A Bíblia conta que
num banquete dado por Baltasar, rei da Babilônia, materializou-se a mão de um
homem, que escreveu numa parede três palavras desconhecidas (capítulo 5º de
Daniel). Então, o rei mudou de cor, seus pensamentos se turbaram, as juntas
dos seus membros se relaxaram e seus joelhos puseram-se a bater um contra o
outro, o que significa dizer que o rei ficou apavorado. Esse fenômeno mediúnico
de efeito físico está longe de ser o primeiro e único na Bíblia, que dá
testemunho de inúmeros deles, desde Moisés até às últimas páginas do Novo
Testamento.
A PRIMEIRA SESSÃO ESPÍRITA
Um amigo meu,
Pastor Evangélico, me confidenciou que ficava embaraçado quando tinha de
comentar o texto do Velho Testamento relativo ao versículo 28, do Capítulo I,
do livro de Samuel. Segundo suas próprias palavras, ele considerava o fato
relatado nesse texto como a primeira Sessão Espírita da Bíblia.
Ao chegar em casa,
fui pesquisar o assunto no Velho Testamento, e me deparei com o fato ocorrido
com o rei Saul, após a morte de Samuel, seu protetor e conselheiro.
Vale esclarecer que
o povo judeu resolveu dar aos seus dirigentes máximos o título e a condição de
rei, numa tentativa de acabar com os desmandos, os conflitos de autoridade e a
conseqüente desarmonia política e social. Acontece que o rei Saul, ante a
contingência de lutar contra os filisteus, adversários tradicionais dos judeus,
teve medo. Sua primeira providência foi consultar Javé, Deus de Israel, isto é,
orou a Deus pedindo socorro. Mas não conseguiu nada, conforme registra ‘I
Samuel 28:6: “(…) Javé não lhe respondeu nem por sonhos, nem pelo urim, nem
pelos profetas”. Urim seria um fenômeno mediúnico de efeitos físicos utilizado
pelos espíritos manifestantes, tal como ainda hoje o fazem com a prancheta ou
com um copinho que desliza dentro de um círculo de letras
A CONSULTA AO MORTO
Porém, sabendo que
os mortos podiam ser consultados, foi informado pelos seus comandados de que
ali perto, em Endor, havia uma pitonisa, isto é, uma médium através da qual ele
poderia se aconselhar com os espíritos para tomar a decisão de lutar contra os
filisteus, ou recuar se fosse o caso. Acontece que ele mesmo havia determinado
a expulsão de todos os médiuns do país.
Diante disso, Saul
disfarçou-se e saiu incógnito. Chegando à noite na casa da médium, disse-lhe
que precisava falar com os “mortos”. A pobre senhora procurou recusar o
consulente, devido à severa proibição determinada pelo próprio Saul. Embora
desconfiada, perguntou-lhe com quem ele queria falar, ao que ele respondeu:
“Chame Samuel”. Ao cair em transe, à médium de Endor de pronto verificou que
ele tentara enganá-la e passou-lhe uma descompostura, pois na realidade se
tratava o tempo todo do próprio rei Saul, a pedir ajuda para falar com os
espíritos.
Nesse momento, o
espírito Samuel, materializado, estende as mãos acolhedoras a Saul, e pergunta
a razão da sua evocação. Emocionado, Saul diz então: “É que estou em grande
angústia. Os filisteus guerreiam contra mim. Deus se afastou de mim, não me
responde mais, então vim te chamar para que me digas o que tenho de fazer”.
ORIENTAÇÃO DE SAMUEL
Segundo o espírito
Humberto de Campos, pelo médium Chico Xavier, no livro Lázaro Redivivo, o
espírito materializado de Samuel, afagando a cabeça de Saul, falou comovido:
“Volta então ao
povo de Israel, desarma o nosso exército e dize à nação que o nosso orgulho
racial é um erro nefasto e profundo, diante da morte, inevitável para todos.
Notifica as doze tribos de que nossas guerras e atritos com os vizinhos são
malditas ilusões que nos agravam as responsabilidades, diante do Deus
Altíssimo. Cientifica-os de que a morte ensinou a mim, último juiz dos
israelitas, as mais estranhas revelações. O Senhor supremo não está em nossa
arca de substância perecível do mundo, que não passa de mero símbolo,
respeitável embora… Onde teremos buscado tanta audácia para nos julgarmos
privilegiados do Eterno? Que espíritos satânicos penetraram nossos lares, para
odiarmos o trabalho pacífico, entregando-nos ao monstro da guerra, que espalha
a fome, a peste e a desolação?
E verdade que os
nossos antepassados muito sofreram nas perseguições da Babilônia e no cativeiro
do Egito, mas também é inegável que nunca soubemos valorizar os favores e as
graças de Jeová, o Pai magnificente. Reajustando agora os meus conhecimentos
pelas imposições do sepulcro, eu mesmo, que cultivava a Justiça e supunha
servir ao Senhor, compreendo quanto me afastei das vozes espirituais que nos
induziam ao escrupuloso cumprimento da Lei. Sou hoje obrigado a socorrer os
nossos armadores e frecheiros, guerrilheiros e pajens de armas, que choram e
sofrem junto de mim e aos quais ajudei na matança. Volta, pois, Saul, enquanto
é tempo, e ensina aos nossos a realidade dura e angustiosa. Explica-lhes que os
filisteus são também filhos do Altíssimo e que, ao invés de nos odiarmos, é
imprescindível nos amemos uns aos outros, auxiliando-nos reciprocamente, como
irmãos. Os lares de Jerusalém não são melhores que os de Ascalão. Vai, e ensina
ao nosso povo uma vida nova! Faze que os instrumentos destruidores do
extermínio se voltem para o trabalho pacífico e abençoado no solo da Terra!”.
RECUSA DO CONSELHO
Saul soluçava, de
joelhos. Como aceitar os conselhos inesperados e humilhantes? Não se sentia
com a força precisa para recuar. Buscava orientação para a vitória na batalha
e o juiz inesquecível de Israel voltava do misterioso reino da morte para
induzi-lo à submissão?
Saul, porém, diante
de sua rebeldia em não aceitar os conselhos inesperados para não guerrear,
ouviu a seguinte profecia do espírito Samuel: “Amanhã mesmo serás recolhido
pela morte com os teus filhos” (na Bíblia: I Samuel: 28). E foi o que aconteceu.
Deixando de acatar o bom conselho de Samuel, dado em nome do Senhor, Saul
morreu na batalha contra os filisteus junto com seus filhos, a fim de aprender
com a morte as sagradas lições da vida.
Fonte: (Gerson
Simões Monteiro) - Jornal Correio Espírita
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