por Marcos
Villas-Bôas
Uma das formas básicas pelas quais um
estudioso espírita deve atuar é, evidentemente, dialogando com Espíritos para
que possa, com intenções de instrução e caridade, levantar informações sobre o
mundo espiritual e a própria dimensão da Terra, onde nós, encarnados, vivemos.
Essa prática, que pode ensinar muito sobre
leis físicas e morais, ajudando-nos a melhor aplicá-las, felizmente vem
crescendo aos poucos entre os espiritualistas. Ela era, aliás, a base do estudo
de Allan Kardec e sustentou toda a codificação.
Quando o estudo é sério e de intenção nobre,
é quase certo que bons Espíritos apareçam para ajudar. Essa afirmação se
comprova, aliás, pelo fato de Espíritos elevados se disporem a participar de
entrevistas com os encarnados, gravadas, inclusive, em vídeo:
Continuando o seu já renomado e exitoso
programa “Diálogo com os Espíritos”, por meio do qual vem realizando há alguns
anos dezenas de entrevistas com seres desencarnados via médiuns, o estudioso
Jefferson Viscardi, mestre e doutor pela Universidade de Ciências Metafísicas
da Califórnia, entrevistou o Espírito Fernando Miramez de Olivídeo, que
trabalha com médiuns brasileiros faz muitos anos, tendo escrito, por exemplo,
inúmeros bons livros espíritas pelo médium João Nunes Maia.
Uma análise séria das dezenas de vídeos
publicados por Jefferson não parece deixar dúvidas sobre a autenticidade das
suas entrevistas espirituais. Examinando com cuidado os diálogos nos vídeos, os
diferentes médiuns, os distintos Espíritos que se manifestam, percebe-se que,
nem se os médiuns fossem todos atores espetaculares, não seria possível
produzir entrevistas com tamanha realidade e com informações tão ricas.
A médium do vídeo é a experiente Maísa
Intelisano. Uma forma de analisar a qualidade e a idoneidade de um médium é
pelas manifestações de diferentes Espíritos, buscando entender quanto nas
manifestações decorre de interferências do médium e quanto vem do próprio
Espírito. Vale a pena, por exemplo, comparar o trabalho de Maísa nas
manifestações mediúnicas do Espírito Miramez e do Exu Tatá Caveira, um Espírito
da umbanda:
Concluir que, no segundo caso, Maísa fica fumando charutos e interpretando um papel tão bem por 2 horas parece pouco racional. Ainda que isso fira de morte as crenças de muitos, é mais razoável concluir que ela está acoplada mediunicamente a uma inteligência invisível, até porque é isso o que ela afirma e, em se tratando de uma pessoa respeitada, que não ganha dinheiro com esse trabalho, fica difícil duvidar dela.
Quanto ao vídeo que é o foco deste texto,
fica a critério de cada um acreditar ou não que aquele é o Espírito Miramez. O
que parece falar em benefício da veracidade da comunicação com esse Espírito
superior é, primeiro, já existir um relacionamento antigo entre ele e a médium,
que Miramez chama tantas vezes durante o diálogo de seu “aparelho”.
Maísa Intelisano tem contatos espirituais com
Miramez, seja por psicofonia (oral), seja por psicografia (escrita), desde o
final do século XX. Ela mesma informa ao final do vídeo, gravado em 2013, que
já mantinha contato com ele havia mais ou menos 15 anos e a prática foi
aperfeiçoando as manifestações. Uma mensagem de Miramez, que pode ser
encontrada nesse link:
https://www.ippb.org.br/textos/revista-online/maisa-intelisano/mensagem-...,
foi psicografada por ela em 02 de março de 1997.
Se observarmos a linha de mensagens
atribuídas a Miramez por João Nunes Maia, Maísa Intelisano e outros médiuns,
vemos um Espírito evoluído, muito racional, objetivo e que parece conhecer bem
os dilemas da raça humana, pois o que diz vai direto aos nossos pontos de
dúvidas e de imperfeições.
Como se pode notar dos dois vídeos (a segunda
parte está nesse link:
https://www.youtube.com/watch?v=NWrhWCN6VEo&spfreload=10), a entidade que
se manifesta apresenta respostas inteligentíssimas e equilibradas a todas as
questões, muitas das quais surpreendem os próprios espíritas, pois são críticas
a uma boa parte deles, que distorcem a doutrina por conta de seus
personalismos, egocentrismos, vaidades, desejo de poder sobre o outro etc.
Nada muito diferente do que acontece em
outras religiões, quando, na verdade, o gérmen do Espiritismo nunca foi ser uma
religião como as outras, mas uma ciência e uma filosofia moral capazes de
religar racionalmente o homem ao divino por meio do amor, da humildade e da
caridade, o que já tratamos em texto anterior:
http://jornalggn.com.br/noticia/a-ciencia-espirita-por-marcos-villas-boas, e
que é explicado por Miramez na entrevista.
