Acontecerá
depois que derramarei o meu Espírito sobre toda a carne;
vossos
filhos e vossas filhas profetizarão, os vossos anciãos terão sonhos,
os
vossos mancebos terão visões.
Joel,
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Com o advento da Doutrina Espírita,
várias questões, que nos intrigavam, foram esclarecidas. Entre tantas, aquelas
ligadas ao longo período infantil experimentado por todo ser humano, antes de
atingir a maturidade física e mental.
A criança passou a ser vista não mais
como um ser inteiramente novo, mas como um Espírito mais ou menos antigo do que
seus genitores. O conhecimento dessa realidade está encoberto, momentaneamente,
pelo princípio do misericordioso esquecimento do passado. Ao desencarnarem,
pais e filhos tomarão ciência de suas posições na escala evolutiva.
Além disso, a longa fase infantil se
justifica, sabiamente, pois oferece um período de tempo dilatado, quando
comparado ao período infantil dos irracionais, de modo que os responsáveis
possam educar ou reeducar aquela criança.
É fato também que o processo
propriamente dito de reencarnação de um Espírito se desenvolve ao longo de
alguns anos. Assim, ao retornar ao mundo material mais uma vez, o bebê, mais
tarde uma criança, ainda não assumiu a sua natureza intrínseca. Sua
personalidade e caráter vão reaparecendo aos poucos, em velocidade variável,
conforme a natureza de cada ser humano e de suas necessidades evolutivas. De
modo geral, esse período dura sete anos2, e vai se fixando,
lentamente, até o momento da transformação da glândula pineal, na sua condição
de veladora do sexo.3
Fazemos esta pequena introdução sobre a
função da infância para melhor entender como os responsáveis se conduzirão quando,
sem aviso, seu filho começar a relatar, por exemplo, que está conversando com
um amigo invisível.
Em muitos casos, essa atividade sobrenatural surge
por conta de uma lei divina que permite ao ser ainda encarnado e aos
desencarnados comunicarem-se, interagirem, segundo diversas modalidades de
contato, sendo a visão das entidades do mundo espiritual apenas uma delas. Essa
possibilidade se dá por conta de uma faculdade radicada no organismo físico,
chamada mediunidade, podendo surgir em qualquer idade, em homens ou mulheres,
sejam do hemisfério norte, sejam do sul, isto é, em qualquer lugar do mundo.
Sabe-se, através do Espiritismo, que a
criança em processo de reencarnação ainda possui acentuada percepção do mundo
espiritual, de onde acaba de vir. Sendo assim, consegue, com certa facilidade,
interagir com os Espíritos, escutando-os ou mesmo vendo-os, sem que essa
atividade seja enquadrada, propriamente dita, como mediunidade. Funciona como
se a criança mantivesse um pé do lado de cá, outro do lado de lá. Essa situação
perdura até que os laços, que ligam o perispírito ao corpo físico se
ajustem, quando, naturalmente, surgirá um véu entre o mundo concreto e o
invisível, impedindo que a maioria de nós interaja de modo ostensivo com os
Espíritos.
Contudo, a causa dessas conversas e
visões pode ser o prenúncio do surgimento da mediunidade propriamente dita
na criança, mesmo ainda muito nova, por razões ainda desconhecidas, o que
obrigará os responsáveis a, se desejarem bem orientar os seus filhos, conhecer
aspectos sobre a realidade da nossa imortalidade, bem como sobre essa lei
divina – mediunidade –, existente desde tempos imemoriais.
Exemplos de médiuns mirins os
temos e podemos destacar: Elizabeth d’Espérance, Yvonne do Amaral Pereira,
Francisco Cândido Xavier, Divaldo Pereira Franco e Raul Teixeira, entre outros.
Apenas para exemplificar, Elizabeth, médium escocesa, nascida em 13 de maio de
1849 e desencarnada em 20 de julho de 1918, via perfeitamente Espíritos em sua
fase infantojuvenil, divertindo-se com eles. Ao longo do tempo, realizou
pinturas mediúnicas e psicografias. Também era portadora da faculdade de
efeitos físicos, materializando seres espirituais e aportes de plantas, flores
vivas e inteiras.
Há crianças que, pela mediunidade, abordam
temas muito acima de suas capacidades intelectivas e mesmo de conhecimento.
A faculdade, pois, não escolhe tempo nem
idade. Se aparecer na família, a recomendação primeira seria buscar não
desenvolver as capacidades mediúnicas da criança4, tentando afastá-la
dessas ideias e, caso não seja possível, orientá-la nesse sentido apenas no que
tange às consequências dos aspectos morais. A justificativa dessa providência
se prende ao fato de que o organismo infantil ainda é fraco, está em formação,
sofrendo abalos desnecessários, caso se envolva no desenvolvimento de sua
faculdade nascente. Além disso, a imaginação da criança, já bem fértil por
natureza, também sofreria por conta da sobre-excitação experimentada ao atuar
nas diversas modalidades em que a faculdade pode se apresentar.
Contudo, se a faculdade se mostra
intensa, de efeitos físicos, escrita ou mesmo de vidência, mas natural,
involuntária, o caso é diverso, pois, se as percepções e efeitos são
espontâneos, significa que a sua constituição orgânica se mostra apta a tanto,
pois Deus não permitiria, em princípio, que uma mente infantil se ocupasse com
questões dessa ordem, caso seu organismo não estivesse em condições de
exercitar fenômenos mediúnicos.
