QUANDO DESENCARNAMOS TEMOS A CONSCIÊNCIA DE NOSSO ESTADO?

por: Ricardo Guelfi de Souza - TV MUNDO MAIOR

Apesar de já ter desencarnado inúmeras vezes, pensar na morte ainda demonstra algumas características errôneas de um possível fim. A despedida inesperada com uma sensação de adeus perpétuo e não um simples até logo.

O estado de perturbação espiritual, principalmente após uma morte violente, pode fazer com que o espírito não entendo os acontecimentos, não recobre a memória, e pior, podem fazer com que o espírito viva situações criadas pela sua consciência, como se estivessem encarnados.

O conto abaixo retrata a história de Mateus e sua mentora espiritual Clarissa. Em uma ambiente alegórico, criado pela consciência de Mateus, ambos irão refletir sobre a passagem do jovem, onde o espírito guia irá ajudar o recém desencarnado a sair do estado de perturbação espiritual.

A Estação

Mateus?

Foi no instante em que percebeu a realidade. Seu nome ecoava ante a grande arquitetura. Uma estação de trem executada em aço e vidro davam a forma exuberante e a transparências e luminosidade, fatores que compunha a paz envolta pelo leve som dos ventos nas árvores do entorno.

—Olá Mateus.

A mulher sentou-se ao lado do jovem. Eles estavam em um banco de ferro num tom de azul claro, ornamentos em espiral nas extremidades do banco.

—Clarissa, prazer.

Mateus continuava confuso, olhou para o telhado da estação. As ferragens transformavam o topo do prédio em vários triângulos. Com os vidros, a claridade do sol invadia cada canto do enorme e limpo galpão.

A estação se manteve vazia desde que o garoto pode perceber sua presença naquele banco. Olhava para todos os detalhes expressando sua característica de observador.

Reparou também em suas roupas brancas e leves, material similar ao das roupas de Clarissa que vestia uma túnica com detalhes em dourado. Notou então que deixava de usar sua camiseta e calça que estava antes.

—O que faço neste estação, Clarissa? -Pela primeira vez durante todo o tempo daquela cena, Meteus se pronunciou.

—Eu sou uma amiga e vim te acompanhar nesta viagem.

O olhar de Mateus ainda estava penetrante, porém perdido em seus próprios pensamentos. Sua confiança em Clarissa aumentava a cada instante que estavam um perto do outro.  

—Vamos pegar um trem e viajar? Qual será o destino?

Clarissa tocou na mão de Mateus, se aproximou e com sua voz suave e serena perguntou:

—Você não se lembra do acidente?

O toque de auxílio e as palavras foram como um gatilho para a memória de Mateus. Em flashs as imagens surgiram em sua mente. Mateus morrera em um acidente de carro na viagem que fazia para visitar seus tios e primos do interior.

O jovem pôs-se a chorar de forma intensa e seus pensamentos ficaram agitados. Os ventos que balançavam as copas das árvores ficaram mais agressivos, nuvens escuras tamparam a iluminação em instantes e o único brilho da estação era o emanado por Clarissa em seus pontos dourados.  

—Mateus, acalme-se. Eu estarei aqui com você, da maneira que estive em silêncio por toda a sua vida como o menino Mateus.

Aos poucos Clarissa foi acalmando o espírito recém desencarnado e a paz retornou a estação de trem.

—Quem é você, Clarissa?

—Eu sou sua mentora, como uma tutora espiritual. Eu te auxilio a algum tempo, e nesta encarnação estivemos mais próximos.

Agora a situação começara a fazer mais sentido para Mateus que lembrar de alguns ensinamentos ao ouvir a palavra encarnação.

—Minha família é espírita. – Aquela afirmação era praticamente a aceitação de seu estado. – Então eu morri, não é mesmo? Eu desencarnei, Clarissa.

É comum, no estado de perturbação espiritual, o espírito recém desencarnado demorar para recobrar a memória e a plena consciência de seu atual estado. Quando a energia de Mateus se estabeleceu, Clarissa, sua mentora, pode se aproximar do espírito do jovem que tinha sofrido de um desencarne rápido, porém violento.  

—Se eu desencarnei, onde eu estou?

A pergunta do jovem era pertinente em relação aos fatos decorrentes de seu desencarne.

Estavam indo viajar Mateus e sua irmã, eles iriam passar as férias de verão na fazenda de seus tios no interior. Quando seus pais o levavam para a estação de trem, um carro desgovernado bateu no veículo da família. Todos os envolvidos ficaram levemente feridos, exceto Mateus que desencarnara no mesmo intense. Quando os paramédicos chegaram, constataram sua morte.

O espírito de Mateus acompanhou todo o processo do luto de sua família, assim como seu enterro, sem perceber que estava se tratando de si próprio e os dias que sucederam o acidente foram horríveis, principalmente para sua irmã.

Mateus ainda pensava na viagem, na casa de seus tios e primos e no trem que pegariam para a cidade do interior. O espírito do jovem de 21 anos de idade ficará condicionado no estado de perturbação espiritual de sua consciência a tal modo que Mateus sentou na estação e lá esperou até aquele momento, até o chamado de sua mentora Clarissa.

—Você está esperando o trem Mateus. Eu vim ajudar em seu embarque.

—Para onde nós vamos Clarissa? Vou ver meus pais?

No fundo o jovem sabia que não os veria por um tempo, e também sentia que precisava de ajuda e estar perto de sua mentora o fazia bem.

—Você lembra de sua avó Teresa? Ela disse que está com saudades.

—Vó Tereza.

O sorriso de Mateus não apenas despertava esperanças em Clarissa de resgatá-lo, mas as lembranças de sua avó fizeram com que a estação começasse a virar luz. Os vidros começaram a cair e ao se chorarem com o chão se transformavam em radiantes feixes de luz.

Cada estrutura destruída era uma luz ou um esclarecimento a mais dentro do espírito de Mateus. Era possível ver mais de perto as árvores e ouvir o vento em cada folha tremulando nos galhos. Essa barulho foi breve. O apito do trem se aproximava, cada vez mais perto, cada vez mais forte.

Quando a última estrutura metálica da estação caiu nos pés dos espíritos, eles se levantaram, e assim como a peça destruída o banco de desfez em luz e calor. Foi questão de instantes, um breve olhar. O trem estava lá, como ele esperava.

As portas dos vagões se abriram. A Maria-Fumaça dera o apito de parada. Clarissa estendeu as mãos ao trem mostrando à Mateus. Quando ele olhou, seguindo a mão de sua mentora, pode ver a capa branca esvoaçada em meio ao cenário de luz.

Mateus correu para o abraço de sua avó. Ambos pouparam as palavras, pois apenas sentiam.

Clarisse os envolveu em seu braços. O amor transbordando em energia luminosa e acalmava aquele cenário. Foi quando a mentora, olhando para o jovem, disse:

— Podemos ir Mateus. Seu Trem Chegou.

Os espíritos subiram no vagão. As portas se fecharam e o trem apitou três vezes. Sua partida foi magistral em meio as árvores e a luz que envolvia a passagem do jovem Mateus para o plano espiritual com o auxílio de sua mentora e de sua avó.


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