Fonte: Enciclopédia Espírita
A Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas foi o primeiro centro espírita oficialmente
legalizado no mundo, fundada em 1 de abril de 1858, por Allan Kardec, que foi
escolhido presidente por aclamação, com sede em Paris, França. Como o próprio
nome indica, o objetivo da instituição era estudar o Espiritismo e pesquisar os
fenômenos mediúnicos, conforme o primeiro artigo de seu regulamento: "A
Sociedade tem por objeto o estudo de todos os fenômenos relativos às
manifestações espíritas e suas aplicações às ciências morais, físicas,
históricas e psicológicas". Contava com a colaboração de vários médiuns,
pelos quais seus membros interagiam com os Espíritos comunicantes, tendo São
Luís como o patrono espiritual de seus trabalhos.
O seu lançamento
foi notificado na Revista Espírita, edição de maio de 1858 com a seguinte nota:
A
extensão por assim dizer universal que a cada dia tomam as crenças espíritas
fazia vivamente desejar-se a criação de um centro regular de observações; essa
lacuna acaba de ser preenchida. A Sociedade, cuja formação temos o prazer de anunciar,
composta exclusivamente de pessoas sérias, isentas de prevenções e animadas do
sincero desejo de serem esclarecidas, contou, desde o início, entre seus
associados, com homens eminentes por seu saber e posição social. Ela é chamada
— disso estamos convencidos — a prestar incontestáveis serviços à comprovação
da verdade. Seu regulamento orgânico lhe assegura uma homogeneidade sem a qual
não há vitalidade possível; autorizada por portaria do Sr. Prefeito de Polícia,
conforme o aviso de S. Exa. Sr. Ministro do Interior e da Segurança Geral, em
data de 13 de abril de 1858.
Baseia-se
na experiência dos homens e das coisas e no conhecimento das condições
necessárias às observações que são o objeto de suas pesquisas. Vindo a Paris,
os estrangeiros que se interessarem pela Doutrina Espírita encontrarão, assim,
um centro ao qual poderão dirigir-se para obter informações, e onde poderão
também comunicar suas próprias observações."
Allan
Kardec
Em Obras Póstumas,
Kardec conta que a entidade surgiu da necessidade de acolher o crescente número
de adeptos ao Espiritismo que vinham participar das reuniões regulares que ele
realizava em sua casa, na Rua dos Mártires, às terças-feiras. Os participantes
propuseram então alugarem juntos um cômodo apropriado para comportar aqueles
importantes trabalhos.
"Mas,
então, fazia-se necessária uma autorização legal, a fim de se evitar que a autoridade
nos fosse perturbar. O Sr. Dufaux, que se relacionava pessoalmente com o
Prefeito de Polícia, encarregou-se de tratar do caso. A autorização também
dependia do Ministro do Interior. A tarefa de obter essa autorização coube
então ao general X..., que, sem que ninguém o soubesse, era simpático às nossas
ideias — embora sem as conhecer inteiramente. Graças à sua influência, a
autorização pôde ser concedida em quinze dias, quando, normalmente, leva três
meses para ser dada."
Allan Kardec, Obras Póstumas -
Segunda Parte, Fundação da Sociedade Espírita de Paris
Uma vez
regulamentada a Sociedade, as sessões foram transferidas para uma sala alugada
no Palais-Royal, inicialmente na galeria de Valois, depois, para uma sala
maior, na Galeria Montpensier, quando suas sessões foram remarcadas para as
sextas-feiras. Em 1860, a instituição foi relocada para sua sede própria,
adquirida na Rua Saint-Anne, n° 59.
As suas sessões
eram fechadas ao público, reservando-se aos seus sócios e, eventualmente, a
convidados que fossem previamente apresentados por um membro e autorizados pelo
presidente. A admissão de um associado seguia um rigoroso processo de aprovação
que, entre outros critérios, exigia a fiança de dois membros titulares e
conhecimentos prévios da doutrina.
O regulamento
completo da entidade foi publicado em O Livro dos Médiuns, Segunda Parte, cap.
XXX. As principais atividades e notas da Sociedade eram publicadas na Revista
Espírita.
Reeleito sucessivas
vezes presidente da entidade, Kardec lutou para a manutenção da rígida
disciplina das sessões e não menos rigoroso cuidado na admissão dos associados,
enquanto isso, nos corredores, muitos de seus correligionários cobravam uma
abertura maior da instituição. Alegando sobrecarga de tarefas, o codificador
chegou a pedir demissão de suas funções administrativas da Sociedade, o que não
ocorreu devido o apelo geral dos membros em favor de sua permanência na
presidência (Revista Espírita, Julho de 1859: "Discurso de encerramento do
Ano Social").
Depois da
desencarnação do seu fundador, a Sociedade Parisense de Estudos Espíritas ficou
a cargo de uma comissão diretora composta de sete membros, dentre as quais
Amélie Boudet, a viúva de Kardec, porém, não permanecendo ativa por muito
tempo, uma vez que os continuadores da obra kardecista passaram a se concentrar
nas atividades de uma organização, a Sociedade Anônima, que o codificador havia
projetado para substituí-lo.
Referências
Obras Póstumas,
Allan Kardec - especialmente 2ª Parte, "Fundação da Sociedade Parisiense
de Estudos Espíritas".
O Livro dos
Médiuns, Allan Kardec- especialmente cap. XXX: "Regulamento da Sociedade
Parisiense de Estudos Espíritas".
Kardec, Marcel
Souto Maior.
Revolução Espírita,
Paulo Henrique de Figueiredo. Em nome de Kardec, Adriano Calsone.
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