por Marcos Villas-Bôas
Em diversos dos textos publicados neste blog,
temos visto comentários de leitores que revelam grande desconhecimento sobre a
Ciência Espírita, um dos pilares do Espiritismo. Obviamente, ninguém aceitará
uma ciência que estuda Espíritos quando sequer entende como tudo começou e o
que está por trás dela.
Voltaremos, então, ao básico e à história
utilizando inicialmente o não tão conhecido livreto “O Espiritismo em sua
expressão mais simples”, publicado por Allan Kardec em 1862 e facilmente
encontrado em .pdf na Internet.
Trata-se de obra com 17 páginas, sendo que o
conteúdo mesmo já começa na página 5. Para facilitar ainda mais aos nossos
leitores, iremos resumir esse livreto de modo a apresentar em breves linhas a
história do surgimento do Espiritismo e, consequentemente, do advento do estudo
científico das manifestações espirituais.
“Até então, o fenômeno podia explicar-se
perfeitamente por uma corrente elétrica ou magnética, ou pela ação de um fluido
desconhecido, e esta foi aliás a primeira opinião formada. Mas não se demorou a
reconhecer, nesses fenômenos, efeitos inteligentes [...]. Foi então evidente
que a causa não era puramente física e, a partir do axioma: Se todo efeito tem
uma causa, todo efeito inteligente tem uma causa inteligente, concluiu-se que a
causa desse fenômeno deveria ser uma inteligência”.
“[...] A primeira ideia foi que poderia ser
um reflexo da inteligência do médium ou dos assistentes, mas a experiência
demonstrou logo a impossibilidade disso, porque se obtiveram coisas
completamente fora do pensamento e dos conhecimentos das pessoas presentes, e
até em contradição com suas ideias, vontade e desejo; ela só podia, então,
pertencer a um ser invisível. O meio de certificar-se era bem simples: bastava
iniciar uma conversa com essa entidade, o que foi feito por meio de um número
convencional de batidas significando sim ou não, ou designando as letras do alfabeto;
obtiveram-se, dessa forma, respostas para as diversas questões que se lhe
dirigiam. O fenômeno foi designado por mesas falantes. Todos os seres que se
comunicaram dessa forma, interrogados sobre sua natureza, declaram ser
Espíritos e pertencer ao mundo invisível”.
“Da América esse fenômeno passou para a
França e o resto da Europa onde, por alguns anos, as mesas girantes e falantes
estiveram na moda e se tornaram os divertimentos dos salões [...]”.
“Salientemos, antes, que a realidade do
fenômeno encontrou numerosos opositores; alguns, sem levar em conta a
preocupação desinteressada e a honradez dos experimentadores, só enxergaram uma
fraude, uma hábil sutileza [...]. Outros, não podendo negar os fatos, e sob o
império de certas ideias, atribuíram esses fenômenos a influência exclusiva do
diabo e procuraram, assim, assustar os tímidos”.
“Os outros críticos não tiveram sucesso maior
porque, aos fatos constatados, com raciocínios categóricos, só puderam opor
denegações. Leiam o que eles publicam e em toda parte encontrarão a prova da
ignorância e a falta de observação séria dos fatos; em nenhum lugar, uma
demonstração peremptória de sua impossibilidade. Toda a argumentação deles
resume-se assim: ‘Eu não acredito, então não existe; todos os que acreditam são
loucos; somente nós temos o privilégio da razão e do bom senso’”.
“As comunicações por batidas eram lentas e
incompletas; verificou-se que, adaptando um lápis a um objeto móvel (cesto,
prancheta ou um outro, sobre os quais se colocavam os dedos), esse objeto
começava a movimentar-se e traçava sinais. Mais tarde verificou-se que esses
objetos eram tão-somente acessórios que podiam ser dispensados; a experiência
demonstrou que o Espírito, que agira sobre um corpo inerte dirigindo-o à
vontade, podia agir da mesma forma sobre o braço ou a mão, conduzindo o lápis.
