Autor: Morel Felipe Wilkon
Como a Doutrina Espírita explica a existência
de desafetos dentro da própria família? Quase todas as famílias têm seus casos
de desentendimento entre alguns dos seus membros, muitas vezes verdadeira
aversão sem nenhuma explicação na existência presente.
“Por que certos desafetos reencarnam
como nossos familiares? Mesmo se o perdão for obtido em uma das partes eles
continuarão reencarnando próximos um ao outro em outras vidas?”- Kirae Scarffon
É bom nós sabermos – e quem fez essa pergunta
já sabe disso – que é comum que antigos desafetos reencarnem próximos um do
outro, principalmente no meio familiar. Numa mesma família geralmente há o
encontro de antigos desafetos. Por quê?
Imagine que você se mude para o outro lado do
mundo, que você nunca mais tenha contato com ninguém do Brasil, com ninguém que
você conheceu aqui. Daqui a uns 40 anos, quando eventualmente você se lembrar
de alguém que você conheceu aqui, de quem você vai se lembrar?
Você vai lembrar das pessoas que você ama e
das pessoas que você odeia. Talvez você não ame ninguém, ou você não odeie
ninguém. Mas você certamente formou vínculos de afeto e de desafeto. Muitas
pessoas que nós conhecemos nessa existência não irão representar grande coisa
para nós no futuro. São coadjuvantes em nossa vida. Mas há os protagonistas em
nossa vida, que são aquelas pessoas por quem nós nutrimos sentimentos de amor e
ódio.
São com essas pessoas que nós temos vínculos.
É a elas que nós estamos ligados. É importante considerarmos que se nós
sentimos ódio de alguém é porque muito provavelmente antes de experimentarmos
esse sentimento de ódio nós sentimos por esse alguém algo muito próximo muito
semelhante ao amor. Ninguém sente ódio de alguém se nunca gostou desse alguém
antes. As relações de ódio quase sempre surgem a partir da traição, do engano,
da inveja, da disputa desenfreada – mas antes de se manifestar a traição, o
engano, a inveja, a disputa desenfreada, havia amor – não o amor verdadeiro
porque nós ainda não sabemos amar de verdade, mas algo muito próximo ao amor.
Se uma pessoa que eu não conheço, ou um
conhecido qualquer – se essa pessoa me trai, é claro que eu não vou gostar, mas
também não vou morrer de ódio dessa pessoa.
Mas se alguém que eu amo – um irmão, um
filho, o cônjuge – se um deles me trair, o amor que eu sinto poderia se transformar
em ódio: eu tenho um vínculo muito forte com essa pessoa e esse vínculo
permanece – ele apenas deixa de ser positivo e se torna negativo.
Os nossos grandes desafetos, então, são
espíritos com quem nós já convivemos no passado, em outras existências, e são
espíritos de quem nós já gostamos, fomos grandes amigos, talvez sócios, ou
irmãos, ou amantes – já tivemos laços de amor no passado.
Os espíritos se atraem por afinidade. A
reencarnação acontece normalmente por afinidade. É um equívoco supor que todos
nós passamos por um planejamento antes de reencarnar. Isso é correto se
considerarmos que a Lei de Deus (o grande conjunto de Leis que nos regem) seja
um planejamento – ou que comportem um planejamento. Mas não há planejamento
individual para cada espírito que reencarna.
Nós nos aproximamos, então, por afinidade.
Nós temos vínculos aqui, temos laços de afeto e desafeto com algumas pessoas,
nós mantemos esses laços depois de desencarnados, e esses laços permanecem
ainda quando reencarnamos. São esses vínculos que nos unem, que aproximam as
pessoas em pequenos e grandes grupos.
– Qual é a razão, na Lei de Deus, para que os
desafetos se encontrem? Não seria melhor se nós nunca mais encontrássemos os
nossos desafetos?
Não. Se nós não os encontrássemos novamente,
nós não curaríamos as feridas produzidas por esses laços de ódio. O ódio é uma
doença do espírito. Enquanto nós sentimos ódio, enquanto nós tivermos ódio
dentro de nós, mesmo que bem controlado, mesmo que nós nem percebamos que
sentimos ódio – nós não nos curamos. E a única maneira de curar essa doença
chamada ódio – ódio e seus derivados: mágoa, rancor, ressentimento – o meio de
nós curarmos essa doença é nos rearmonizando com nós mesmos e com os nossos
desafetos.
Em relação ao perdão: eu posso perdoar, posso
me elevar espiritualmente e superar esses laços negativos. Perdoar é
desligar-se, deixar para trás. Perdoar alguém de quem eu tive ódio é romper com
esses laços de ódio, eu já não estou ligado a essa pessoa por laços de ódio.
Poderíamos pensar, então, que basta perdoar
para nos vermos livres dos nossos desafetos.
É mais ou menos. Quando eu perdoo eu me livro
da doença, eu estou curado do ódio. Mas a Lei é perfeita. A Lei de Deus é
perfeita. Nada escapa da Lei. Temos que considerar que nós contribuímos para a
formação desses laços de ódio, nós contribuímos para que essa desarmonia
acontecesse. Se examinarmos as nossas existências anteriores veremos que nós
não somos vítimas. Podemos ter sido vítimas numa determinada existência, mas
fomos algozes em outra existência anterior – às vezes espíritos se perseguem
durante milênios, alternando as posições de perseguido e perseguidor. Isso só
termina com o perdão e a rearmonização.
Referindo-se a esses laços de desafeto, a
essas relações de ódio, Jesus nos ensinou no sermão da montanha:
“Concilia-te depressa com o teu adversário,
enquanto estás no caminho com ele, para que não aconteça que o adversário te
entregue ao juiz, e o juiz te entregue ao oficial, e te encerrem na prisão. Em
verdade te digo que de maneira nenhuma sairás dali, enquanto não pagares o
último centavo.” Mateus 5:25-26
Temos que pagar até o último centavo. O que
isso quer dizer?
Quer dizer que nós não nos elevaremos de
verdade enquanto estivermos em débito com as Leis divinas.
Jesus disse para entrarmos em acordo com o
nosso adversário, para nos conciliarmos, ou nos reconciliarmos com o nosso
adversário – o adversário é esse desafeto que reencarnou como nosso familiar.
Temos a oportunidade de nos reconciliarmos agora. Isso não quer dizer que temos
que morrer de amores por esse familiar nosso. Se nós construímos grandes
diferenças um com o outro, a ponto de mal nos suportarmos, dificilmente vamos
amar esse desafeto, nesta reencarnação, como nós amamos outras pessoas. Mas é
preciso começar a rearmonização. É preciso tolerar; compreender; ajudar, se for
o caso; e querer o bem para essa pessoa, orar por essa pessoa – isso é o mínimo
que podemos fazer.
O perdão liberta, é verdade. Mas não nos
isenta de trabalharmos pela rearmonização, de trabalharmos pela harmonia do
universo.
A Lei de Deus é pura harmonia. Deus é amor, é
alegria, é prazer – para vivermos o reino de Deus, que é o nosso próximo
estágio evolutivo, temos que estar em plena harmonia com as Leis de Deus.
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