Não há, portanto, idade precisa para se
ocupar com a mediunidade, e as condições necessárias são o desenvolvimento
orgânico e as qualidades morais apresentadas pela criança. Há, contudo, certas
mediunidades que possuem efeitos mais marcantes, como a de efeitos físicos, que
pode fatigar de modo anormal o corpo infantil, e a da escrita. Em relação à
última, a criança, após se acostumar com a psicografia, poderá, em seus
momentos livres, exercitar a faculdade como um passatempo, o que seria muito
perigoso. Imaginemos uma criança médium psicografando uma mensagem em plena
sala de aula!
Sobre as visões, é de se notar que a
criança, de modo geral, não se impressiona com as entidades que percebe
visualmente. Para ela, é natural e não dedica atenção especial às aparições,
muitas vezes esquecendo-as tão logo se envolva com outras preocupações de seu
universo infantil.
É comum a criança descrever amigos e
amigas invisíveis que, mais tarde, se descobrirão como sendo seus avós ou
bisavós desencarnados, por força do amor que os une, às vezes para comunicar
alguma mensagem aos pais. Esses relatos não podem ser criações de suas mentes,
nem de preocupações, pois em muitos casos, ela desconhece as características de
seus antepassados, reconhecendo suas visões quando toma conhecimento de
fotografias ou imagens de seus ascendentes.
Para as ciências médicas formais, esses
relatos são naturais, oriundos única e exclusivamente da imaginação infantil.
Por não ter com quem brincar, nessa hipótese, supõe-se uma filha ou filho
único, a criança inventa um amigo ou amiga para lhe fazer companhia, ou seja, a
solidão e a possível falta de atenção dos pais, seriam as principais causas
geradoras dos companheiros invisíveis.
Espíritos malévolos, inimigos da família
ou mesmo das crianças, podem se travestir, modificando seus perispíritos,
apresentando-se como lobos, monstros, figuras amedrontadoras do universo
infantil e assustá-las, pois percebem que elas podem ver cenas do plano
espiritual.
Por outro lado, esses amigos do
invisível podem ser os anjos da guarda dos pequenos, ou mesmo da família, buscando
acalmar seus protegidos de algo que os está apavorando. Esses benfeitores
estarão vigiando, bem de perto, seus protegidos, principalmente nessa fase
infantil, quando rondam muitos perigos, ainda mais nas sociedades pouco
moralizadas do século XXI. Todo cuidado é pouco nessa área. Essas aparições
também visam dar tranquilidade aos seus ainda pequenos protegidos, ajudando-os
na readaptação no mundo terrestre durante a fase de transição do espaço para a
matéria. Conforme ocorre o desenvolvimento intelectual e emocional da criança,
eles vão aos poucos afrouxando a vigilância, sem jamais perder de vista o
protegido, pois os pequenos, agora adultos, deverão se guiar pelo
livre-arbítrio.
Como se sabe, Espíritos obsessores podem
enganar médiuns adultos experientes. Imaginemos quando estiverem focados em
crianças. Além disso, como esperar seriedade e recolhimento de uma criança?
Essas duas virtudes são necessárias para uma boa manifestação mediúnica.
Ademais, havendo condições para o exercício da faculdade por uma criança, as
práticas deverão ser estritamente supervisionadas por pessoas experientes,
ensinando como lidar com o mundo invisível, realçando o respeito devido aos
chamados mortos.
Após essas considerações, a família
poderia seguir diretrizes como:
·
conversar
sem alarde com a criança para entender o que sente ou vê, sem supor que está
mentindo;
·
não
negar ou afirmar que a criança não está vendo pessoas;
·
não
perguntar em demasia, pois pode demonstrar um interesse especial nos relatos,
e, ao final, atemorizar a criança;
·
evitar
dizer que ela é privilegiada e uma grandiosa missão a aguarda. Às vezes, é pura
vaidade dos pais;
·
ler
e estudar o tema para entender e fornecer explicações corretas aos pequenos.
Sendo possível, envolver-se com as práticas espíritas para melhor compreender a
questão;
·
levar
os filhos à Casa Espírita para receber o passe e a água fluidificada;
·
conduzir
as crianças às aulas de Evangelização;
·
fazer
Evangelho no Lar, semanalmente, orando com fervor pelos possíveis
Espíritos que estejam circulando pela residência;
·
solicitar
avaliação psicológica.
Este conjunto de medidas possui a
capacidade de atenuar os efeitos, muitas vezes desagradáveis, e contratempos
provocados pelo aparecimento da mediunidade até que a criança atinja a
maturidade necessária para conduzir sua própria existência da melhor forma que
ela julgue conveniente.
Como predito por Joel, a profecia se
apresenta. Filhos e filhas profetizam, mancebos têm visões. São os tempos
novos.
A mediunidade se tornará cada vez mais
comum, à medida que os habitantes da Terra avançam rumo à perfeição relativa.
Referências:
1 BÍBLIA. A.
T. Joel. Antigo Testamento. Tradução de João Ferreira de Almeida.
Rio de Janeiro: Imprensa Bíblica Brasileira, 1966. cap. 2, vers. 28.
2 XAVIER,
Francisco Cândido. Missionários da luz. Pelo Espírito André Luiz.
Rio de Janeiro: FEB, 1987. cap. 13.
3 FRANCO, Divaldo
Pereira. Temas da vida e da morte. Pelo Espírito Manoel Philomeno
de Miranda. Rio de Janeiro: FEB, 1989. cap. 2.
4 KARDEC,
Allan. O livro dos médiuns. Rio de Janeiro: FEB, 2000. pt. 2,
cap. XVIII, item 221.
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