Tivemos então médiuns escritores, ou seja, pessoas que escreviam de modo
involuntário, sob o impulso dos Espíritos, de que eram instrumentos e
intérpretes. A partir daí, as comunicações não tiveram mais limites, e a troca
de pensamentos pode-se fazer com tanta rapidez e desenvolvimento quanto entre
os vivos. Era uma vasto campo aberto à exploração, a descoberta de um mundo
novo: o mundo dos invisíveis, assim como o microscópio tinha desvendado o mundo
dos infinitamente pequenos”.
“Soube-se logo, por eles mesmos, que não se
trata de seres à parte na criação, mas das próprias almas daqueles que viveram
na Terra ou em outros mundos; que essas almas, depois de terem despojado de seu
envoltório corporal, povoam e percorrem o espaço. Não houve mais possibilidade
de dúvidas quando se reconheceram, entre eles, parentes e amigos, com quem se
pode conversar [...]”.
“Há no homem três coisas essenciais: 1o) a
Alma ou Espírito, princípio inteligente em que residem o pensamento, a vontade
e o senso moral; 2o) o corpo, o envoltório material, pesado e grosseiro, que
coloca o Espírito em relação com o mundo exterior; 3o) o perispírito,
envoltório fluídico, leve, e que serve de laço e intermediário entre o Espírito
e o corpo”.
“As batidas e movimentos são, para os
Espíritos, meios de atestar sua presença e chamar para si a atenção, exatamente
como quando uma pessoa bate para avisar que há alguém. Há os que não se limitam
a ruídos moderados, mas que chegam a fazer um alarido como de louça quebrando,
de portas que se abrem e fecham, ou de móveis derrubados”.
“Os Espíritos podem ainda manifestar-se de
várias maneiras, entre outras pela visão e pela audição. Certas pessoas, ditas
médiuns auditivos, têm a faculdade de ouvi-los e podem, assim, conversar com
eles; outras os veem – são médiuns videntes. Os Espíritos que se manifestam à
visão apresentam-se geralmente sob forma análoga a que tinham quando vivos,
porém vaporosa; outras vezes, essa forma tem toda a aparência de um ser vivo, a
ponto de iludir completamente, tanto que algumas vezes foram tomados por
criaturas de carne e osso, com as quais se pode conversar e trocar apertos de
mãos, sem se suspeitar que se trava de Espíritos, a não ser em razão de seu
desaparecimento súbito”.
“Que cada um junte suas lembranças e veremos
quantos fatos autênticos desse tipo, de que não nos apercebíamos, aconteceram
não só à noite, durante o sono, mas em pleno dia e no estado mais completo de
vigília. Outrora víamos esses fatos como sobrenaturais e maravilhosos, e os
atribuíamos à magia e à feitiçaria; hoje, os incrédulos os atribuem à
imaginação; mas desde que a ciência espírita nos deu a chave, sabemos como se
produzem e que não saem da ordem dos fenômenos naturais” (grifo nosso).
“Acreditamos ainda que os Espíritos, só pelo
fato de serem Espíritos, devem ser donos da soberana ciência e soberana
sabedoria: é um erro que a experiência não tardou demonstrar. [...] Os
Espíritos, não sendo mais do que as almas dos homens, naturalmente não podem
tornar-se perfeitos ao abandonar seu corpo; até que tenham progredido,
conservam as imperfeições da vida corpórea; e por isso que os vemos em todos os
graus de bondade e maldade, de saber e ignorância”.
“As instruções dadas pelos Espíritos de
categoria elevada sobre todos os assuntos que interessam à humanidade, as
respostas que eles deram às questões que lhe foram propostas, foram recolhidas
e coordenadas com cuidado, constituindo toda uma ciência, toda uma doutrina
moral e filosófica, sob o nome de Espiritismo” (grifo nosso).
