Por Dora Incontri
Pois bem, estamos num momento nacional e
internacional em que nos sentimos muitas vezes extenuados, desesperançados,
moral, física e espiritualmente sobrecarregados. Muito individualismo feroz,
incentivado pelo modo de vida competitivo da sociedade de consumo nos causa
inúmeras decepções pessoais. As relações fluidas são fonte de angústia e
depressão para muitos.
O cenário político também nos ensombrece os
horizontes. Pessoas conhecidas, amigas ou adversárias, familiares, confrades da
mesma comunidade espiritual (em nosso caso, espíritas) manipuladas pela mídia e
sem se darem conta, muitas vezes, de que estão usando discursos de ódio, apoiam
potenciais ditadores ou líderes de evidente má fé, que defendem a violência e a
violação dos direitos humanos fundamentais – esses mesmos que estão na
Constituição brasileira e na Declaração Universal dos Direitos Humanos. Isso
nos dói.
A vida cotidiana, a luta insana pela
sobrevivência da maioria da população humana, da maioria do povo brasileiro,
numa sociedade com um tremendo fosso social em que meia dúzia de pessoas detém
a maior parte da riqueza e a maioria tem de viver em regime de quase escravidão
(ou às vezes mesmo em escravidão explícita) tudo isso também nos esgota, nos
murcha por dentro e provoca adoecimento psíquico e físico.
Como achar saída? Como transcender?
Só mesmo a visão da montanha a que se referia
Kardec. Só mesmo sabendo que por pior que o momento se nos apresente, tudo
passa nesse mundo.
Lembro-me sempre de uma frase de Gandhi a
respeito. Quando ele se sentia desesperado, lembrava-se que todos os tiranos
morreram, que todos os grandes Impérios caíram…
A questão é conseguirmos manter a mente nesse
diapasão do além do tempo, do alto da montanha. Parece que uma multidão de
pensamentos e angústias teimam em habitar nossa mente e não conseguimos tantas
vezes apaziguá-la. Para isso, a meditação, a prece ou aquilo que eu e uma amiga
minha chamamos de kit sublimação (livros, músicas, filmes que nos
elevem…) são instrumentos que nos ajudam a subir na montanha e olhar de cima.
Hoje, como algumas vezes tive a felicidade em
minha vida, senti a presença magnífica, elevadíssima do Mestre Comenius e ele
me ditou a mensagem abaixo. Enquanto ele se manifesta, consigo captar um pouco
do que é estar nesse permanente estado de olhar acima – no caso dele, muito
mais do que no alto da montanha, a sensação é de um olhar cósmico. A terra e
suas excentricidades, suas bizarrices, suas trágicas violências mesmo, parecem
brincadeiras de crianças birrentas, parecem machucados passageiros que um
beijinho de mãe pode curar. A eternidade está aí. A morte não existe. A dor é
um átimo. E quando entramos nessa sintonia, tudo parece estar certo, nada fora
do lugar, por mais que nossa visão do fundo do vale aumente de forma dramática
os cenários sombrios em que estamos.
Em seu livro O Labirinto do Mundo e o
Paraíso do Coração – obra prima de espiritualidade, escrita em pleno
século XVII, Comenius já nos indicava que o peregrino desse mundo labiríntico
só pode achar a paz dentro de si, onde se encontra com Deus. Mas ele não deve e
não pode permanecer estático com essa sensação de conforto supremo. Tem que
voltar ao mundo e agir nele, para mudá-lo, mas sem se deixar contagiar pelas
sombras que nele reinam.
Um dia, a paz que tivermos acendido dentro de
nós será a paz que veremos reinar sobre a Terra.
Aqui a mensagem de hoje do mestre Comenius.
Espero que o leitor possa senti-lo e entrar nessa sintonia de infinito e de
eternidade!
Aos corações cansados
A trilha está cheia de espinhos, mas é a
trilha certa.
O caminho é cansativo, mas levará ao
alvo.
O alvo é distante, mas a eternidade é
nossa garantia.
As forças são limitadas para cada
trabalhador do bem, mas a fé move montanhas.
A sensação de solidão às vezes nos
acomete em algum recanto da estrada, mas há mais peregrinos que seguem conosco,
visíveis e invisíveis.
A ideia de impotência nos assalta de
vez em quando, mas o poder de Deus é infinito e dele participamos, só a escala
de tempo é mais ampla do que o minuto terrestre.
O mundo vive mergulhado num turbilhão
de sombras, mas há luzes acesas e cada um de nós pode ser uma lamparina ou um
pequeno sol no caminho de nossos irmãos.
Não desanimeis! Perseverai!
Acalmai vossas mentes, porque é tudo
tão passageiro no mundo e só o amor se estende além e só o Bem brilha para
sempre!
Comenius
Médium: Dora Incontri – 25/11/2017
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