No último texto, afirmamos que o perispírito
é um corpo semimaterial, fluídico, muito maleável. Os Espíritos costumam
plasmá-lo na forma da sua última encarnação, naquela aparência de que mais
gostam ou naquela necessária a um trabalho. No início do vídeo, o Espírito diz
ser Miramez e se descreve fisicamente da forma exata como ele aparece em
algumas fotos. Ao longo dele, conta alguns detalhes que o entrevistador sequer
conhecia da sua última encarnação.
Parece ser preciso muita maldade para crer
que tudo aquilo é uma excelente encenação. Mas, se fosse, o que se buscaria com
ela, se os vídeos são publicados na Internet de graça? Qual seria o objetivo de
Jefferson e de todos os demais que participam do vídeo? Enganar as pessoas para
que todas acreditem em Espíritos como eles? Não parece lógico.
Outra hipótese levantada pelos mais
incrédulos será a de que tudo seria uma imaginação coletiva, algo que poderia
ser ainda considerado se analisássemos apenas um vídeo, mas é difícil de se
pensar em fruto de mera imaginação quando se trata de dezenas de entrevistas,
que contam informações às vezes detalhadas de pessoas que foram encarnadas e
que revelam alguns diálogos com mudanças drásticas de voz, comportamento e
forma de pensar.
Os mais incrédulos precisam começar a se
convencer de que negar não muda a realidade, mas apenas constrói na mente deles
uma realidade alternativa, deixando-os em paz com suas crenças íntimas. Por
outro lado, eles continuarão sendo influenciados por Espíritos, que poderão,
inclusive, causar problemas em suas vidas, a depender da sintonia de pensamento
deles e de outros fatores, como Miramez explica no vídeo.
Uma prova da sabedoria desse Espírito e de
que era ele quem estava em comunicação, pois crítica semelhante aparece em
outras manifestações suas, é o trecho no qual se discute a fé raciocinada do
Espiritismo. O seguinte diálogo aparece aos 29 minutos e 15 segundos da segunda
parte da entrevista:
“a) Jefferson Viscardi: Então, vamos lá. O
próximo seria, depois da comunicabilidade dos Espíritos, a fé raciocinada, que
no Espiritismo ensinamos muito.
b) Espírito Miramez: Sim.
a) JV: A fé da Igreja era a Bíblia.
b) EM: bah, o fundamento da fé era a bíblia.
a) JV: Isso. Não existia muito raciocínio em
cima.
b) EM: Não. Pergunto: no Espiritismo moderno,
será que existe? Ou será que se tornou uma religião tão fundamentalista quanto
qualquer outra? Apoiada apenas nos livros de Kardec, como se Kardec tivesse
escrito tudo o que tinha para ser escrito a respeito, quando ele mesmo diz que
não estava pronta, a doutrina, que muita coisa seria acrescentada e que, à
medida em que a ciência do homem caminhasse, as mudanças deveriam ser feitas
naquilo que foi escrito. Mas, não é isso o que os espíritas fazem, infelizmente.
a) JV: O senhor não acredita que é um receio
de perder a estrutura numa sociedade tão necessitada de estrutura?
b) EM: Eu acho que é mais medo de perder o
controle e o poder sobre as pessoas, da mesma forma que a Igreja Católica fez
com os índios. Não há porque perder estrutura; ao contrário, a estrutura
ficaria muito mais clara, muito mais evidente, muito mais lógica, à medida que
a doutrina fosse incorporando a si as descobertas do homem, os avanços do
entendimento, as percepções que a humanidade fosse fazendo. Isso não seria
desestruturação; ao contrário, o medo é muito mais de perda de poder, porque,
se eu chegar para um espírita e disser que o que ele acredita não é verdade com
base na ciência, o que ele vai fazer?
a) JV: Ele vai ter que...
b) EM: rever a sua fé. Isso é fé raciocinada.
a) JV: Sim.
b) EM: Essa é a verdadeira fé raciocinada. É
aquela que é capaz de questionar a si mesmo em qualquer momento. Kardec já
colocou isso. Essa é a verdadeira fé raciocinada: hoje eu acredito nisso, mas
se amanhã alguém me trouxer uma prova, uma demonstração de que o que eu
acredito não é verdade, eu terei que rever a minha fé. Quantos estão prontos e
são capazes de fazer isso?
As colocações de Miramez, aptas a deixar
muitos espíritas decepcionados, alguns até irritados, dificilmente viriam em
uma fraude no meio espírita. Ainda que alguns ali presentes pudessem concordar
com ele, sobretudo pela autoridade de quem emitia o argumento, dificilmente
ousariam afirmar aquilo em vídeo, especialmente naquela forma direta. Foi a
sinceridade, objetividade e rigor de um Espírito evoluído o que permitiu aquela
parte do diálogo.
