Por Talita
Rustichelli - Fonte: Folha da Região
Renda de telas,
espelhos e vasos é revertida para caridade
Ela está descalça,
lê uma mensagem ao público, faz uma espécie de oração, depois liga uma caixa de
som conectada ao celular, com músicas leves em idioma inglês. Então, começa a
pintar, auxiliada por dois ajudantes - um segurando pedaços de tecido onde ela
limpa as mãos e o outro lhe abrindo e entregando as tintas. A velocidade com
que pinta é impressionante, e faz tudo (exceto a assinatura) sem pincel.
A tinta é colocada
diretamente nas mãos, em quantidades generosas (tanto que pode demorar mais de
um mês para o trabalho secar por completo), e ela vai combinando as cores e
passando para a tela (ou para um espelho, ou para um vaso de vidro), compondo
flores, paisagens ou rostos. Assim ocorre uma sessão de pintura com a
martinopolense que vive em Parapuã (região de Presidente Prudente) Solange
Giro, 54.
Mas, ao contrário
do que parece, ela afirma não ser uma artista plástica - diz, inclusive, que
nunca fez cursos na área. "Eu não pinto, não desenho e tenho dificuldade
em fazer várias coisas com as mãos", comenta. Parece confuso? A resposta
para isso é que Solange é médium e passou a desenvolver a psicopictografia
(pintura mediúnica) quando tinha por volta dos 25 anos de idade.
Segundo o
espiritismo explicaria, não é ela quem pinta, nem quem fala no momento da
produção das obras, e sim os espíritos que ela incorpora. Quem não crê na
doutrina espírita, vê ali uma mulher pintando com muita habilidade e sai do
local impressionado com a técnica. Quem crê nas palavras de Allan Kardec
(codificados do Espiritismo), vê e sente algo que vai além de presenciar uma
pessoa fazendo sua arte.
Solange viaja para
várias cidades e já esteve em outros Estados também. Na noite da última
terça-feira (28), ela esteve em Birigui, onde pintou alguns trabalhos ao vivo,
para um pequeno público na casa de uma família. Segundo Solange, as obras têm
função cromoterápica, que é a cura por meio da cor. As telas, espelhos e vasos
que pinta são vendidos e a renda é toda revertida para caridade, tirando o
custo do material.
O dinheiro
arrecadado ajuda a sustentar os projetos das seis Casas da Sopa nas quais a
médium está envolvida (três que ela administra diretamente, em Parapuã,
Salmourão e Sagres, e três para as quais dá assistência, em Santos, Cravinhos e
Rondonópolis). Apenas a Casa da Sopa de Parapuã é vinculada a uma instituição
espírita diretamente (a Sociedade Beneficente Caminheiros do Bem). As demais
são independentes.
VIDAS
PASSADAS
"A mediunidade
não é dada a uma pessoa por merecimento, mas sim como forma de pagar o que ela
fez em vidas passadas. Por isso, a muleta do médium é a caridade. Fundamos a
Casa da Sopa em Parapuã no dia em que comecei a psicografar", explica
Solange.
As sessões de
pintura acontecem em casas de pessoas simpatizantes ao espiritismo. A preparação
da médium para o momento, porém, acontece dias antes, e inclui mudança na dieta
e em alguns hábitos. Ela afirma que, durante o processo, fica inconsciente;
quem fala (e até assovia a melodia da música que está tocando enquanto a
pintura ocorre), segundo Solange, é seu mentor espiritual, o médico holandês
Ernst, que teria vivido no século 17.
Quem pinta são os
espíritos de vários pintores, de acordo com a médium. "A psicopictografia
é a manifestação de artistas que passaram por aqui, que vêm com a intenção de
encantar nossos olhos e trazer um conforto para nossos corações", explica
ela.
Mediunidade
começou a se manifestar aos 20 anos
A médium Solange
Giro foi criada numa família católica e se aproximou do espiritismo aos 20
anos, ao conhecer o marido. Um pouco mais tarde, já casada com ele e com dois
filhos, conta que passou a sofrer de depressão e de um problema de origem
espiritual - obsessão. Na mesma época em que se libertava do problema, começou
a perceber os primeiros sinais de sua mediunidade.
Fez um curso, o
Coem (Curso de Orientação e Educação da Mediunidade), com o qual começou a
compreender os processos pelo qual começava a passar. A psicofonia (ouvir
espíritos) se manifestou primeiro e, em seguida, a psicografia (redigir
mensagens orientada por espíritos) e a vidência. Segundo ela, a psicografia era
um treino para ser iniciada na pintura mediúnica. "Tinha noites em que eu
psicografava 300 páginas. Logo comecei a pintura", conta.
Hoje viúva, Solange
continua viajando com sua missão, dedicada ao Espiritismo. Já são mais de 30
anos de psicopictografia e Solange já perdeu as contas de quantas telas pintou
por meio dos espíritos. Foram milhares de obras, que hoje estão em posse de
famílias que provavelmente acreditam que a imagem pintada só pode estar em suas
casas para fazer bem.
0 Comentários