Esta é uma questão muito comentada dentro do
tema da reencarnação. É impossível conseguirmos mensurar a quantidade de vidas
pregressas que vivemos, muito mais difícil é lembrar de todas elas. Podemos,
sim, ter alguns flashs durante algumas fases da nossa vida, mas nada tão
detalhado. Estou falando isso no geral, mas existem, sim, pessoas que lembram
alguns detalhes de sua vida anterior, inclusive detalhes do momento do
desencarne. Até onde estudei, alguns desses flashs, insights de memória são
permitidos que determinada pessoa os tenha, mas que tenha alguma serventia para
elas, ou seja que venham a ter algum proveito disso para o bem delas.
No geral as pessoas conseguem acessar um
mínimo dessas memórias durante o período de sono, nos sonhos. Acordam, porém,
com uma sensação de que já tinham passado por determinada situação
anteriormente, sendo válido para solucionar um problema ou questão que há muito
demandava atenção. Uma sensação de inspiração para tal coisa. Exemplo: hoje
posso ter sonhado com flashs de uma vida passada, a qual passei por uma
determinada situação. Situação esta, que estou passando também na vida
presente. Tal sonho me “inspirou” a não tomar alguma decisão precipitada, que
tomara na vida pregressa.
Segundo O Evangelho Segundo o Espiritismo, no
capítulo 5: “não é somente após a morte que o Espírito recobra a lembrança
do passado. Pode dizer-se que ele nunca a perde, pois a experiência prova que,
encarnado, durante o sono do corpo, ele goza de certa liberdade e tem consciência
de seus atos anteriores. Então, ele sabe por que sofre, e que sofre justamente.
A lembrança só se apaga durante a vida exterior de relação. A falta de uma
lembrança precisa, que poderia ser-lhe penosa e prejudicial às suas relações
sociais, permite-lhe haurir novas forças nesses momentos de emancipação da
alma, se ele souber aproveitá-los.”
Trocando em miúdos, eu quero dizer que nem
sempre dá para saber se são realmente memórias de um passado ou não, mas o que
importa é ter a noção de que ela veio no momento “oportuno” para que eu pudesse
tomar uma atitude sensata. Querer decifrar tudo o que sonhamos, ou tentar
solucionar os nossos “déjà vus” só vai nos deixar cada vez mais neuróticos.
Segundo o O Livro dos Espíritos, pergunta
392: Por que o Espírito encarnado perde a lembrança do seu passado-?
— O homem nem pode nem deve saber tudo; Deus
assim o quer na suasabedoria. Sem o véu que lhe encobre certas coisas, o homem
ficaria ofuscado como aquele que passa sem transição da obscuridade para a luz.
Pelo esquecimento do passado, ele é mais ele mesmo.
Comentário de Kardec: “Se não
temos, durante a vida corpórea, uma lembrança precisa daquilo que fomos, e do
que fizemos de bem ou de mal em nossas existências anteriores, temos,
entretanto, a sua intuição. E as nossas tendências instintivas são uma
reminiscência do nosso passado, as quais a nossa consciência, — que representa
o desejo por nós concebido de não mais cometer as mesmas faltas — adverte que
devemos resistir.”
Quem ainda é meio “novato” na Doutrina
Espírita não consegue entender que o fato de não lembrarmos das nossas inúmeras
experiências passadas é uma coisa BENÉFICA, pois pensa que, se lembrasse com
exatidão os erros do passado, conseguiria evita-los nessa vida e nas futuras.
Triste engano. Já dizia O Evangelho Segundo o Espiritismo: “Se Deus julgou
conveniente lançar o véu sobre o passado, é porque isso devia ser útil”.
A obra citada nos ensina que a lembrança
dessas vidas passadas seria de grande inconveniente, pois como diz no texto:
“em alguns casos poderia (as lembranças) humilhar-nos ou exaltar o nosso
orgulho”, causando uma perturbação inevitável nas relações sociais. Numa
linguagem ainda mais simples, uma pessoa que tivesse o controle de tais
memórias poderia mergulhar num poço de culpa e vergonha pelos erros pregressos,
ou deixa-la orgulhosa demais por ter feito “isso e aquilo”. Por fim, em ambas
situações, isso poderia “subir a cabeça” e ficarem neuróticas, impedindo o
livre-arbítrio; limitando ou atrasando a progressão moral do espírito.
Sabendo do fato de que muitas vezes
reencarnamos na mesma família, trocando apenas as posições de parentesco, então
imagine que todos da família lembrem de vidas pregressas, onde uns foram os
humilhados, odiados… Como seria essa família? Digo, como seria a convivência
dessa família? Imagine saber que um filho, ainda no útero da mãe, seria a
reencarnação de um grande inimigo do passado. Será que haveria tempo oportuno
para negociações de reconciliação e paz? Difícil, né? (!)
O texto do Evangelho deixa bem claro:
“(…) esse esquecimento só existe
durante a vida corpórea. Voltando à vida espiritual, o Espírito reencontra a
lembrança do passado. Trata-se, portanto, apenas de uma interrupção momentânea,
como a que temos na própria vida terrena, durante o sono, e que não nos impede
de lembrar, no outro dia, o que fizemos na véspera e nos dias anteriores”.
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