(*) Por Emílio Vieira
Os
cientistas são de certa forma considerados reveladores
Imaginemos uma
entrevista com Allan Kardec a propósito de seu livro “A Gênese”, em que com
suas palavras poderíamos obter respostas às questões seguintes.
Pergunta — Pode o espiritismo ser considerado uma
revelação?
Resposta — Do ponto
de vista de nos dar a conhecer uma coisa desconhecida, sim. Neste sentido,
também as ciências são revelações. A astronomia nos revela um mundo astral. A
geologia nos explica a formação da terra. A química nos revela as leis das
afinidades. A fisiologia nos explica as funções do organismo. E assim por
diante. Os cientistas são de certa forma considerados reveladores.
P — Qual a característica essencial da revelação?
R — Tem que ser a
verdade.
P — A verdade tem que ser provada pelos fatos?
R — Os fatos têm
que ser demonstrados pela verdade. Sendo falsos, não existe revelação.
P — Os reveladores são os descobridores das verdades, tal
como os cientistas ou os gênios?
R — Originalmente,
sim. Mas também podem ser os divulgadores, como são os professores em relação
ao saber, na divulgação de conhecimentos. Há, portanto reveladores primários e
reveladores secundários. Como reveladores primários, poderíamos também
classificar os profetas (enviados) e os messias (missionários), incumbidos de
revelar a verdade divina aos homens.
P — Em que consiste a revelação dos homens de gênio? E
por que são homens de gênio?
R — Notemos que na
sua maioria, trazem, ao nascer, faculdades transcendentes e alguns
conhecimentos inatos, que com pouco trabalho desenvolvem.
P — Onde adquiriram esses conhecimentos inatos?
R — A única
explicação razoável está na preexistência da alma e na pluralidade das vidas. O
homem de gênio é um espírito que já vivera por mais tempo e que, certamente
numa só existência não acumularia tantos conhecimentos. Uma vez encarnado, traz
a bagagem do que sabe. E, como sabe mais do que outros e já não precisa
aprender, é chamado homem de gênio. Mas seu saber é fruto de um esforço
interior e não resultado de um privilégio. Pois Deus não lhe daria uma alma
mais favorecida do que a do homem comum.
P — Mas os homens não progridem por si mesmos?
R — Os homens
progridem incontestavelmente por si mesmos e pelos esforços de sua
inteligência. Mas por conta própria, sem ajuda dos gênios, só muito lentamente
progrediriam no campo das ciências. Os espíritos mais adiantados reencarnam
para adquirirem mais conhecimentos e para que os outros se beneficiem do que
sabem. Todos os povos tiveram homens de gênio, surgidos em diversas épocas,
para dar-lhes impulsos e tirá-los da inércia.
P — Então os homens de gênio cumprem uma missão?
R — Sim. Com o fim de
ativarem o progresso em determinado sentido. Sua missão é propiciar ao comum
dos homens os conhecimentos e as verdades que estes ignoram. Assim os
cientistas, assim os filósofos, como verdadeiros missionários cujas ideias
atravessam séculos beneficiando a humanidade. Tal como os reveladores das
verdades científicas, há também os reveladores dos valores morais (os
missionários e os messias) que insculpem na consciência humana os valores
essenciais para sua elevação ao plano da espiritualidade.
P — E os valores morais dependem de conhecimentos
científicos ou filosóficos?
R — No sentido de
valores associados a algum tipo de religiosidade, não. A revelação das coisas
espirituais independe da inteligência lógica e decorre da inspiração de que são
dotados seus reveladores. Independe, portanto, da verificação ou da
demonstração própria do campo científico. No campo dos valores espirituais,
todos os povos tiveram seus reveladores apropriados ao seu meio, ao seu tempo,
e às circunstâncias de suas necessidades culturais.
P — Há revelações de Deus diretamente aos homens?
R — Não se pode
dizer sim nem não, em caráter individual. Mas é certo que alguns homens podem
estar mais próximos das revelações divinas. “O que não padece dúvida é que os
espíritos mais próximos de Deus pela perfeição se incumbem do seu pensamento e
podem transmiti-lo”. Quem conhece os fenômenos espíritas sabe que há relações
que se estabelecem entre os encarnados e os desencarnados. “É exato dizer que
quase todos os reveladores são médiuns inspirados, mas não se deve concluir que
todos os médiuns sejam reveladores, nem intermediários diretos da divindade ou
de seus mensageiros”.
P — E Cristo entre os homens, não foi o revelador divino?
R— Na história da
humanidade, podemos citar o exemplo de dois grandes reveladores: Moisés e
Cristo. “Foram os dois grandes reveladores que mudaram a face do mundo e nisso
está a prova de sua missão divina”. E conclui Kardec: “Moisés, como profeta
revelou aos homens a existência de um Deus único, criador de todas as coisas,
promulgou a lei do Sinai e lançou as bases da verdadeira fé. O Cristo, tomando
da antiga lei o que é eterno e divino, acrescentou a revelação da vida futura,
de que Moisés não falara, assim como a das penas e recompensas que aguardam o
homem depois da morte”. Eis por que o Espiritismo é considerado a terceira
revelação.
(*) Emílio Vieira,
professor universitário, advogado e escritor, membro da Academia Goiana de
Letras, da União Brasileira Escritores de Goiás e da Associação Goiana de
Imprensa.
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