Por Morel Felipe Wilkon
Para o espiritismo, o orgulho é o pai de
todos os males, é ele que desencadeia todos os outros defeitos. Não é difícil
constatar essa verdade. É por orgulho que discutimos, é por orgulho que
brigamos, é por orgulho ferido que nos magoamos, é o orgulho que dificulta o
perdão.
É interessante notar que o orgulho é um
exagero do amor-próprio, e o amor-próprio é necessário; você deve amar a si
mesmo. Mas o orgulho exagera esse sentimento, que deixa de ser amor para se
transformar numa coisa doentia.
Existem o bom e mau orgulho. É que a
linguagem humana não tem palavras suficientes para expressar tudo. O bom
orgulho seria o orgulho que se tem dos filhos, o orgulho do lugar onde se
nasceu, a satisfação consigo mesmo.
O problema é saber os limites desses
sentimentos. Eu tenho orgulho dos meus filhos. Mas não posso achar que eles são
melhores que os outros. Eu sou patriótico, mas não posso transformar isso em
nacionalismo. Fico muito satisfeito comigo mesmo quando consigo realizar o que
me proponho. Mas tenho que tomar cuidado para não me achar mais do que sou na
verdade.
Talvez a manifestação mais comum do orgulho
no dia-a-dia seja o não saber perder. Isso acontece todos os dias. Não queremos
perder nada pra ninguém, não aceitamos ser preteridos em nada. Você não é
assim? Você não quer perder uma discussão, você não quer que o outro carro
ultrapasse o seu, você não quer perder a promoção na empresa, você não
quer perder o namorado, você não quer que o seu time perca, você não quer
perder nem par ou ímpar.
É claro que devemos ser competitivos. É bom
querer ser sempre mais e melhor. Mas para isso não precisamos esmagar quem está
por perto. E não podemos competir por competir.
Por que dói tanto ficar para trás? Por que é
tão amargo o gosto da derrota? Porque na maioria das vezes perdemos pra nós
mesmos, e é extremamente difícil reconhecer nossas falhas, nossas fraquezas,
nossa incompetência. Por causa do orgulho.
Quer uma demonstração disso? Lembre-se da
última vez em que você discutiu com alguém. Lembra que você revidou as
críticas? Você já parou pra pensar porque sempre se revida a crítica num
bate-boca? Para evitar que ela se repita. Revidamos imediatamente a crítica
para não termos que ouvi-la de novo. Porque se prestarmos atenção à crítica,
teremos que olhar pra dentro de nós mesmos. E nada fere tão profundamente o
orgulho como olhar pra dentro de si mesmo.
Se você olha pra dentro de si mesmo, se você
se vasculha interiormente, descobre montes de lixo que o orgulho não aceita
como sendo seus. É o orgulho que nos impede de olhar pra dentro de nós mesmos.
Pelo orgulho, nos achamos grande coisa, nos achamos muito mais do que somos na
verdade.
Não é de um dia pro outro que vamos nos
livrar de um defeito que nos acompanha há milênios. O orgulho é uma verdadeira
chaga na tragetória do espírito imortal. Mas não podemos mais ser
condescendentes com nós mesmos. Não temos, na atual reencarnação, a desculpa da
ignorância, do desconhecimento. Então já passou o tempo de dizer, simplesmente,
“eu sou assim”. Você é assim? Pois deixe de ser! (Não se aborreça; essa última
frase eu disse pra mim mesmo, me olhando no espelho que tenho à minha frente).
Não há fórmula mágica para se livrar de um
defeito tão entranhado em nosso espírito. É um exercício diário. Analise mais a
si mesmo, faça boas leituras, seja mais tolerante. Aceite perder, de vez em
quando. Você é especial, não há dúvida em relação a isso. Mas todos são
especiais. Todos somos filhos de Deus, criados à sua imagem e semelhança; portanto,
perfectíveis. Reforma íntima é um hábito. É a escolha de uma vida.
0 Comentários