Quando apresentamos colocações semelhantes em
meios espíritas, quase sempre há constrangimento e respostas ríspidas. Segundo
Cosme Massi, um dos maiores especialistas em Allan Kardec do Brasil, numa
brilhante palestra: https://www.youtube.com/watch?v=iR0OY2DGk34, a situação é
pior do que se imagina, pois muitos espíritas mal conhecem as 5 obras
consideradas principais, o livro “O que é o Espiritismo” é praticamente
desconhecido e quase não se fala nos volumes da importantíssima Revista
Espírita.
Como se tem dito neste blog, o Espiritismo
foi descoberto, desenvolvido e codificado por Kardec como uma ciência que
emanava uma filosofia moral, permitindo uma religação do homem com o divino.
Nesse sentido de “religare”, seria também uma religião. O que se faz, contudo,
em muitos cantões do Brasil é “catolizar” a doutrina espírita, não havendo
tantos estudos teóricos aprofundados, nem muitas experimentações.
Na continuação do diálogo com Miramez, ele
responde que a única forma de afastar as distorções causadas pelos homens nas
religiões é o estudo, mesma advertência que Kardec costuma fazer:
“a)
Jefferson Viscardi: Então, o senhor está dizendo que o homem, projetando suas
fraquezas sobre a religião, pode deturpá-la um pouco.
b) Espírito Miramez: Muito! Não é pouco.
Muito!
a) JV: E o senhor vê isso como o caso do
Espiritismo hoje.
b) EM: Sim.
a) JV: O que o senhor sugere para que isso
mude hoje? Digamos...
b) EM: Pra começar, a leitura atenta e
estudada d’O Livro dos Espíritos. Há muita coisa ali sendo ignorada. Há muita
coisa importante ali sendo ignorada, distorcida ou revertida aos interesses de
quem comanda o Espiritismo hoje”.
Muitos preferem relegar a Deus as tarefas que
lhe cabem, mas os Espíritos não cansam de afirmar que são mais ajudados os que
se ajudam primeiro. Sem esforço e disciplina, o progresso é muito mais lento.
A falta de estudos teóricos e práticos mais
aprofundados na maioria dos centros espíritas do país se deve, provavelmente, à
própria cultura brasileira de conferir uma importância secundária à educação,
além de tratar, muitas vezes, os estudos científicos e filosóficos como se
fossem cerejas do bolo, algo muito difícil, que cabe somente a uns poucos
esclarecidos.
Essa visão é clara entre muitos espíritas, os
quais acham que “isso é tudo muito complicado e a pessoa a ser ajudada nem vai
compreender”. Ciência e filosofia não são saberes incompreensíveis pela
maioria. Essa ideia é uma ignorância decorrente da própria falta de estudo. A
falta de estudo leva à falta de conhecimento, que termina gerando menos
preocupação com o estudo e estagnando o progresso moral/intelectual, provocando
um ciclo vicioso e pernicioso que precisa ser quebrado imediatamente não
somente pelos espíritas, mas por todos.
A ciência não é um conhecimento impenetrável;
muito pelo contrário, o que todos estudam na escola, a exemplo de matemática e biologia,
são simplesmente ciências. O mesmo acontece com a universidade: Medicina,
Direito, Física etc. são ciências. Não há bicho papão.
Absolutamente tudo deve ser estudado,
ponderado e aprofundado teórica e, sobretudo, experimentalmente, sem o que não
há progresso. O homem que não acredita na educação (prática e teórica), na sua
instrução como ferramenta essencial de progresso, em qualquer idade, em
qualquer situação, está fadado a se estagnar e a sofrer mais do que o
necessário.
Obras do próprio Chico Xavier, como O
Consolador e Mecanismos da Mediunidade, escritas por Emmanuel e André Luiz,
autores espirituais entre os preferidos dos espíritas brasileiros, pois
escreveram romances por intermédio de alguém considerado santo pela maioria,
são pouco estudadas, uma vez que trazem assuntos considerados mais áridos,
científicos.
Não pode ser assim. Ainda que seja natural
cada um se atrair pelas áreas do conhecimento espiritual que mais lhe
interessam, não é possível conhecer a fundo o Espiritismo sem adentrar com
atenção pelos seus três vieses: científico, filosófico e religioso. Lembre-se
que esses vieses servem para efeitos didáticos. O conhecimento é uno.
A Ciência Espírita é simplesmente mais um
conhecimento com objeto definido, com métodos que lhe são característicos e com
especialistas interessados neles. Estudemo-la o máximo possível!
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