“No espaço de alguns anos conseguiu adesões
em todos os países do mundo, sobretudo entre as pessoas esclarecidas, inúmeros
partidários que aumentam todos os dias em uma proporção extraordinária, de tal
forma que hoje pode-se dizer que o Espiritismo conquistou direito de
cidadania”.
“O Espiritismo, entretanto, não é descoberta
moderna; os fatos e princípios sobre os quais ele repousa perdem-se na noite
dos tempos, pois encontramos seus vestígios nas crenças de todos os povos, em
todas as religiões, na maior parte dos escritores sagrados e profanos; só que
os fatos, não completamente observados, foram muitas vezes interpretados
segundo as ideias supersticiosas da ignorância, e não foram deduzidas todas as
suas consequências”.
“Se as almas ou Espíritos podem manifestar-se
aos vivos, é que isso é natural e, portanto, eles devem tê-lo feito todo o
tempo; assim, em qualquer época e qualquer lugar encontramos a prova dessas
manifestações abundantes, sobretudo nos relatos bíblicos”.
“O que é moderno é a explicação lógica dos
fatos, o conhecimento mais completo da natureza dos Espíritos, de seu papel e
de seu modo de ação, a revelação de nosso estado futuro, enfim, sua
constituição em corpo de ciência e doutrina e suas diversas aplicações. Os
Antigos conheciam o princípio, os Modernos conhecem os detalhes. Na
Antiguidade, o estudo desses fenômenos constituía o privilégio de certas castas
que só os revelavam aos iniciados em seus mistérios; na Idade Média, os que se
ocupavam ostensivamente com isso eram tidos por feiticeiros e, por isso,
queimados; mas hoje não há mistérios para ninguém, não se queima mais ninguém;
tudo se passa claramente e todo mundo pode esclarecer-se e praticá-lo, pois há médiuns
em toda parte”.
Nota-se desse breve resumo do livreto de
Kardec que a ciência espírita foi construída de forma séria, com observação,
experimentação, olhar crítico e um ceticismo razoável, partindo de induções (da
prática para a teoria, do particular para o geral, do concreto para o abstrato)
via manifestações espirituais e seguindo o rigor lógico-dedutivo (da teoria
para a prática, do geral para o particular, do abstrato para o concreto)
exigido no seio científico do século XIX para se construir um corpo científico
e filosófico. O viés religioso veio apenas mais tarde e, sobretudo, no Brasil.
Para se por a favor ou contra a Ciência
Espírita em si e suas teorias, é preciso ao menos conhecer o básico sobre elas,
o que a imensa maioria dos favoráveis e contrários ainda não o faz, mesmo entre
aqueles que se dizem fervorosos adeptos do Espiritismo e entre aqueles que
dizem já tê-lo estudado profundamente e não encontrado nada de real.
Esperamos humildemente que este blog possa
ajudá-los nessa empreitada de expandir o conhecimento sobre tema tão
fundamental para nossas vidas. E antes que os espíritas se decepcionem com essa
afirmação acima, encerramos este texto com uma assertiva no mesmo sentido do
Espírito Bezerra de Menezes, ao prefaciar a excelente obra, que merece ser lida
do início ao fim, em todos os seus volumes, Filosofia Espírita (volume VI),
psicografada por João Nunes Maia sob acoplamento mediúnico com o Espírito
Miramez:
“Os espíritas, em geral, precisam estudar
mais, para melhor assimilarem as leis de Deus, alargando a compreensão em todas
as áreas da vida na edificação da caridade, porque somente conhecemos o amor
pelos caminhos da benevolência. Não pode, portanto, ficar sem estudar as obras
básicas da codificação; partindo delas, eles encontrarão, nas outras, que
vitalizam mais o Espiritismo, um mundo de revelações, que nos leva a grandes
esperanças”.
COMPARTILHE ESTA MENSAGEM
0 Comentários