O Lar de Frei Luiz, centro espírita
localizado no bairro de Jacarepaguá, no Rio, confirmou, segundo o jornal Extra,
que, a carta foi psicografada no local. Segundo o presidente, Wilson Pinto, a
mensagem foi recebida por um médium na noite de 7 de maio de 2015, durante uma
reunião de dependência química.
Espírito relata período no "umbral"
Na mensagem, Cássia relata o período em que
passou no "umbral", lugar de expiação para o espírito em regeneração,
segundo a doutrina espírita. O termo ficou conhecido após o filme Nosso Lar,
baseado na obra homônima escrita através de psicografia pelo médium Chico
Xavier.
Leia a carta que seria de Cássia Eller na
íntegra:
"Se eu disser para vocês que o inferno
existe, acreditem, pois eu estava mergulhada nele, de corpo e alma, num espaço
sombrio e frio, bem interno do ser, dos pés à cabeça, sem tempo, sem luz, nem
descanso e afogava-me, a cada segundo, num oceano de matéria viscosa que
roubava até minha ilusória alegria… Naquele lugar não havia luz, somente nuvens
cinza e chuvas com raios e trovões, gritos estridentes e desesperados, gemidos
surdos, pedidos de socorro, lágrimas, desalento, tristeza e revolta…
Preciso descrever mais as cenas dantescas de
animais que nos mastigavam e, em seguida, nos devoravam sem consumir nossos
corpos; se é que posso dizer que aquilo, que sobrou de mim, era um corpo
humano. Queria fugir para bem longe dali, mas tudo em vão, quanto mais me
debatia no fluido grudento, mais me afundava e, quando alcançava, de novo, a
superfície apavorante, mãos e garras afiadas faziam-me submergir naquele
líquido pastoso e mal cheiroso.
Dragões lançavam chamas de suas bocas sujas e
nos queimavam, machucando e estilhaçando a pouca consciência que me restava da
lembrança de minha estada no corpo físico, neste planeta azul. Guardiões das
trevas olhavam atentos seus presos e vigiavam todos os movimentos realizados
naquele imenso espaço de sofrimentos, dores, lamentos, depressões, angústias e
arrependimentos tardios… O ar era ácido e provocava convulsões diversas.
Perguntava-me porque ali estava se nada
fizera por merecer tão infeliz destino, depois de ser expulsa do corpo de carne
através do uso maciço de drogas. A dúvida assaltava-me os raros momentos de
raciocínio menos desequilibrado e as crises de abstinência trancavam todas as
portas que dariam acesso à saída daquele campo de penitência de espíritos
rebeldes e viciados com eu.
Os filmes de horror que assisti, quando
encarnada, estariam ainda muito distantes dos padecimentos, pânicos, pavores e
temores que ficariam para sempre registrados na minha memória mental, os piores
dias que vivi até hoje, como joguete e marionete de forças que me escravizavam
o ser, debilitado, fraco, desprovido de energias, suja, carente e chorosa.
Não me lembrava do que acontecera comigo…
Quando o medo é maior que as necessidades básicas, a mente fica encarcerada num
labirinto hipnótico e “torporizante” de emoções truncadas e desconectadas da
realidade… Assemelha-se a um pesadelo sem fim, sempre com final trágico e
apavorante. Quando conseguia conciliar um pequeno tempo de sono; era
imediatamente desperta por seres que me insultavam e xingavam, acusavam-me de
suicida maldita e jogavam-me lama misturada com pedras… Insetos e anfíbios
ajudavam a traçar o perfil horrendo dos anos que passei no umbral.
Preciso escrever estas palavras para nunca
mais me esquecer: “Com o fenômeno da morte, nós não vamos para o umbral, nós já
estamos no umbral quando tentamos forjar as leis maiores da criação com nossas
más intenções e tendências viciantes”.
