acreditar ser
possível ter uma experiência que pode ser descrita como "uma boa
morte". "A comunicação é essencial", afirma.
Massey concorda: "Isso pode significar
não sentir dor, ter a família ao lado, pode ser o local onde querem
morrer".
As enfermeiras têm alguns conselhos que
acreditam que podem ajudar neste que é o único momento inescapável da vida: a
morte.
"Se há algo que você quer fazer, corra
atrás disso", diz Jervis.
"Falamos de todos os outros assuntos
hoje em dia, mas viver também significa falar sobre a morte. Quais são seus
objetivos na vida? O que é importante para você?", afirma Massey.
A enfermeira Beeson fala que seu trabalho
acabou por completo com seu medo da morte e mudou sua postura diante do
assunto. "Falo disso abertamente com a minha família", diz.
"Precisamos planejar com antecedência os
cuidados que receberemos."
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