Tudo fica registrado num diário mental que
traça nosso destino futuro, no bem ou no mal. O umbral não fora criado por
Deus; ele é de autoria dos espíritos que necessitam de um autêntico e genuíno
estágio educativo em zonas inferiores, onde poderão se depurar de suas
construções aleijadas no campo dos sentimentos e dos pensamentos disformes, mal
estruturados e mal conduzidos por nossa irresponsabilidade, de mãos dadas com a
imensa ignorância que nos faz seres infelizes e distantes da tão sonhada paz de
consciência.
Após alguns anos umbralinos, despertei numa
tarde serena, num campo verdejante e calmo. Não acreditava no que via, pois
tudo, agora, parecia um sonho… Percebi, ao longe, o canto de uma ave que
insistia em acordar-me daquele pesadelo no qual já me acostumava a viver; a
morrer todos os dias… Seu canto era uma música que apaziguava meu coração e
aguçava meus pensamentos na lembrança de como fui parar ali naquele campo
gramado e repleto de árvores.
Consegui sentar-me na relva e ao olhar todo
aquele espaço natural, deparei-me com milhares de outros seres como eu, nas
mesmas condições de debilidade moral, usufruindo, agora, de um bem que não
merecia, mas vivia ! Todos nós dormíamos e fomos despertos com música e preces
em favor de todos os presentes…
A maioria era de jovens e adultos, poucos
idosos e centenas de enfermeiros que olhavam atentos para nossos movimentos no
gramado. Com seus olhos serenos, projetavam em nós a mansidão e a paz tão
esperadas por nossos corações enfermos, débeis e carentes de atenção, de afeto
e carinho.
Alguém me tocava, de leve, os ombros e
chamava-me pelo nome, como se me conhecesse há muito tempo. Eu identifiquei
aquela voz e “temia” olhar para trás e confirmar minha impressão auditiva, era
Cazuza todo de branco, como lindo enfermeiro, de cabelos cortados bem curtos e
estendia suas mãos para que eu levantasse, caminhasse e conversasse um pouco em
sua companhia.
Não consegui me levantar, porque uma
enxurrada de lágrimas vertia dos meus olhos, como nascente de rio descendo a
montanha das dores que trazia no peito. Meu ídolo ali estava resgatando e
cuidando de sua fã, debilitada e muito carente. Ele cantou pequena canção e
tive a capacidade de avaliar o que Deus havia reservado para aqueles que feriam
suas leis e buscavam consolo entre erros escabrosos e desconcertantes.
A misericórdia divina sempre conspira a nosso
favor, nós desdenhamos do amor divino com nossas desatenções e desequilíbrios
das emoções comprometedoras, que arranham e esmagam as mais puras sementes
depositadas no ser imortal. aprendi palavras boas!
Somente agora enxergo que sou espírito e que
a vida continua e precisa seguir o curso natural das existências, como na
roda-gigante: hora estamos aqui no alto; hora estamos aí embaixo encarnados.
Daqui de cima, parece ser mais fácil compreender porque temos de respeitar as
leis e descer num corpo físico para, igualmente, quando aí estivermos,
conquistarmos, pelo trabalho no bem, a lucidez que explica porque há a reencarnação,
filha da justiça divina.
Após um tempo no campo reconfortante, fui
reconduzida para um hospital onde me recupero até hoje dos traumas e cicatrizes
que criei no corpo do perispírito. As lesões que provoquei foram muito graves,
passei por várias cirurgias espirituais e soube que minha próxima encarnação
será dolorosa e expiarei asma, deficiência mental e tuberculose.
Mesmo assim, estou reunindo forças para
estudar, pois sempre guardamos, no inconsciente, todos os aprendizados
conquistados. Reencarnarei numa comunidade carente no interior do Brasil e
passarei por muitos reveses, para despertar em mim o valor da vida do espírito
na pobreza e na doença crônica. Peço orações e a caridade dos corações que já
sabem o que fazem e para onde desejam chegar. Invistam suas forças e energias
espirituais em trabalhos de auxílio ao próximo e serão, naturalmente, felizes.
Obrigada por me aceitarem como necessitada que sou!"
Autor: Cássia Eller
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